A Maçã

Uma criança furtou uma maçã e comeu. O dono da mercearia o localizou e, como punição, cortou-lhe a mão. Um homem sábio, que chegava ali enquanto o dono da mercearia costurava o ferimento, questionou o homem porque fizera aquilo. Ao que recebe a resposta de que aquela era a punição por furto, e que aquilo era justiça.

Inconformado com a noção de justiça daquele homem, o homem sábio busca a criança e conversa com ela. A criança lhe conta que não furtou por estar com fome, mas que nunca havia comido uma maçã, embora soubesse que era errada a sua atitude. A criança ainda chorava enquanto o homem sábio lhe advertia, dizendo que ele não havia sido justo com o dono da mercearia ao furtar a maçã.

Então o homem sábio retirou de sua bolsa uma maçã, ainda mais vermelha, bonita e suculenta do que a criança furtara, e a entregou. Os olhos da criança brilhavam ao receber a maçã, e o homem sábio, com olhar firme e sorridente, o disse:

– Tu sabes o que fazer.

A criança o olhou, e com pesar, disse que não poderia ir à mercearia sozinho, pois apanharia de novo. O homem sábio então disse que poderia acompanhá-lo, mas que aquilo era algo que ele deveria fazer por si só. A criança, ainda relutante e receosa, por confiar no homem sábio, concordou, e partiram.

Chegando na mercearia, o dono, de prontidão, tenta expulsar a criança. Mas o homem sábio o impede falando que a criança não estava ali para furtar. A criança saiu de trás do homem sábio e ofereceu ao senhor a maçã que mais cedo tinha ganhado. Seus olhos em lágrimas, enquanto o senhor rispidamente dizia:

– Depois de perder a mão, vira gente.

O homem sábio, estupefato com o pensamento do dono da mercearia, o corrigiu de imediato:

– Não é por perder a mão que a criança chora – e virando-se para a criança, a indaga – Por que choras?

– Meu pai sempre me dizia que um homem tem que aceitar as consequências de suas ações, e o senhor me ajudou nisso – foi a resposta da criança em meio a lágrimas e soluços.

O homem sábio o questiona sobre o pai, ao que a criança o explica que seu pai morrera em guerra. Disse ainda que esse era o primeiro momento em que ele chorava de alegria após essa morte, pois se sentia digno das palavras que outrora ouvira do seu pai.

– Teu conceito de justiça está errado – o homem sábio se direciona ao dono da mercearia – tu perdeste uma maçã e retirou da criança, uma mão. Mas agora que a criança, agindo de forma justa, lhe devolveu a maçã, poderias tu devolver-lhe a mão?

E, enquanto saía com a criança, o homem sábio conclui:

– Justiça não se restringe a mera equivalência semântica, ou a critérios convencionados. Justiça é a equivalência etérea entre escolha e fim.

Mateus César
Enviado por Mateus César em 16/08/2017
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