Cronica da Espada - Capítulo 1 - Pequeno prodígio.

Cronica da Espada

O pequeno prodígio.

Era uma noite quente em Thargur, muitos homens se reuniam depois do expediente no bar mais movimentado do lugar:

- Eu adoro o Chifre de Alce! - Gritava Bob enquanto entrava no lugar acompanhado de seus companheiros da mina.

Bob, Jeff e Alcir eram trabalhadores da mina de oléo, lugar importante para a cidade de Thargur, a mina abastecia todas as lamparinas acesas todas as noites e o trabalho não podia parar.

O trio sentou-se no lugar mais aconchegante e logo foram servidos por Ralf, homem gordo que cuidava do lugar que herdou de seu irmão mais velho:

- Boa noite rapazes, trabalho pesado na mina? - Perguntou Ralf educado enquanto fumava seu charuto de fumo barato.

- Sai com essa coisa fedida pra lá Ralf. - Jeff reclamou balançando as mãos para espantar a fumaça. - Bom, um dia muito estranho se você quer saber.

Bob balançou a cabeça positivamente enquanto dava um gole farto na cerveja:

- Dia estranho? - Perguntou Ralf sentando-se na mesa e acenando para sua filha mais jovem atender enquanto ele se juntava aos homens da mina.

- Muito estranho. - Completou Alcir. - Conte Jeff.

Jeff sorriu como quem acabara de ganhar cem moedas de ouro, adorava ser o centro das atenções e se considerava um bom contador de histórias:

- Pois bem. Estávamos na mina em um dia comum extraindo o óleo, nada novo. - E prosseguiu abaixando o tom de voz. Até que vi algo que chamou minha atenção, logo cutuquei Alcir para ver.

- Verdade. - Completou Alcir.

- Desembucha homem! - Reclamou Ralf.

- Foi na septuagésima picaretada que eu o vi lá, bisbilhotando, o velho Gaspar! - Jeff fez uma pausa como quem esperava alguma reação que Ralf não teve.

- E? - Disse Ralf levantando os ombros. - Pelo amor de Amyr eu não sei por que dou ouvido a vocês ainda... - Ralf ia se levantar, mas Jeff foi mais rápido na língua.

- Vai me dizer que não sabe das histórias que percorrem o velho Gaspar há anos? - Jeff finalmente deu o primeiro gole na cerveja, fazendo cara de aprovação.

- Histórias? Que histórias? O velho é apenas um curandeiro, faz partos e ajuda os doentes, não vejo por que espalhar histórias sobre um homem desses, ouvi dizer que faz partos em Thargur desde que o lugar era apenas um vilarejo inóspito.

Jeff fez uma careta de desaprovação:

- Que as lamparinas se apaguem pela falta de óleo se esse homem for apenas um curandeiro! - Praguejou alto Jeff chamando a atenção de quem estava em volta.

Bob chiou baixo, o grupo tornou a falar apenas para si:

- Lhe digo logo Ralf, aquele homem Gaspar é nada mais nada menos que um cadáver ambulante! - Jeff ao dizer aquilo deu um gole farto na cerveja.

- Como assim cadáver ambulante, não diga asneiras. - Reclamou Ralf fazendo menção a se levantar novamente.

- É o que disse oras! O velho Gaspar foi ressuscitado por quem comanda aquela torre! - Jeff apontou discretamente o lado Leste de Thargur.

Thargur era uma cidade pequena que havia se erguido ao pé da Torre Cinzenta, um local religioso e restrito para a população, muitos estudos e coisas misteriosas eram feitas ali, a própria guarnição dos Mantos Cinzentos havia sido criada muito tempo atrás apenas para proteger a torre, homens eram treinados desde criança para se tornarem soldados que protegiam a torre... Pelo menos essa era a história que era passada a população.

Ralf riu alto por algum tempo, tempo o suficiente para irritar Jeff que cruzou os braços e se calou:

- Eu não conto minhas histórias para qualquer um, elas tem seu valor se você quer saber. - Se ateve a beber calado.

- Perdão Jeff, mas é que o sumo-sacerdote é mais jovem que Gaspar, sua história não tem fundamento nem lógica, não é por que você trabalha na mina que deve agir como um mineirador. - Ralf se levantou. - Com licença senhores.

Os mineiradores não eram bem vistos, por mais que fossem o alicerce de toda vida noturna de Thargur, eram menosprezados como homens inferiores, até por um taverneiro:

- Homens incrédulos como Ralf estão fadados a uma vida sem emoção. - Disse Jeff desdenhando de volta do colega.

- Concordo Jeff, Gaspar e aquele sumo-sacerdote não são flor que se cheire, dez anos atrás na Noite Terrível eles simplesmente trancaram a torre... Centenas morreram enquanto eles se aconchegavam em frente de suas lareiras. - Disse Alcir.

Bob aprovou com a cabeça:

- Nem me fale... Malditos religiosos...

Ralf de longe olhou com desaprovação para a conversa deles.

Nesse momento a porta da taverna bate forte e um garoto entra, seus cabelos bagunçados sem corte nenhum chama atenção, sua cara fechada de poucos amigos, o moleque devia ter seus onze anos e já empunhava uma arma, uma espada grande demais pra ele que ele carregada pendurada nas costas com orgulho, tinha o corpo mal coberto por trapos repleto de cicatrizes.

O moleque puxava pelo chifre uma cabeça decapitada de um bode, a cabeça do pode era grande demais e ele não aguentava segurar. Atravessou o lugar de ponta a ponta até o balcão, o rastro de sangue era denso, como se a cabeça tivesse acabado de ser decapitada, o moleque se aproximou e com esforço arremessou a cabeça em cima do balcão:

- Ralf seu maldito! - Berrou o moleque, agora que Jeff havia olhado melhor o moleque estava com o rosto todo machucado, marcas rochas espalhadas pelo corpo e a roupa toda rasgada.

Todos ficaram em silêncio:

- Seu pirralho maldito! O que você fez? - Berrou Ralf saindo de trás do balcão encarando a cabeça decapitada.

- Essa cabra maldita me atacou de repente! - O moleque tava ofegante. - O chifre dela cortou minha armadura de couro.

Ralf deu uma olhada no garoto e levou a mão a boca:

- Lucio te perfurou com o chifre? - De fato o moleque estava com uma feria profunda na barriga.

- Isso não é nada! - O menino estava pálido e suava frio, a ferida tinha acabado com ele, mas não com seu orgulho. - Você ta me devendo dez moedas de ouro pela armadura seu patife!

Ralf ficou de boca aberta, o garoto não só lutou com um bode que tinha três vezes seu peso, como foi perfurado pelo chifre e conseguiu decapitar o animal. O taverneiro olhou para o corte no pescoço do bode, um corte limpo e direto, digno de um guerreiro:

- Er... Tu... Tudo bem, eu te pago. - Ralf sem palavras se dirigiu a um cofre que tinha atrás do balcão, tirou dez moedas de ouro... Por falar nisso como um garoto desses conseguiu dez moedas de ouro? Que seja, pegou as moedas e entregou pro garoto - Mas você precisa de cuidados médicos!

- Me deixa em paz velhote! - Gritou saindo da taverna.

Voltou em silêncio, pegou a cabeça do bode, mostrou o dedo pro Ralf e saiu novamente.

A taverna explodiu em conversas paralelas.

Pedro Kakaz
Enviado por Pedro Kakaz em 14/06/2017
Código do texto: T6027654
Classificação de conteúdo: seguro