FIM DE AGOSTO
Marcos não estava entendendo o porquê de ninguém se importar que não existia mais o mês de agosto. Ontem: 31 de julho. Hoje: 1 de setembro. Não mais nove, e sim, oito. Não mais doze meses, e sim onze. Aparentemente, o mundo continuava na sua rotação completa: nem mais rápido, nem mais devagar. O fato era que o mês do cachorro louco havia se findado. Sem explicação. Os calendários que haviam em casa já não o traziam impresso: claramente só notou agora – “quem confere se no calendário estão todos os meses? ”.
A vida dava conta de si própria e as pessoas passavam por ela naturalmente. O Natal chegou mais cedo, assim como o aniversário de Marcos. Não ter completado uma volta ainda pelo Sol, trazia para a vida dele a certeza de que alguma coisa continuava errada. Sua mãe fazia aniversário em agosto – já no ano passado, passou a comemorar em setembro, que agora é mês oito.
- Mas mãe, seu aniversário é quando?
- 23 do oito.
- De Agosto, mãe!
- O mês é oito, não importa.
Os presidentes já não passavam, conforme a sua percepção, quatro anos no poder, mas sim, três anos e onze meses. Ele ia envelhecendo, e com o passar dos anos, as pessoas o elogiavam:
- Você parece mais novo.
Sorria incomodado pela mentira e o ego pelo alimento. Essa situação incomodou-o por dois anos: passou a viver com a tranquilidade que vivia quando existiam doze meses.
Doze anos depois desses acontecimentos narrados, no seu aniversário de 50 anos, Marcos, com os olhos fixos na realidade, disse:
- Hoje completo 49.
No coração, existia a felicidade de viver mais. Na consciência, a vaga lembrança que a vida passava mais devagar.