O PRÍNCIPE CEGO

Num reino distante, havia um rei que vivia triste, pois sua esposa Leonora, nunca lhe dera filhos. O rei sonhava com um herdeiro para seu trono. Certo dia, a rainha não suportando mais ver o desgosto e a frustração de seu amado rei, pediu à sua criada de confiança que encontrasse alguém que pudesse ajudá-la com esse problema.

_ Não importa quem seja, desde que saiba como ajudar-me nessa situação.

_ Sim minha rainha, eu sei de uma pessoa que poderá ajudá-la. É Zanara, uma bruxa que vive na floresta.Ela tem poções mágicas para tudo!

_ Pois traga-a imediatamente para comigo.

A rainha encontrou-se com a bruxa nos fundos do castelo, não queria ser vista por ninguém. Ao deparar-se com a bruxa, Leonora ficou um pouco assustada sua aparência, mas a pobre rainha não via outra alternativa a não ser pedir-lhe ajuda.

_ Soube que você pode ajudar-me...

_ Sei que a rainha precisa de mim... Por qual outra razão me permitiriam entrar neste castelo? Ainda que pelos fundos...

_ Eu nem sabia de sua existência...

_ Sim, é verdade! Você ainda é tão jovem... Eu vivo na floresta há muito tempo, muito antes de você nascer, Leonora! Mas vamos ao seu pedido... _ A bruxa tocou o ventre da rainha que afastou-se com medo. _ Não tenha medo... Sei o que tanto deseja e vou ajudá-la! Mas há riscos... Está disposta ainda assim?

_ É algo perigoso? Acha que posso morrer durante a gravidez ou no parto?

_ Não. Com você nada acontecerá... Mas o bebê, poderá nascer com algum problema. Talvez uma pequena deficiência!

_ Não importa, eu preciso muito dar esse filho ao rei!

A bruxa fez uma poção com vários ingredientes que trouxe consigo numa velha sacola de estopa. Entregou à rainha e desapareceu na escuridão. Passadas algumas semanas, todos no reino se alegraram com a notícia da gravidez da rainha. O rei Augusto não se aguentava de tanta felicidade! Finalmente teria seu herdeiro! Leonora também estava feliz, mas às vezes tinha pesadelos com seu filho que havia nascido com orelhas de burro, sem um pezinho... Sem uma mão... Eram tantos os defeitos que ela sempre acordava sobressaltada. Mas para sua surpresa, o bebê havia nascido perfeito e lindo! Os dias foram passando, os meses, e quando Henrique completou um ano, a criada que cuidava dele correu chamar a rainha:

_ Minha rainha, seu filho não enxerga! Ele é cego!

A rainha não disse nada, apenas chorou muito abraçando o filho. Pediu à criada que trouxesse novamente Zanara, a bruxa.

_ Eu a alertei sobre isso, Leonora! Você não se importou!

_ Eu estava desesperada... Não fiz caso das consequências! Mas é muito cruel ver meu pequeno cego... Não pode curá-lo?

A bruxa fez outra de suas poções e deu à rainha para que lavasse os olhos do menino durante uma semana.

_ Ele voltará a enxergar, mas quando completar dezoito anos, ficará cego de novo... Mande que me chamem. Somente eu poderei ajudá-lo!

Zanara foi embora. Leonora fez como a bruxa lhe disse e logo o menino recuperou a visão.

Henrique cresceu forte, tornando-se um belo rapaz. Era famoso e querido por todos nos reinos vizinhos, não apenas pela sua beleza, mas também por sua inteligência, simpatia e generosidade. Todas as princesas da região sonhavam em se casar com ele.

Na manhã em que Henrique completava dezoito anos, logo ao acordar, ele abre os olhos mas não consegue ver nada. Fica desesperado e grita pela mãe que num instante já está ao seu lado. Leonora sabe que teria que chamar novamente Zanara, a bruxa e desta vez, decide contar seu segredo ao rei e ao príncipe. O rei se sente abalado, mas depois consola-se dizendo:

_ Sei que você fez tudo para me agradar... Eu desejava tanto um herdeiro! Não a julgo, na verdade, eu a entendo!

E Augusto concordou em chamar Zanara para curar Henrique. Como de costume, a rainha encontrou-se a sós com a bruxa.

_ Será a última vez que entro pelos fundos deste castelo...

_ Sim, eu espero nunca mais precisar de sua ajuda, pois nem sei como agradecer! Você não aceita meu dinheiro, meu ouro...

_ É verdade, não quero seu dinheiro, nem seu ouro. Mas no momento certo, você deverá retribuir tantos favores...

A rainha achou estranho o comentário da bruxa, mas estava ansiosa pela nova poção que curaria seu filho. Assim que terminou, Zanara saiu e Leonora correu para Henrique com a poção. Lavou-lhe os olhos e logo o rapaz voltou a ver. O rei faz uma grande festa para comemorar o aniversário do príncipe. Os festejos duram três dias e três noites. Na última noite, realizam um baile. Henrique passa a noite toda dançando com uma linda jovem que dizia ser uma princesa que morava num castelo bem longe dali. O jovem príncipe fica perdidamente apaixonado pela princesa e pouco tempo depois, já estão festejando o casamento. Todos estranharam a ausência da família da noiva, ao que ela explicou ser por motivo de doença. Seu pai não podia comparecer, mas logo sua mãe estaria presente. Houve uma grande comoção na chegada de uma senhora muito elegante numa carruagem luxuosa. Era a mãe da princesa. Ela foi muito bem recebida por todos. Depois do casamento, num canto onde a rainha se encontrava sozinha, a elegante senhora veio falar com ela.

_ Não me reconhece?

A rainha então, percebe que a elegante e requintada senhora que está ali à sua frente é Zanara, a bruxa da floresta!

_ O que você faz aqui?

_ Ora... Eu sou a mãe da princesa! E vou passar uma temporada neste castelo... Sempre sonhei em conhecê-lo por dentro! A parte nobre do castelo, claro! Eu só conhecia os fundos... _ Ela abre um sorrisinho sarcástico e deixa Leonora sozinha. A rainha tinha uma dívida tão grande com a bruxa, que decide não contar nada sobre ela. Afinal, somente ela e sua criada de total confiança a conheciam pessoalmente. Devia-lhe tanto, e se era assim que deveria pagar, que assim fosse!

Rose Martins
Enviado por Rose Martins em 19/01/2017
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