Um Corpo para os seus Ossos

Prólogo: 20 anos antes

A pequena cabana na floresta era tão velha quanto suas duas moradoras, mas permanecia erguida mesmo sendo açoitada pelas chuvas, pelo vento e pelo tempo. Ficava no meio de uma clareira e parecia brotar do chão tal como as árvores secas que rodeavam os limites da casa. E a cabana podia se locomover. Ela andava. Havia chegado na floresta há pouco tempo.

As duas irmãs moravam sozinhas há muito tempo. A mais nova gostava de falar com as paredes da casa, e as acariciava, sempre choramingando baixinho, às vezes soluçando. Ela mal falava com a irmã. As duas se odiavam.

A mais velha gostava de flores. Possuía um jardim de rosas que era até bonito em comparação com a velha cabana. Cuidava muito bem de suas flores. Sempre que colhia uma, passava uns bons minutos apenas olhando para suas pétalas e para o corpo da flor. Depois, abria a boca lentamente e a comia.

As rosas possuíam muitos espinhos.

A irmã mais velha havia acabado de fazer uma refeição, e fios de sangue ainda desciam pelo seu queixo quando ela entrou na cabana e viu a mais nova sentada no chão e chorando com o rosto colado em uma parede. A mais velha a olhou com muita raiva, com todos os anos de sua vida sendo flechados dos seus olhos, que já haviam visto tanta coisa quanto é possível se ver. Ela disse:

-Depois desse tempo todo, você continua assim. Eu já falei. Isso um dia chegará aonde deve chegar. Pare já com isso. Você chora assim desde a tempestade. Desde que o papai enlouqueceu. Aquele idiota. Eu fiz o que fiz em nome dos antigos, os que realmente sabiam como habitar um mundo. Fiz isso por nós.

-Se o papai enlouqueceu, foi por sua causa- disse a mais nova entre soluços. Ela era muito mais velha do que qualquer coisa viva no mundo,mas a irmã era ainda mais antiga.

-Esqueça-o. Ele nunca gostou de nós mesmo. Só se importava com a mamãe.

A mais nova olhou para cima, para os olhos violentos da irmã, e começou a chorar ainda mais. A que estava em pé disse:

-Sua idiota. Estou tentando trazer de volta a nossa glória. Tenho falhado infinitas vezes, mas sei que agora estou perto de alcançar o nosso objetivo. Não sei quando, mas está perto. A minha descoberta recente me trouxe esperanças. Tem que ser isso. Logo, logo suas lágrimas se transformarão em rios de glória.

* * *

Agora:

O pequeno vilarejo repousado às margens da floresta era habitado por gente muito pacata e reservada. Era um lugar onde o silêncio era quase algo físico que se misturava à névoa e à poeira e caía sobre os telhados pontudos das casas, que dormiam com suas janelas fechadas.

A população ali (pouco menos do que dez famílias) mal vivia, pois a caça nunca era farta devido ao medo que todos tinham de adentrar a floresta. Só caçavam quando era extremamente necessário, e os homens jovens e fortes eram escassos. Só havia três caçadores.

Histórias moldavam o imaginário das pessoas dizendo que alguma coisa habitava a floresta, algo que não era nem animal nem gente. E outros diziam ter visto duas silhuetas dançando entre as árvores, enquanto uma delas proferia uma música terrível demais para ser pronunciada por uma garganta humana. Um dia um garotinho se perdeu entre as árvores e, ao retornar, carregava uma pedra ensanguentada numa das mãos, e sua boca também estava sangrando. Ele só conseguia dizer: “a floresta... foi a floresta. Ela me mandou arrancar os dentes. Eu só queria dançar...”

As pessoas sempre tiveram medo de entrar na floresta. Mas, durante as últimas duas décadas, esse horror só havia piorado. Desde então, somente homens passaram a entrar na floresta, alegando que as mulheres possuíam uma mente muito frágil para suportar o terror irracional que tomava o coração de todos que a adentravam. Mas, um dia, os caçadores chegaram perto demais do coração da floresta, e as consequências foram desastrosas. Um deles chegou até a, literalmente, morrer de medo. Ele estava com os outros dois homens quando, de repente, parou de andar. Seus olhos se fixaram em algo que estava longe dali, longe dos companheiros, longe do mundo. Seu rosto se modificou numa massa disforme de medo, irreconhecível, e caiu no chão gritando: “está aqui, está aqui, crescendo! Eu sinto os ossos crescendo em mim, em você, nas árvores, meu Deus eles crescem no mundo!!!”. Um dos outro homens chegou a perder todo o movimento do lado direito do corpo. E o terceiro caçador, depois de relatar o ocorrido em um só fôlego, calou-se e nunca mais pronunciou uma palavra. Nem nunca mais saiu de casa.

O vilarejo estava agora com sérios problemas.

Havia outra peculiaridade na região: as tempestades. Ou melhor, o que se via nelas. Sempre que, durante uma chuva torrencial, relâmpagos e raios acendiam o céu da noite, as pessoas relatavam ver uma sombra gigantesca de forma humana se esticar por todo o vale no qual o vilarejo e a floresta estavam mergulhados. Ela era vista quando se estava em cima de um monte ou colina. Mas também era possível ver a sombra ao olhar para o céu.

* * *

A plantação do velho Bill era um pequeno jardim de flores mortas.

Todos no vilarejo plantavam com dificuldade, mas a família do velho Bill passava agora por uma situação realmente crítica. Na verdade, todo o vilarejo corria o grande risco de sumir do mundo por causa da fome.

A família do velho Bill era composta apenas por ele e sua filha. Há apenas alguns meses seu filho mais novo morrera misteriosamente após ir caçar na floresta com os outros caçadores numa aventura que levou ao fim da caça na região. Mas o velho acreditava que o seu problema era ainda maior; sua filha mais velha, Eleanor, era a única pessoa no vilarejo capaz de substituir um caçador. Ela possuía vinte anos. Os pais no vilarejo eram todos velhos, e seus filhos morriam muito cedo. Foi com um grande peso na garganta que o velho Bill disse essas palavras quando sua filha retornou do rio com um balde cheio de água:

-Eleanor, você deve ir à floresta. Precisa caçar para nós, ou todos morreremos de fome. Minha filha... você será a primeira mulher a entrar na floresta depois de todo esse tempo. Só Deus sabe pelo o que você passará quando estiver lá. Não entre em pânico, minha filha. Não deixe o medo se apoderar do seu frágil coração. Oh, meu Deus...

A moça derrubou o balde no chão e deixou que suas lágrimas se misturassem à água fria do rio. Seu pai se levantou da cadeira e embalou a filha com braços duros, ossudos e trêmulos, um abraço velho e nada encorajador.

-Mas papai, eu não posso... não... as mulheres não podem entrar lá!

-Você é a nossa única esperança, filha. Eu rezarei por você. Amanhã pela manhã você partirá. Sei que, após essa primeira aventura, tudo será mais fácil. A caça nos encoraja. Ao retornar para casa, estará mudada. Agora vá deitar-se, criança. Descance e prepare-se para o dia que entrará para a história do vilarejo.

Eleanor foi deitar-se, mas não dormiu.

* * *

A pequena cabana dormia cercada por árvores que pareciam ossos. Dentro dela, a irmã mais velha sonhava. Talvez com as glórias do passado. Ela sorria, e seus dentes estavam vermelhos.

A mais nova não dormia. Choramingava baixinho enquanto batia levemente a testa na parede.

-Nós deveríamos estar todos mortos. Melhor do que sofrer desse jeito.- falava ela entre soluços.- Deveríamos estar mortos. Por que você, mamãe? Por que? Que ideia minha irmã foi ter. Não aceitou o nosso fim com humildade. Éramos muito poderosos, sim, éramos deuses do medo. Mas enfraquecemos e morremos, até sobrarmos só nós.

Ela fez uma pausa, acreditando ter ouvido a irmã falar. Esperou um pouco e...

Nada. Devia estar sonhando.

-Éramos fortes. Mas tudo chega ao fim. Os humanos possuem outro tipo de medo agora. Hoje em dia sou eu que estou com medo, mamãe. Queria mesmo acreditar que você pudesse voltar, mas minha irmã é louca. Eu queria você aqui.

* * *

-... cair em tentação, mas livrai-nos do mal. Amém.- finalizou Eleanor, se preparando para ir caçar. Já podia sentir o peso da solidão na floresta sentado em seu corpo.

Não comeu. Seu nervosismo a fazia sentir espinhos na garganta. Não respondeu ao abraço doloroso do velho pai, e partiu.

Tentou fingir que tudo aquilo estava acontecendo com outra pessoa. Deixou seus pés serem levados pela crença de que aquilo já estava quase acabando.

Até que chegou às margens da terrível floresta, que nunca parecera tão terrível quanto agora. A responsabilidade de ser a primeira mulher ali depois de tanto tempo, e de ser a esperança da vila, congelou seus ossos, sua carne e sua respiração. Encarou a escuridão que as copas das árvores guardavam dentro da floresta, como mãos retorcidas segurando plumas negras. E andou.

Ela só não soube dizer se, ao andar, fora ela quem dera um passo para dentro da floresta ou se a floresta havia avançado em direção aos seus pés.

* * *

Era de manhã, mas o sol ainda não sabia, e não se levantou. Parecia que não nasceria nunca mais.

Eleanor não sabia há quanto tempo estava caminhando. Podiam ser minutos ou dias. Mas, ela sabia, havia ainda algo mais estranho do que isso: ela não sentia nada. Não sentia aquele horror de que todos os homens falavam quando estavam na floresta. Na verdade, podia jurar que estava com menos medo do que antes de entrar na floresta.

Tudo estava estranhamente normal.

De repente, Eleanor começou a se sentir tonta. Suas mãos tremiam e ela não conseguia raciocinar direito. Sua barriga fez um som de algo que tentava escapar de dentro dela.

Fome.

Ela possuía pão e queijo consigo, mas utilizara o pão para guiar o caminho de volta para fora da floresta jogando suas migalhas no chão, ideia que tirou de uma história que ouvira à beira de uma fogueira.

Ela estava quase desmaiando, faminta, quando avistou um jardim e, atrás dele, uma cabana que parecia cercada por ossos. Correu para lá.

Chegando no jardim jogou-se no chão, fraca demais para continuar até a porta da cabana, onde havia duas silhuetas emolduradas pela luz fraca que vinha de trás delas. Ela ainda conseguiu ouvir alguém falar antes de desmaiar, uma voz carregada de velhice, poeira e tempo:

-Veja, minha tola irmã. Há uma flor nova no nosso jardim.

* * *

Eleanor acordou numa cama desconfortável. Estava tão atordoada que mal sabia quem era.

Olhou para cima e viu olhos na penumbra do quarto, e abaixo deles havia um sorriso.

-Olá querida.- disse uma mulher muito velha- Você não sabe como isso deu trabalho, deu sim. Não somos bruxas, mas utilizamos da bruxaria amadoramente. E valeu a pena esperar. Cada ano valeu a pena.

Eleanor se sentou na cama, tonta.

-Onde estou? Do que a senhora está falando?

-Corpo! –gritou a velha, e gargalhou tanto que se engasgou. Tossiu e enfiou os dedos na garganta. Tirou de lá um longo espinho negro.- Desculpe por isso. O ritual pede que espinhos de uma rosa especial sejam cultivados na barriga de algum animal até se tornarem um longo espeto. Mas, bom, nenhum animal se aproxima daqui. Então eu mesma comi as rosas.

Eleanor se encolheu abraçando os joelhos. Aquela velha era louca.

-Desculpe, senhora, mas eu tenho que ir. Preciso caçar para o meu pai. E para todo o vilarejo.

-Nada disso. Você vai ficar aqui.- disse a velha.- Agora, me dê a sua cabeça.

-Espere!- disse a jovem. Fosse qual fosse aquela brincadeira, ela sabia que precisava ganhar tempo.

-Espere, senhora. Que ritual é esse? E que conversa é essa de “corpo”?

-É para a mamãe.- disse a velha. E, ao dizer isso, Eleanor ouviu a outra velha choramingar no outro lado do quarto. A moça não sabia que ela estava ali até então.

A velha que falava continuou. Parecia gostar do som da própria voz, Eleanor percebeu.

-A nossa mãe precisa de um corpo, criança. Para voltar. Ela... nós... éramos deusas muito poderosas, agora esquecidas. Mas deuses esquecidos voltam muito mais poderosos. Estou trazendo de volta a glória dos antigos, e você será o novo corpo no qual minha mãe irá reencarnar. Um novo corpo para os seus ossos. E após vinte anos nessa floresta, finalmente isso irá acontecer.

Eleanor arregalou os olhos.

-Vinte anos? Mas essa é a minha idade...

-Pois é, criança. Estamos todas descobrindo coisas novas hoje. Eu passei muito tempo sem saber disso, mas nós, os deuses antigos, penetramos muito na humanidade. Tanto que algum de nós, e nós éramos muitos, gerou filhos com vocês. Nunca nos envolvíamos com outras famílias de deuses, e esse fato era desconhecido da minha família. Há vinte anos descobri isso e vim com minha irmã e minha cabana para esta floresta, pois sentia, de algum jeito, que a minha esperança de trazer a mamãe de volta estava nesse vilarejo esquecido, assim como nós fomos esquecidas. Eu só não sabia quem seria o novo corpo. Mas sabia que tinha que ser uma mulher. Então, coloquei um feitiço na floresta para permitir que somente mulheres entrassem aqui sem sofrerem danos. Só hoje me dei conta de que o seu nascimento havia nos chamado, mas na época eu não sabia, poderia ser qualquer mulher. O feitiço repeliu os homens, mas eles acabaram proibindo as mulheres de entrarem aqui. Vocês humanos são incríveis. As mulheres são sempre afastadas de algo grandioso por causa da insegurança masculina. Por causa disso, passei vinte anos aqui sem que nenhuma mulher viesse ao nosso encontro. Mas nenhuma delas serviria para mim, se vissem. Pois agora, sentindo a sua presença aqui, sei que você é a mulher certa. Sei que é nossa descendente.

Eleanor estava ficando ainda mais tonta. Não ouvia a conversa, mas precisava continuar adiando o que a velha queria fazer. Perguntou:

-Por que você queria atrair apenas mulheres?

-Porque eu e minha irmã somos duas. E, com mais uma mulher, seríamos três. E nada pode deter uma tríade feminina. Nunca ouviu falar daquelas personalidades gregas que cortam o fio da vida das pessoas? Ou das deusas que vigiam o céu para impedir que o monstro acorrentado nas estrelas se liberte? São todas tríades femininas. Seremos tão poderosas quanto elas.

-Você fica falando de deuses- disse Eleanor- Só há um Deus. O resto não existe.

A velha riu.

-Criança, não é preciso existir nada. Basta que as pessoas acreditem, que ajam como se existisse. É isso o que dá vida a todos os deuses. E em breve as pessoas irão acreditar em nós de novo.

Eleanor ignorou o comentário, pois não estava com forças para discutir pontos de vista. Só precisava continuar falando.

-E o que me diz sobre a sombra? Aquela que se espalha pelo vale sempre que há uma tempestade?

-Ah, sim – riu a velha- É o papai. Sabe, criança, nós perdemos os nossos poderes há muito tempo. Mas eu fui a única a não aceitar isso. Todos os outros aceitaram e morreram até restar somente a minha família. Então, na minha inocência jovem, matei a mamãe e a ofereci como oferenda para o meu pai, acreditando que assim recuperaríamos os nossos poderes.

A irmã mais nova gritou e correu até uma parede, e começou a bater a cabeça nela.

Eleanor se assustou com aquilo, e seu queixo começou a tremer.

-Eu a matei- continuou a mais velha indiferente.- E esse tipo de oferenda é feita trancando o corpo vivo de alguém dentro de uma parede até a sua morte. A mamãe está bem ali, onde aquela idiota está batendo a cabeça. Passou todo esse tempo falando com a parede.

“Mas acontece que o papai a amava demais. Não suportou ver a mamãe morrer, ainda mais pelas mãos da filha. Então ele enlouqueceu. E nesse dia estava caindo uma tempestade. Correu para longe e escalou a montanha mais alta que encontrou, e ela fica aqui perto. No momento em que um raio atingiu o seu topo, ele o segurou. Amarrou o fio luminoso no pescoço e se jogou da montanha com o som de um trovão.

“O papai se enforcou com um raio. É por isso que a sombra dele aparece por aqui toda tempestade.”

A irmã mais nova voltou para o quarto com a cabeça sangrando. Eleanor a olhou assustada, e ela começou a falar, o sangue e as lágrimas pingando no chão.

-Eu nunca acreditei nessa besteira de trazer a mamãe de volta. Desculpe por isso, criança. Eu só tive um momento de esperança, que foi quando chegamos aqui. Foi aqui que os ossos da mamãe começaram a crescer. Por dentro das paredes. Até crescerem para fora da casa e para dentro do solo. Acreditei que ela estivesse revivendo. Mas, não. Nada aconteceu.

-“Eu sinto os ossos crescendo...”- sussurrou Eleanor, repetindo as últimas palavras do seu irmão, agora assustada demais e começando a acreditar que as senhoras realmente eram o que a mais velha dizia que eram.

-Exatamente- disse a irmã mais velha.- os ossos da mamãe sustentam essa casa. Em breve sustentarão as árvores, as montanhas, os oceanos e o coração dos humanos.-A velha estendeu o espinho longo e negro que havia expelido- Chega de histórias, criança. Dê-me sua cabeça.

Eleanor tentou se levantar, mas só percebeu agora que suas pernas estavam presas por longas correntes, e estas estavam presas embaixo da cama. Ela ficou paralisada de medo.

A irmã mais velha encostou a ponta do espinho suavemente na testa de Eleanor com uma mão. Com a outra, ergueu um martelo de madeira.

-Vamos abrir a sua mente.

* * *

O velho Bill ouviu alguns gritos do lado de fora. Depois, vários gritos que não paravam mais.

A fome finalmente alcançou-nos, pensou ele. Não saía de casa desde que a sua filha fora caçar. Acreditava que ela estivesse morta. Afinal, um dia inteiro se passou sem que ela voltasse. Era fim de tarde do dia seguinte.

Saiu de casa. Pessoas corriam para lugar nenhum. No meio da confusão, Bill viu o vizinho, o jovem Max, sentado no chão. Estava de costas para ele, e parecia chorar. O velho viu que ele esfregava os olhos, e percebeu que suas mãos estavam úmidas.

Úmidas demais...

O velho Bill se aproximou dele. Tocou seu ombro.

-Max? O que houve, meu jovem?

O garoto se virou. Possuía um carretel de linhas sem linha numa das mãos.

A outra segurava uma agulha.

-Me ajude, senhor. A linha acabou. Não consigo costurar o outro olho. Me ajude a arrancar o outro. Me ajude. Não quero mais olhar para aquilo de novo. Me ajude.

O velho Bill deu um grito terrível e se afastou cambaleando, os anos de sua vida e o terror daquela visão grotesca o fazendo respirar com dificuldade.

Mas, quando se virou, ele viu aquilo.

-Voltei mudada, papai. Como você disse. Eu enxergo o coração dos homens. E eles mentiram sobre tudo.

O velho Bill a olhou nos olhos, e sentiu ossos crescendo dentro do seu coração.

Lumontes (Lucas Montenegro)
Enviado por Lumontes (Lucas Montenegro) em 17/05/2017
Reeditado em 29/10/2017
Código do texto: T6001184
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