Crônicas do Tempo - Epílogo

- Parte 1

MaiCael vagava ao sul das Grandes Montanhas após uma longa caçada. Os gigantescos montes eram assim chamados, na língua comum, por serem a mais alta cordilheira conhecida. O único pico que fazia frente a elas era O Observatório, um cone de pedra que se elevava milhares de tiks¹ do solo no litoral norte do continente.

As antigas histórias para crianças contavam que O Observatório recebera esse nome por ser o lar de um dos antigos Magos do Norte, que usava-o para observar toda a Planície da Esperança, por mais que ela não tivesse esse nome na época.

O guerreiro havia ceifado a vida de dois cervos-do-oeste (nome estranho, já que na verdade corriam por toda a planície) e treze pássaros-de-fogo (espécie interessante: pareciam com patos crescidos, mas deveriam ser abatidos instantaneamente e sem alarde, senão se destruiam numa bola de fogo - alguns dos sábios afirmavam que eles se sacrificavam, pois tinham a capacidade de renascer em outras paragens, mas isso nunca fora comprovado).

A caça alimentaria sua tribo por algumas semanas, então decidira despachar seus três companheiros de volta mais cedo e caminharia até o final do dia em direção ao sopé da montanha mais à leste das Grandes Montanhas. MaiCael, mesmo contra toda a crença de seu povo, admirava e apreciava o clima desses picos gigantescos.

A noite estava estrelada e ele conseguiu montar acampamento antes da primeira estrela surgir no céu. O tempo estava ótimo e uma leve brisa soprava da planície de encontro ao paredão de pedra gélida: as montanhas eram tão altas que formavam-se camadas de neve ainda na metade e que despencavam às vezes se acumulando tanto na planície, quanto no deserto. Esse gelo, durante o dia era derretido e formava o único rio do Deserto do Desespero, uma vastidão de terra e solidão tão extensa quanto a própria planície.

Enquanto preparava o jantar, uma sopa rala com alguns restos de carne e vegetais, um clarão chamou a atenção de MaiCael. A explosão de luz branca durara apenas meio segundo e parecia ter ocorrido vários tiks dali, no centro do deserto, o que tornara impossível distinguir a causa, mesmo numa noite de lua cheia como aquela. Ele voltou a tomar sua sopa, mas a curiosidade venceu e alguns minutos depois, o tempo para terminar o jantar e juntar as suas coisas, ele partira em direção ao clarão, mesmo sendo o Deserto do Desespero o pior lugar para se caminha, seja a noite, quando as temperaturas caiam muito, seja durante o dia, quando o Sol castigava a terra.

* * * * *

A luz branca também chamara a atenção de uma humana, uma das últimas ainda viva. Arya tinha quase 2 niks de altura (1,62 metros) o que chamava a atenção por ser considerado baixo, mesmo para uma mulher e caçava ao sul da Floresta Sem Vida e ao oeste da casa dos Magos do Sul. A caçadora de pele morena, cabelos curtos e pretos e de um corpo magro, mas bastante ágil preparava o disparo de uma flecha, quanto o clarão a assustara e a fizera errar o tiro, deixando o snyr, na língua dos magos ou gato-da-floresta, na língua comum, fugir pela mata adentro.

Ela nunca errava uma flecha e o orgulho ferido só a deixara com mais vontade de descobrir que clarão era aquele. Ela então voltou para o acampamento improvisado sob uma árvore e começou a arrumar as suas coisas para ir investigar no outro dia. Jogou algumas frutas na sacola, alguns odres de água e guardou as flechas junto ao arco. Este ficava junto à árvore onde se apoiava para dormir e então se encostou já cansada.

Não parecia ser mágica. Não no meio do Deserto do Desespero... que nome ridículo... - pensou enquanto adormecia.

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1 - Tik: mil niks.

2 - Nik: medida de distância equivalente ao passo do Antigo Rei, o primeiro dos Primeiros (cerca de 82 centímetros).

Brunno Andrade
Enviado por Brunno Andrade em 18/02/2017
Reeditado em 18/02/2017
Código do texto: T5916611
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