Ametista

Ametista

Quando eu cheguei à minha casa e mamãe me viu todo sujo de lama e machucado, ela ficou preocupada, querendo saber o que me havia acontecido. Eu, envergonhado, disse a ela que havia brigado na escola. Fi-lo com feições de brigão e ela acreditou que eu havia vencido a briga. Sentia-me exausto e um pouco machucado, então mamãe pediu que eu fosse tomar banho, que dali a pouco ela cuidaria dos meus curativos. Eu a obedeci. Assim que entrei no chuveiro, senti que os cortes não eram tão superficiais. Eu sangrava bastante, como se tivesse sido mordido por uma matilha. Ainda assim, eu parecia forte e não derramei uma lágrima, até porque eu, teoricamente, havia machucado bem mais do que sido machucado. Logo mamãe estava cuidando de mim e eu, mantendo a pose de valentão, tentava me conter para não demonstrar dor, já que fraqueza não era comigo. Além disso, aquela não era a primeira vez que eu brigava na escola. Terminado o tratamento, fomos jantar. Mamãe havia preparado uma sopa de ervilha deliciosa e quentinha e aquele carinho todo me aqueceu por dentro, fazendo com que eu me sentisse amado e acolhido. Eu me deliciava, enquanto meus braços e pernas latejavam de dor. Nem meu rosto fora poupado, mas uma coisa precisava ser mantida: a aparência. De repente o telefone tocou. Era a vovó, que iria nos visitar no fim de semana. Não demorou muito e o sábado chegou, trazendo consigo aquele ser cheio de luz e sabedoria. Ela ficou assustada ao ver meus ferimentos, mas, discreta que era, esperou mamãe ir à feira para me perguntar o que de fato havia acontecido. Tentei fingir e manter a tal história da vitória, mas meus olhos me entregaram. Aí eu desabei. Finalmente a verdade deslizou-me pela boca diante do olhar sereno da minha querida anciã. Ela ouviu cada palavra, sem fazer qualquer julgamento e eu não pude evitar de chorar. E chorei durante um bom tempo aos pés dela, que me aconselhou a não mais brigar com meus coleguinhas. Disse ainda que de nada adiantaria fingir ter uma força que eu não tinha, pois todos precisamos desabar às vezes. Aquelas palavras de conforto foram acalmando o meu coração e logo eu adormeci o mais profundo e significativo dos sonhos. Dormi tanto que, ao acordar ela já havia ido embora, mas aquele gesto de compreensão e amor incondicional me deixou grato para sempre.

Tom Cafeh
Enviado por Tom Cafeh em 21/08/2017
Reeditado em 31/08/2017
Código do texto: T6090626
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