Passamos bons momentos

O dia começou exatamente como os últimos daquela semana: céu azul de fim de verão, poucas nuvens, temperatura agradável. Thomas tomou café na cozinha com sua esposa, Jane, que era professora de literatura inglesa numa escola secundária local. Ambos permaneceram um tempo em silêncio, depois que ele terminou de beber o café e pousou a xícara no pires. Finalmente, Thomas resolveu falar.

- Sabe que eu quase sinto um alívio por terem marcado a destruição da sonda para o dia? Se fosse à noite e depois eu tivesse que sair do laboratório, seria inevitável olhar para as estrelas, procurar a localização exata e dizer: "não, não está mais lá".

- Ainda assim, haverá outras noites em que você fará precisamente isso - disse ela, lançando-lhe um olhar afetuoso.

- Mas não hoje - declarou, com determinação. - Vou sair do laboratório antes de escurecer. Quero chegar em casa com a luz do dia!

Jane sorriu e balançou a cabeça.

- Eu não estou ouvindo isso!

- O quê? - Perguntou ele, surpreso.

- Você dizer que vai chegar em casa antes do escurecer só para não ter que olhar para o céu noturno!

- Mas é isso mesmo... - suspirou ele. - Eu me sinto tão... impotente.

- Meu querido... - respondeu ela, acariciando as mãos dele sobre a mesa. - Sabe o que me fez lembrar? "Rocket Man".

- A música de Bernie Taupin e Elton John?

- Quase. O conto de Ray Bradbury, "The Rocket Man". Lembra dele?

Thomas franziu a testa.

- Vagamente... é sobre um garoto que espera a volta do pai, que é astronauta...

Subitamente sua expressão mudou, de concentração para tristeza.

- E um dia, o pai não volta mais porque morreu no espaço.

- Sim. E o garoto sempre dizia que não iria mais olhar para o céu noturno se o pai morresse em algum planeta... só que ele não morre em nenhum planeta, mas no Sol! E ele e a mãe passam a evitar sair durante o dia, por causa disso.

Thomas olhou para a esposa, ar desconsolado.

- Será que voltarei a encarar a noite novamente?

- Talvez não da mesma forma... mas você vai superar isso, um dia. Lembre-se: somos poeira de estrelas. Delas viemos, à elas retornaremos.

- Você tem razão - declarou ele, com expressão mais tranquila. Soltou as mãos da esposa e ergueu-se da mesa.

- Vamos? Eu te dou uma carona até o colégio!

- Claro! Deixe só eu pegar a minha bolsa!

Ele colocou a louça do café da manhã na máquina de lavar pratos e pegou as chaves do carro. Quando saiu da garagem, Jane já o estava esperando ao lado da caixa de correio. Enquanto ela entrava no carro e afivelava o cinto de segurança, ele ligou o rádio do carro.

Coincidentemente, estava tocando "Rocket Man" no FM.

- "And I think it's gonna be a long, long, time".... - cantarolou ele, com tristeza.

- [17-09-2017]