ESTRELAS SANGRENTAS

As naves auxiliares da Suprema Confederação, tripuladas pelos sobreviventes da nave estelar do capitão Q’rq; pairavam sobre Menfis em apoio a um grupo de comandos no solo, que pretendia invadir o Conselho, capturar os terrestres e tomar suas naves.

Aldo e Alan saíram atirando nos atacantes. Correram às suas naves enquanto Aldo solicitava apoio aéreo pelo radio de pulso. Em minutos as esquadras da Amarna e da Hércules apareceram atirando nas naves confederadas.

–Tom, Ivan e Simon, ataquem as três que estão ao norte!

–Sim, capitão! – respondeu Ivan Kowalsky.

–Jacques, ataque ao leste e leve os fuzileiros taonianos.

–Oui, Monsieur.

–Adolphe, você e Wassermann desembarquem os comandos hiperbóreos ao oeste e não deixe o inimigo tomar a companhia de luz.

–Oui, Monsieur.

–Ives, você e Nig, desembarquem os fuzileiros marcianos no armazém sul.

–Oui, Monsieur.

Em segundos, Alan e Aldo abordaram suas patrulheiras decolando em meio dos cadáveres dos revoltosos. Os confederados nunca esperaram tanta resistência. Para eles, estes visitantes não pareciam tão poderosos.

Tom Cikutovitch soltou um míssil numa das navezinhas e metralhou os soldados no solo. Estes estavam protegidos com armaduras resistentes a laser e plasma, mas não contra balas de urânio calibre 50.

Logo constatou mais de trinta mortos e nenhum sobrevivente, e foi ajudar os amigos. Não precisavam de ajuda. Kowalsky dera conta de duas naves e varias dezenas de seres.

Em seguida ambos foram apoiar Simon Gart; que havia enfrentado duas navezinhas, uma das quais já estava queimando nos arredores da cidade e perseguia a outra que tomava altura e acelerava para fugir, ao ver todos os companheiros mortos no solo.

–Nave de dobra! – disse Simon – não tenho como alcançá-la! Atirar! É agora ou nunca!

Os três soltaram mísseis ao mesmo tempo, enquanto as bobinas da navezinha começavam a brilhar, numa temerária e louca tentativa de entrar em dobra ainda dentro da atmosfera, desespero que poderia derivar num desastre. Mas era tarde, foi atingida e começou a cair em pedaços, antes de desaparecer numa luz atômica.

–Conseguimos, camaradas – disse Ivan Kowalsky.

–Vamos ver como estão os outros – disse Tom – Como estão de munição?

–Só o laser – disse Ivan.

–Eu também – disse Simon.

–E eu, mas vamos assim mesmo – disse Tom.

Os três ases do espaço viraram em redondo e retornaram à superfície, enquanto a modesta Força Pública de Menfis enfrentava como podia nas ruas da cidade; os revoltosos confederados, muito melhor armados, apavorando as pessoas comuns, que corriam a esconder-se.

Quando parecia tudo perdido para os nativos, os fuzileiros taonianos atacaram por trás, com o que o inimigo ficou entre dois fogos. Sendo eliminado em seguida. Terminaram todos mortos, sem aceitar render-se.

Os nativos apavorados, terminaram vitoriando os vencedores.

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Na Companhia de Luz, os soldados nativos, estavam desesperados, enfrentado os confederados que marchavam a pé e atirando, protegidos pelo fogo da nave auxiliar. A situação era desesperadora. Então apareceu Adolphe D’Hastrel na sua patrulheira soltando um míssil na navezinha confederada, que explodiu.

Adolphe pousou verticalmente na retaguarda do inimigo e desembarcou os comandos hiperbóreos, que saíram atirando. Com os inimigos imobilizados entre dois fogos, logo apareceram os caças rociando laser encima destes.

Enquanto isso, no Armazém Sul, principal depósito de grãos de mim-dar de Menfis; que estava bem guardado, devido à sua importância; os nativos estavam levando a pior, quando Ives de Saint Hilaire e Nig Varnán pousaram a patrulheira e desembarcaram os fuzileiros marcianos. O tiroteio foi tão terrível e tão rápido, que os confederados morreram quase todos.

Afinal os marcianos fizeram três prisioneiros e capturaram armas e a nave auxiliar, que não teve tempo de decolar.

*******.

Os confederados acharam fácil apoderar-se das fontes de água potável da cidade. Ledo engano. Não contaram com o explorador H-1, grande e ameaçador, na sua estreia em combate, descendo dos céus junto com a patrulheira de Aldo, o próprio, armado a guerra, à frente dos caçadores vurians e os terrestres da Hércules, comandados por John Marnes, o contramestre, que desembarcaram atirando.

De imediato, a enorme nave auxiliar desembarcou o tanque pesado tripulado por Grubber e Báez, e elevou-se, pilotada por Nebenka, esposa do doutor Valerión. O combate não chegou a durar meia hora.

Os confederados não eram amadores e tinham bom armamento, mas foram pegos de surpresa, já que não podiam imaginar que em algum lugar de este sistema triplo, alguém pudesse resistir à Suprema Confederação. Mas seu destino era previsível.

Lutaram com honra até a morte.

*******.

Depois da completa derrota dos revoltosos confederados, os poucos prisioneiros capturados foram confinados em Menfis.

–Serão devolvidos a seus planetas – tinha dito Aldo ao Conselho – por enquanto ficarão aqui até se acalmarem.

–E os oficiais confederados? O capitão Q’rq e o segundo L’rko? – disse A’ho.

–Vou desembarcá-los aqui. Vocês poderão cuidar deles melhor do que nós, que não sabemos o que eles comem ou bebem.

–De acordo. Será melhor até para acalmar os outros prisioneiros.

–Se, como esperamos, há uma nave estelar confederada a caminho; vamos entregar os prisioneiros a eles para chegar a um entendimento, Aldo.

–Duvido, Alan, mas não custa tentar.

–Agora vamos tomar posse das armas deles e das naves auxiliares que sobraram, Aldo – parece que são de dobra.

–Temos pouco tempo para isso, mas é necessário – concordou Aldo – vamos chamar alguns dos nossos tripulantes para ajudar.

–Sim.

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04 de novembro de 2020 (201104)

A nave estelar confederada, era enorme, em forma de ovo com duas nacelas e uma torre em forma de disco na parte superior, sem dúvida a ponte de comando. Seu comprimento era de mil e quinhentos metros por trezentos de largura.

Com uma tripulação de 5.971 seres, a maioria de D’Har-Minh, segundo dados que Lilla Henna conseguiu descobrir, era uma belonave de guerra com hangares de caça e cabotagem com diversas naves auxiliares, algumas de dobra. Possuía um enorme canhão na parte superior em forma de prato.

–Um canhão positrônico – disse Lilla Henna – muito perigoso, se conseguirem apontar em nós, podem nos destruir com um só disparo.

–Preparar manobras evasivas ao meu comando! – disse Aldo.

-Aguardando – respondeu Nebenka.

–Estão chamando, Aldo – disse Inge.

–Na tela.

Em seguida apareceu a imagem do capitão confederado, um ser humanoide, de olhos grandes e cinzentos, pele azul claro e cabelo brilhante de tão branco. Sem dúvida um descendente dos ariones originais.

–O quê vocês são? Xawareks? – perguntou em língua raniana.

–Somos de Xarn, terceiro planeta de Ra – respondeu Aldo na mesma língua.

–Está mentindo – replicou o outro – vejo uma fêmea xawarek com você.

–Minha primeira oficial – disse o terrestre – e estou pouco ligando se não acredita em mim. Queremos parlamentar em paz.

–Não haverá parlamento. Vocês são uma avançada xawarek invadindo um planeta confederado, destruíram uma nave confederada.

–Eles atiraram primeiro. O capitão e o segundo, estão em segurança em Erspak, junto com os sobreviventes.

–Vocês vão pagar por isso – disse o confederado cortando a comunicação.

Logo abriram os hangares e surgiram caças e naves auxiliares atirando, enquanto o enorme canhão positrônico começava a energizar.

–Levantar escudos, carregar phasers, armar torpedos! – ordenou Aldo.

Logo o inferno desatou-se no espaço imediato ao planeta Erspak.

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Estrelas sangrentas.

–Postos de batalha, carregar phasers, armar torpedos! – ordenou Huáscar.

A Amarna foi veloz a enfrentar a enorme nave, com indecente petulância, ao perceber que se abriam os hangares do inimigo para lançar caças e outras naves maiores, sem dúvida de cabotagem e armadas, talvez de dobra.

–Disparar phasers à vontade! – ordenou Huáscar – soltar caças!

Desatou-se o inferno.

A Amarna disparou com todas suas bocas de fogo, sobre o inimigo e os caças; acossados também pelas navezinhas triangulares sirianas.

O inimigo defendia-se com torpedos, prontamente destruídos pelo phaser da Amarna ou detidos pelo escudo da mesma, o que não acontecia com os disparos da nave siriana que começaram a enfraquecer as defesas inimigas.

–Temos que destruir o canhão deles, antes que consigam energizá-lo e foca-lo em nós! – disse Huáscar.

–Como ?

–Por trás mestre Alan. Pacha! Dois graus a estibordo! Impulso total!

–Se consegue esquivar as baterias phaser, eu acerto um torpedo fotônico nele, Pacha! – disse Alan.

–Será difícil, mestre Alan –disse o piloto.

–Do tiro me encarrego, Pacha. Você pilote.

–Lá vamos nós! – disse o tigre Pacha.

Sem dar importância aos caças inimigos, a Amarna manobrou agilmente, procurando ângulo para disparar na traseira do enorme canhão capaz de destruir cidades inteiras, que já estava energizando-se e apontando à Hércules. Em uma fração de segundo, Alan conseguiu enquadrar e disparar.

O torpedo partiu em impulso máximo e a nave girou sobre si mesma, afastando-se rapidamente da explosão iminente. A silenciosa explosão destruiu o canhão na nave inimiga e parte da mesma, que começou a apresentar falhas em toda sua estrutura. Milhares de seres morreram instantaneamente.

A ponte de mando separou-se da estrutura principal girando sobre si mesma, com seres em pânico no seu interior. Os pilotos de caça confederados estavam agora em desorganização total, sem chefes vivos para comandá-los, servindo de pasto para os caças da Amarna e da Hércules que agora estava disparando nos restos na nave confederada.

Duas naves de cabotagem renderam-se, outras seis apresentaram batalha, mas foram rapidamente dizimadas pelos caças, menos uma que fugiu, sendo perseguida por Tom Cikutovitch, mas a navezinha entrou em dobra e desapareceu no subespaço.

A Hércules conseguiu resgatar muitos sobreviventes, antes que as sucessivas explosões que sucediam-se nos restos da belonave terminaram por consumi-la.

Finalmente retornaram a órbita de Erspak.

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O conselheiro A´ho estava abismado:

–Destruída! – murmurou – Uma belonave armada da Suprema Confederação destruída por um bando de mercenários e piratas! Porque isso é o que vocês são!

–Correção, conselheiro! – interrompeu Alan visivelmente irritado – Nós não somos piratas nem mercenários, nem mesmo “um bando”!

Alan estava de pé na grande sala do Conselho, perante os conselheiros, com as mãos tocando as culatras das pistolas em atitude ameaçadora.

–Então por que atacaram os confederados? – a voz de A’ho tremia de puro terror – Isso servirá para atrair mais a atenção deles sobre nós! Duas naves destruídas! Será nosso fim por tê-los acobertado!

–Eles não aceitaram parlamentar e foram atirando! – disse Alan.

Aldo e Valerión chegavam nesse momento para ouvir a conversa.

–Vocês estão metidos na nossa encrenca até o pescoço – disse Aldo – portanto são obrigados a ir até o fim.

–Mas o que vocês pretendem?

–Queremos expandir-nos e sacudir-nos do protecionismo confederado.

–Para cair nas garras de Alakros – disse A’ho mordazmente.

–Não, conselheiro não gosto deles – disse Alan – mas, quando estive em Boral, vi o progresso que Alakros trouxe aos boralianos. O que a Suprema Confederação tem feito por nós? Meu planeta, Ra-3, foi abandonado à sua sorte por mais de dez mil anos nos nossos. Ra-4 outro tanto. Ra-9 só servia de entreposto de abastecimento dos produtos de Ra-5. Só de Taônia na lua Gopak Uio de Ra-6, ninguém se lembrou.

Alan fez uma estudada pausa antes de prosseguir:

–Não quiseram tomar conhecimento de que aí estava o Imperador Tao, legítimo governante deste setor do quadrante.

–Em resumo, vocês vão nos entregar a Alakros – disse A’ho.

–Não – disse Alan – Queremos a Restauração do Império Raniano, e nos unir com vocês para fortalecer-nos todos.

–Também queremos que os xawareks e xelianos se liberem do seu líder, Tupac, marionete dos alakranos e dominions – interveio Aldo – para aliar-se a nós.

–E a Suprema Confederação?

–Nós queremos que a Suprema Confederação se dane! – gritou Aldo.

–Os confederados se encarregaram de que este setor do quadrante se esquecera de Ran – interveio o Dr. Valerión.

–Os ranianos eram grandes guerreiros, honrados... – disse o conselheiro mais velho – dominaram uma vasta esfera... Mas agora tinham sido recluídos ao sistema original... Como foi que ressurgiram?

–Nós, de Xarn, Ra-3, descobrimos nossas raízes ranianas junto com alguns irmãos de outros quatro mundos do nosso sistema – disse Alan.

–Nós queremos saber se vocês se consideram ranianos também, já que temos uma origem comum – disse Aldo.

Os conselheiros nativos trocaram olhares furtivos com seu medo latente flutuando no ar. Nesse meio tempo começaram a entrar silenciosamente alguns membros das tripulações da Hércules e da Amarna.

–Não há duvida do fato!– disse apressadamente A’ho – Mas estamos numa encrenca gratuita...! O que será de nosso mundo quando chegarem as naves da Suprema Confederação? Como explicar aos nossos filhos o parentesco de nossas raças quando as bombas começarem a cair?

Aldo e Alan trocaram olhares com o Dr. Valerión.

Este acariciou sua barba com imprudentes fios brancos que teimavam por assomar, e disse:

–Senhores, nós já saímos de encrencas piores, já derrotamos os kholems que vinham nos invadir com um enorme autoplaneta, e os destruímos com nossas forças combinadas. Nada mais tenho a dizer.

Aldo interveio:

–Temos que saber agora mesmo se nós podemos contar com a vossa ajuda e apoio. Precisamos estabelecer nossa logística aqui.

Os conselheiros entreolharam-se. Alan acariciou suas pistolas, os marcianos abraçaram seus fuzis, os xawareks e xelianos abaixaram suas orelhas e arrepiaram os pelos, rosnando com suas armas nos coldres. Terrestres, boralianos, e taonianos sorriram acariciando suas armas.

Aldo lembrou novamente as palavras de Valerión anos atrás:

“–Aqui fomos rápidos no gatilho, fomos demasiado arrogantes. Lá fora deveremos ser medrosos, Aldo, muito medrosos.”

E arrepiou-se ao compreender que não tinha obedecido.

A decisão unânime do conselho o tirou desses pensamentos:

–Erspak une-se à Restauração!

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Continua em: GUERRA IMINENTE

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O conto ESTRELAS SANGRENTAS - forma parte integrante da saga inédita Mundos Paralelos ® – Fase II - Volume IV, Capítulo 36; páginas 161 a 165; e cujo inicio pode ser encontrado no Blog Sarracênico - Ficção Científica e Relacionados:

http://sarracena.blogspot.com.br/2009/09/mundos-paralelos-uma-epopeia.html

O volume 1 da saga pode ser comprado em:

clubedeautores.com.br/book/127206--Mundos_Paralelos_volume_1

Gabriel Solís
Enviado por Gabriel Solís em 10/04/2017
Reeditado em 03/02/2020
Código do texto: T5966950
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