A História de Don Ramon

A História de Don Ramon

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Ramon cresceu no circo. Órfão de mãe, foi criado pela avó, Dona Neves. Diz a lenda que foi alimentado ainda bebê com leite de burra. Cresceu no universo circense, viajando por muitas cidades, por alguns países. Fazia de tudo um pouco naquele universo mágico: de lutador de boxe a toureiro. Também vendedor de balões, confetes, bombinhas e tudo o mais que pudesse gerar algum lucro.

Com o tempo, conseguiu juntar algum dinheiro. Assim, abandonou a vida nômade e comprou uma casinha modesta para viver com sua avó. Versátil, era capaz de realizar praticamente qualquer tipo de ofício. 14, para ser mais exato. A clientela era grande, logo, precisou de empregados para suprir a demanda. Curiosamente, 14 funcionários. Time is Money!

Sucesso. Anúncios nos principais jornais da cidade. Porém, não contava com a maldade nem com a desonestidade de alguns dos seus comandados. 14 pessoas enganadas, 14 pessoas enganadas era o que dizia um dos empregados. Ramon não entendeu o que se passava, nunca havia falhado, cumpria todas as obrigações legais, mas não adiantou. Levou um prejuízo danado. A traição soou como um tapa na cara. Aproveitavam-se de sua nobreza.

Foi para casa triste. No caminho, chegou a jogar seu chapéu no chão e pular em cima, só de raiva. Ao abrir a porta, sua esposa o esperava com um sorriso no rosto. Dona Neves, sua avó, também. Sua esposa estava grávida. Levou um susto e deixou a garrafa de leite que carregava cair no chão, tudo bem.

Foi uma gravidez complicada. 8 meses complicados que pareciam infinitos. Mal dormia, madrugava e só se alimentava com sanduíches de presunto. Para aliviar as dores de sua mulher, nada como uma seresta ao violão:

“quero ver, outra vez, seus olhinhos em noite serena...”

Bastava esse verso.

Acordava já cansado, exausto, mas ia trabalhar. Ao longo dos meses, seus funcionários iam abandonando a pequena empresa. Ele ficava sobrecarregado com o trabalho. Sofreu diversos pequenos acidentes. Brincavam dizendo que estava parecendo um chimpanzé reumático.

Um dia, quando chegou em casa, uma triste notícia. Sua avó resolveu ir morar com duas parentes num sítio. Deixou apenas uma carta. Quase nada.

Como era experiente no ramo do entretenimento também, resolveu investir em outras áreas. Tentou a sorte como empresário artístico, agenciando lançadores de ioiô. Não deu muito certo, afinal, era muito caro trazer artistas estrangeiros, ainda mais de outro país. Depois, pensou em lutar boxe. Porém, com seu físico de peso-pena-de-codorna, uma tripa seca, amargou uma derrota atrás da outra.

Após sofrer com tantas pancadas da vida, com a cuca rachada, julgou que nada pior poderia acontecer. Pe-ri-go. Poderia sim. Sua esposa iniciou os trabalhos para o parto, foi correndo para o hospital, duas horas depois, a sentença: ela morreu, mas a menina, sim, uma menina, sobreviveu.

Aqui está a Chiquinha.

Oh, e agora, quem poderá me ajudar?

Andava pelas ruas à procura de emprego, mas um bebê recém-nascido no colo era muito complicado. Comprou uns balões numa venda qualquer, conseguiu uma cesta, deixou Chiquinha dentro, amarrou os balões e começou a vendê-los. Quase tudo sai voando.

Ramón olhava para os céus clamando por ajuda, mas parecia que só espíritos zombeteiros o cercavam. Ou alguma bruxa.

Um dia, vagando pela cidade, encontra uma vila em construção. Experiente no ramo, pede emprego em troca de moradia. Consegue. Não há trabalho ruim, ruim é ter que trabalhar. Terminada a obra, veio o aluguel. Aluguel? Madruga acordado.

Começa uma nova odisseia em busca de dinheiro. Chapéus, sapatos ou roupa usada, quem tem?

Com licencinha.