Mundo Paralelo
Os passos iam ficando cada vez mais largos e rápidos. A noite chegava e meus olhos arregalados não conseguiam mais enxergar o que estava à minha frente, via apenas minha ansiedade, meu desespero de chegar logo ao meu destino.
Acostumei ouvir desde criança que minha imaginação não tinha limites, que não vivia em um mundo real. A verdade é que já com idade adulta e passando por aquele lugar totalmente escuro, pude voltar nas minhas lembranças e perceber que metade da minha vida foi fantasia. Mas aquilo não era de muita importância, afinal eu precisava chegar e não havia tempo para fantasias ou descobertas interiores.
Minhas pernas por mais longas que fossem não conseguiam acompanhar o ritmo da minha mente, meu corpo quadrado, revestido de panos simples, porém coloridos e também muito molhados por conta da chuva que há pouco começara a cair, estava se sentindo pesado e consequentemente muito cansado.
Levei um grande susto quando deparei em minha frente com uma senhora, de cabelos grisalhos e pele morena com tantas rugas que mal pude parar de olhá-la. Seus olhos eram negros de um brilho inesquecível, suas roupas eram sujas e estranhas. Da sua boca saíram algumas palavras pronunciadas com muita dificuldade, mas nada pude entender.
Continuei meu caminho deixando a velha senhora para trás, até porque eu não tinha tempo para conversar ou fazer adivinhações.
Pensei então estar novamente sozinha e meus pensamentos voltaram ao meu objetivo inicial. Nunca tive um pensamento tão egoísta, nada nem ninguém poderia fazer com que eu desviasse do meu caminho. A fome foi chegando e a sede já estava insuportável, mas nada disso tinha importância, mas minha atenção foi desviada quando olhei para o lado e vi um ser pequeno, ou melhor, minúsculo caminhando junto a mim. Parei, limpei meus olhos e olhei novamente com mais atenção e lá estava ele.
Olhando para mim e sorrindo, mostrando seus pequeninos dentinhos. Ele nada dizia e não respondia nada que perguntava, minha curiosidade aumentou quando ele quebrou o voto de silencio e disse: " Siga-me, conheço uma atalho!"
Tive um pouco de medo, mas como estava com muita pressa resolvi segui-lo. Por esse caminho vi muitas coisas estranhas ou desconhecidas, como cogumelos gigantes, lagos de chocolate, anões, fadas, casinhas mínimas. Fiquei chocada e contente ao ver aquilo tudo. Como eu gostaria que meus amigos estivessem ali, presenciando tudo e vendo que eu não era assim tão louca. O caminho era lindo havia muitas flores bem coloridas de perfume raro, o céu era tão azul, tão distante da poluição que estava acostumada. Por um momento pensei estar sonhando, delirando de tão fascinante que era tudo aquilo que estava a minha frente.
Naquele momento tive certeza que um mundo mais simples, mais colorido ainda era possível, que ainda havia lugares intocáveis pelo homem, que fora protegido contra a destruição humana.
Um súbito pensamento me fez lembrar o meu destino e novamente meus passos tomaram pressa, uma ansiedade pousou sobre meus pensamentos e a sensação de que eu não chegaria a tempo me deixou apavorada. Como que lendo meus pensamentos a pequena criatura que passei a chamar de Jonny disse: "-Fique tranqüila já estamos chegando."
Como mágica pude avistar o meu destino, olhei para trás e vi aquele mundo magnífico se distanciando, comecei a correr e lembrei de Jonny que não estava mais ao meu lado, El havia ficado parado olhando para mim enquanto me distanciava. Quando voltei para lhe agradecer pela ajuda, ele havia desaparecido e aquele mundo tão desejado não estava mais ali.
Sentei no chão e pude perceber que havia fantasiado novamente.