A PEDRA DO MAL

* Meu primeiro conto fantasia

Em alguma floresta longe da civilização, pai e filho conversam:

_ Você sabe por que estamos fazendo isso né filho?

_ A pedra é do mal? – o menino pergunta meio inseguro.

_ Sim, filho. Essa pedra brilhante está enfeitiçando o seu irmão e por isso temos que enterra-la. O seu avo, nosso grande pajé Arakar está fazendo um benzimento e logo o seu irmão voltará ao normal.

_O meu irmão diz que a pedra brilhante fala com ele. Que ela se mexe sozinha sem ninguém por a mão e quando acontece isso e ele coloca as garras dela dentro da orelha ele ouve as vozes fazendo perguntas de homem branco.

_Seu irmão te contou isso? Inakuê não entende que se são vozes de gente que não esta aqui do lado dele só pode ser daqueles que se foram e não é bom dar ouvido aos mortos, pois seus espíritos não descansam. Você percebeu como ele está diferente? Seu irmão não fica mais com a gente, não quer brincar no rio, pescar ou caçar. Ele nem dorme direito. Fica a noite toda olhando pra pedra brilhante. Tem horas que ele ri sozinho, outras vezes fica bravo sem motivo. Quando fica longe da pedra ele fica nervoso. Esses espíritos do outro lado ficam colocando coisas na cabeça dele. Inakuê agora esta até se opondo as nossas tradições. Duvidando da sabedoria dos ancestrais.

_Verdade, papai?

_Verdade. Outro dia ele falou com seu avo que o sol é uma estrela. Dá pra imaginar isso? Todos nós sabemos que o sol é uma grande bolha laranja criada por nosso deus. No inicio, deus soprou na espuma acima das arvores, aquelas que quando descem irrigam as plantações, com seu sopro divino criou duas bolhas gigantes, uma alaranjada e outra prateada. Mantinha as duas flutuando no firmamento e velando o nosso dia, mas a menor ficou enciumada porque era pequena e não brilhava tanto, então o nosso deus pra castiga-la deixou ela nas trevas e toda noite arrependida ela chora e de suas lagrimas nascem as estrelas que são seu consolo por não brilhar como o sol. Agora me diz: se o sol já existia mesmo antes da lua chorar como é que ele pode ser uma estrela?

O menino não tinha resposta. Era novo, sete anos; e talvez o irmão que tinha o dobro de sua idade tivesse alguma resposta pra aquilo, afinal, embora estivesse enfeitiçado pela pedra brilhante ele sabia que o irmão era inteligente. Naquele momento ouvindo o pai contar a lenda da criação que ele já conhecia, Narubi preferiu não falar nada.

O homem continuou:

_Seu irmão ter encontrado essa pedra brilhante na floresta foi a pior coisa que poderia ter acontecido. Seu avo disse que essa pedra pertencia aos homens que colocaram aquela arvore de ferro na nossa floresta. Ele diz que é essa arvore de ferro que manda as vozes para dentro da pedra. Eles chamam de antena. Acaso eles não sabem que é só inseto que tem antena? Seu avo é o grande pajé e por isso ele sabe das coisas. Ele já esteve na civilização. Ele me contou que lá na cidade do homem branco todo mundo tem uma pedra brilhante como essa e eles são tão enfeitiçados que quando se juntam pra comer eles não conversam entre si e ficam só vendo o brilho da pedra._ Inakuê precisa de ajuda e seu avo vai curar ele.

Narubi assentiu com a cabeça. Gostava de ver o pai falar, especialmente sobre os costumes estranhos que os homens brancos tinham.

A pedra falou pra Inakuê que o homem surgiu do macaco. Seu irmão se esquece das tradições do nosso povo. Aquilo que todos antes dele, antes de mim e antes do seu avo já sabem. Qualquer um na aldeia conhece essa história:

“Depois que deus-pai colocou as bolhas separadas no firmamento a mae-terra expeliu o homem de dentro de suas entranhas e ele saiu pela caverna de sangue que fica além da floresta negra”. Assim como as fêmeas fazem com os bebes quando dão cria. E não é um pedido dos deuses que o homem tampe toda noite a caverna que a mulher tem entre as pernas pra evitar que ela povoe demais o mundo e falte agua e comida para todo essa gente?

O pequeno Narubi também conhecia essa história e ele realmente achava impossível que o homem tivesse surgido do macaco, afinal ele nunca viu um macaco descer das arvores e virar gente.

O pai terminou de cobrir com terra a pedra brilhante, depois colocou algumas pedras e folhas secas em cima. Aquilo era o mal e, portanto deveria ser exilado ou exterminado. Aquela pedra trazia ideias pra cabeça das pessoas que poderiam ser perigosas pra toda a aldeia. O homem chamou pelo filho e ambos voltaram para casa felizes por seus costumes, pela crença nos antigos e por não se deixarem enfeitiçar pela magia do homem branco.