O VELHO MARINHEIRO

--Capitão, disse o imediato, teremos em nossa proa dentro de pouco tempo ventos sudoeste de 30 nós com ondas superior a 15 pés...

Após longa baforada em seu cachimbo, sentenciou o capitão...

Leme 15 graus a esquerda, velocidade 1/3

Assim era a vida do Capitão, solitária? Não, tinha sempre o velho Capitão seus pensamentos e lembranças de tempos outrora como companheiros.

--Imediato....Transfira parte do combustível dos tanques de bombordo para estibordo, a metade será o suficiente para evitarmos que a nau aderne.

Curioso esse Capitão, ao invés de permitir que marinheiros assumissem as tarefas do barco, estava sempre o Capitão em seu posto afim de garantir a segurança e o bem estar de todos, de tripulantes a passageiros.

Em sua preocupação de cumprir a obrigação e assegurar tranqüilidade no barco, da sala das máquinas até o convés de proa, lá estava o Capitão apostos na ponte de comando.

Com muita determinação pouco dormia e breve eram suas refeições.

O Capitão era homem dedicado, procurava sempre seguir as regras segundo sua consciência.

Notava-se claramente que a quem menos o obstinado Capitão dispensava cuidados e atenção era com ele próprio.

Sua preocupação estava sempre voltada aos que dependiam dele, fosse em águas calmas ou mar revolto, ele o Capitão estava sempre em segundo plano.

Na maioria das vezes agia de forma correta, mas quando errava, reconhecia e, se prontificava a reparar o erro, humilde, mas sem perder a dignidade e altivez.

Numa noite escura, de quarto minguante, noite de virada de lua, 13 de setembro, mar revolto, frio, ventos fortes, todos tranqüilos dormiam, pois confiavam no Capitão.

Ondas violentas arrebentavam contra a quilha a ponto de subirem ao tombadilho.

Do nada, como que por um passe de mágica o mar o vento as ondas tudo se acalmou. O tempo parou.

Do interior de um amplo clarão circundado por um espesso nevoeiro pôde o velho Capitão divisar a silhueta de uma bela sereia.

Extasiado diante de tão rara beleza a encher-lhe os olhos, lançou rede na intenção de apanhar tão iluminada figura que flutuava na crista das ondas.

Em pouco tempo lá estava ela a bela Sereia a cobrir de encantos o velho lobo do mar.

Descrever a sereia torna-se desnecessário, muitos já o fizeram....Era bela.....

Envolvido nos braços carinhosos, beijos ardentes, estava o velho Capitão.

...E foram tantas carícias...O cansado coração agora aquecido pulsava desenfreado, o ar parecia não ter oxigênio suficiente, obrigava-o a respirações profundas, para poder acompanhar a velocidade com que o sangue corria nas veias...Não só o peito mas nesse instante todo o corpo do Capitão tremia.

E ele baixou a guarda, largou a nau sem rumo, fora de rota, não só o navio, o Capitão também ficou a deriva, pilotado belas suaves mãos da amável sereia.

Naquele momento nada mais importava, seu coração sentia o calor que a muito havia esquecido.

As carícias da Sereia fizeram com que o obstinado Capitão de tudo se esquecesse, ventos, ondas, escuridão,

O perigo não mais existia....

Após longos anos o Capitão queria apenas viver aquele momento. Com muito dengo o velho comandante não sabia o que fazer para agradar aquela figura feminina, afim de poder desfrutar de momentos tão inebriantes, tamanho era o êxtase que o envolvia. O sangue fervia.......

No horizonte do silencioso mar, despontou o ruidoso sol, como a lembrar o Capitão de suas obrigações.

Antes que a primeira gaivota abrisse as asas e cortasse o ar, estava o Capitão de mãos vazia . Apenas o perfume da bela Sereia se fazia presente.

Quando os olhos do Capitão procurou encontrar os da Sereia nada encontrou.

Ao amanhecer estava aparentemente firme o Capitão no comando do barco, de braços vazios e olhar vago.

Ao divisar uma pequena ilhota que de tão ínfima nem constava nos mapas, sobre a pedra ao pé de uma palmeira, encontrava-se uma sapinha segurando em uma das mãos um lenço branco, agitando em sinal de Adeus que já prenunciava uma saudades, mais uma lembrança a qual recebia o nome de bela Sereia para atormentar as noites solitárias do velho Capitão.

A sapinha, que já não era mais uma sereia olhando para o navio que singrava as ondas, ainda se fez ouvir pela ultima vez....

--Capitão prossiga sua rota em direção ao porto, lance as amarras, não posso acompanhá-lo nessa viagem.

A mim cabe ficar aqui nesta remota e pequena ilha solitária... a espera de algum marujo que possa se interessar por mim...... Você Capitão não é homem de abandonar seu navio, reconheço que não faço parte do diário de bordo, não posso acompanhá-lo nessa viagem..... Adeus.....