PLANETA CONFEDERADO

01 de novembro de 2020 (201101)

O alferes Lobsang Dondup, agora com 20 anos, era o chefe dos grumetes, tutor e treinador em artes marciais das crianças da nave. Seu dom de clarividência era levado em conta por Aldo. Sempre lhe dava ouvidos:

–Tem alakranos por perto. Sinto que estão num mundo poeirento e seco, um mundo quente, com alguns mares pequenos e rios bordeados de mato...

–Deve ser Zhoropak, capitão – interveio Lilla Henna – um mundo classe Etar.

–Estão chamando do planeta lá embaixo – disse Inge.

–Na tela.

Em seguida apareceu um rosto humano, branco de olhos e cabelos claros; ricamente vestido, sem dúvida um figurão de Erspak, acompanhado por outro humano com as mesmas caraterísticas.

–Pode falar, senhor, eu sou Aldo, capitão da Hércules de Ra.

–Eu sou N’ol, e dirijo a defesa deste mundo. Meu acompanhante é N’pak, meu chefe de segurança aérea. Não queremos encrenca com vocês.

–Nós tampouco queremos encrenca – disse Aldo – queremos ser deixados em paz. Estamos apenas conhecendo este sistema, e já estamos de saída para explorar outros destes diversos mundos.

–Será melhor para todos. Vocês destruíram uma nave confederada, estamos com os sobreviventes aqui, que afirmam que vocês mantêm prisioneiros o capitão Q’rq e o comandante L’rko.

–Sim, eles estão conosco, como garantia que não seremos atacados.

–Sabemos que foram percebidos e que uma nave confederada está a caminho.

–Também sabemos.

–Serão atacados se não liberarem os prisioneiros...

–Seremos atacados se os liberamos – respondeu Aldo – eles são nossa garantia.

–Seremos prejudicados se houver combate, nós somos neutros, nossa produção de alimentos é nossa riqueza, que exportamos para eles; não temos frota estelar, não temos muito armamento, somos agricultores. Os sobreviventes da nave confederada estão nos pressionando para que os obriguemos a devolver os prisioneiros e os expulsemos daqui, coisa que não temos condições de fazer.

–Não se preocupe – disse Aldo – vamos partir logo.

–Devemos avisá-los do perigo – disse N’pak.

–É verdade – disse N’ol – há dias outra nave confederada foi atacada neste sistema, e vocês são suspeitos. Foi perto de Zhoropak.

–Nós nem passamos perto de Zhoropak – disse Aldo.

–Os tripulantes sobreviventes estão debatendo isso – disse N’ol – alguns deles acham que há espiões alakranos em Zhoropak.

–Também achamos – disse Aldo.

–Os confederados nos vão obrigar a combater vocês, se voltarem a descer aqui, como me disseram os sobreviventes – disse N’pak, e acrescentou:

–Do contrário seremos ocupados por eles, que já não gostam muito da nossa neutralidade e pacifismo, em relação à política confederada.

Aldo e Lilla Henna trocaram um olhar de inteligência: “Esse é o ponto fraco que estamos procurando para restaurar o...”

–...Império Raniano? – completou Lobsang lendo suas mentes.

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Erspak – 02 de novembro de 2020 (201102)

A sede central do Conselho de Colonos que governava Erspak estava na cidade industrial de Mênfis. Uma cidade semelhante em tamanho à cidade de São Paulo de 1988.

Estradas, ferrovias e um canal navegável escoavam a produção e as matérias primas em direção a um enorme posto de exportação junto a um grande astroporto, onde algumas naves cargueiras estavam estacionadas.

Velozes automóveis, caminhões, barcos, barcaças, aviões de carga, todos convergiam em Mênfis. Tudo para movimentar alimentos e outros produtos que eram exportados ou abasteciam a população de trabalhadores da cidade.

Outras cidades menores estavam espalhadas pelo continente equatorial e pelos outros continentes; rodeadas de campos de cultivo, minas, siderúrgicas madeireiras, aldeias de pescadores, caçadores e criadores de woks.

Era praticamente uma segunda Terra, com muitos lugares ainda virgens, como grandes campos, intrincadas florestas e selvas; grandes desertos arenosos e muito gelo nas enormes calotas polares.

A gravitação era 0,9 da gravitação terrestre. Um planeta tão produtivo como Vênus, embora mais adiantado. Um mundo bem interessante, onde os terrestres sentir-se-iam à vontade, se resolvessem ficar.

*******.

O Conselho estava reunido em sessão de emergência.

Finalmente os recém-chegados convenceram os nativos a parlamentar e estes os convidaram a descer. Aldo e Alan estavam receosos, mas essa ocasião era única.

Tinham pousado suas duas patrulheiras numa ampla explanada na frente do edifício do Conselho, um lugar onde alguns curiosos pararam para admirar as naves estranhas.

–Senhores Conselheiros – disse Aldo em perfeito raniano, embora algo arcaico para os nativos – nós viemos da Terra, terceiro planeta de Ra, conhecido como Xarn.

A revelação foi como um balde de água fria nos cinquenta conselheiros.

Alterados, consultavam-se, afirmavam, negavam, xingavam...

–Ordem! – disse A’ho, o presidente do Conselho – se for verdade o que este ser está dizendo, quer dizer que a Suprema Confederação tem mentido e Alakros está certo; há vida em Ra!

–O quê Alakros tem a ver conosco? – perguntou Alan.

–Alakros nos avisou respeito ao ressurgimento do Império Raniano!

–E como eles souberam? – disse Aldo.

–Há vários ciclos que Alakros espia o sistema raniano, sem o conhecimento da Suprema Confederação – afirmou A’ho.

Alan e Aldo trocaram um olhar. Alan sussurrou em espanhol:

–Estavam se organizando em Vênus e eu os expulsei, mas nada impede que tenham conhecimento de Taônia e da Terra. Havia uma nave deles por perto.

–Que vocês atacaram – disse Aldo.

–A Suprema Confederação afirma que seu sistema havia sido destruído – disse um conselheiro – e Alakros nos disse o contrario.

–Faltou pouco, mas ressurgimos – disse Aldo – Nosso Líder é o Imperador Tao, O Impiedoso, descendente direto do Grande Ramsés XVIII; e temos o Príncipe Angztlán, Cavaleiro do Cosmos, Conquistador de Mundos, como aliado. Se vocês conhecem história saberão de quem estou falando...

–Angztlán foi descongelado? – disse o mais velho dos conselheiros.

–Sim. Eu conversei com ele como estou conversando com você.

–Vocês vão trazer a guerra ao quadrante outra vez! – disse o conselheiro A’ho.

–Nós não queremos a guerra, conselheiro – disse Aldo – Nós queremos paz e o comércio com Erspak e os planetas do nosso sistema.

–E deixar de comerciar com a Suprema Confederação? – gritou um conselheiro lá nos fundos – Seria nosso fim!

–Vocês comerciam forçados? – disse Alan.

–E com quem vamos comerciar? Com os xawareks?

–Mas este mundo não é autossuficiente?

–Claro que é...! – bradou outro – Só que não temos naves estelares e todas nossas máquinas são importadas, só produzimos as peças para as industrias deles!

–E as naves que vimos no astroporto? – disse Aldo.

–Não são nossas – disse A’ho – são confederadas.

–Mas vocês têm excelentes industrias, segundo vi – disse Aldo.

–Temos gente muito capacitada – disse A’ho – mas nossa produção é para necessidades imediatas do dia a dia, ferramentas, veículos... Somos na grande maioria agricultores, artesãos e operários produzindo peças para serem montadas nos planetas confederados como maquinaria... Que depois importamos.

O silencio se fez no recinto.

Aldo e Alan trocaram olhares. Aldo disse:

–Quero propor algo: vocês também podem comerciar conosco, temos vários planetas habitados e luas colonizadas. Temos naves que podem fazer a diferença aqui, podemos trocá-las com vocês por alimentos e mantimentos para futuras colônias. Sim, os alakranos estão certos, estamos em expansão. Somos o novo Império Raniano, traremos fábricas de naves e máquinas, traremos cientistas de cinco planetas para desenvolver suas atuais indústrias, transformaremos Erspak um mundo poderoso.

Após um silencio prolongado, A’ho disse:

–Você tem autoridade para fazer todas essas propostas?

–Tenho.

–E poder...? Você tem poder?

–Tenho. Destruí o auto planeta dos kholems que estava vindo para nos invadir e destruir desde a estrela 819, setor 0.19 a 74 parsecs daqui. E depois que acabassem conosco pretendiam invadir e destruir vocês e todos os outros planetas mais fracos da Suprema Confederação. O quê me diz?

De novo houve uma confusão na sala.

Os conselheiros sem dúvida conheciam os kholems, considerados uma praga em toda a galáxia e talvez conheciam, por ter ouvido falar aos pilotos confederados, dos estragos ocasionados por eles nos mundos do quadrante. E este alienígena afirmava tê-los derrotado. Era muita informação para eles.

De repente entrou um guarda com um comunicador na mão, apavorado:

–Os sobreviventes confederados atacam a companhia de luz, o armazém sul e a companhia de águas!

Entrou um segundo guarda correndo:

–Estão atacando a explanada, querem apoderar-se das naves dos visitantes!

–Querem resgatar o capitão Q’rq e o comandante L’rko! – disse A’ho – bem que achei que era um erro deixar vocês pousarem! Trouxeram a guerra!

–Queria ver se eu tenho poder, senhor conselheiro? Agora você vai ver como tenho poder – disse Aldo – vamos Alan!

–Vamos – disse Alan sacando suas pistolas.

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Continua em: ESTRELAS SANGRENTAS

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O conto PLANETA CONFEDERADO - forma parte integrante da saga inédita Mundos Paralelos ® – Fase II - Volume IV, Capítulo 35; páginas 158 a 160; e cujo inicio pode ser encontrado no Blog Sarracênico - Ficção Científica e Relacionados:

http://sarracena.blogspot.com.br/2009/09/mundos-paralelos-uma-epopeia.html

O volume 1 da saga pode ser comprado em:

clubedeautores.com.br/book/127206--Mundos_Paralelos_volume_1

Gabriel Solís
Enviado por Gabriel Solís em 07/04/2017
Reeditado em 07/04/2017
Código do texto: T5964160
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