OBRA DE ARTE

Praia cheia. A bela garota estendeu uma toalha na areia, abriu o guarda-sol, deitou-se e começou a ler uma revista. Em seguida ela comprou um sorvete de um vendedor ambulante. A beleza dela chamava atenção. Cabelos pretos e lisos, pele clara, lábios bem contornados, curvas bem traçadas. Dois rapazes que passavam, olharam para a garota e pararam.

“Que mulher maravilhosa!”

“Que espetáculo!”

“Duvido que você consegue ganhar aquela gata.”

“Willian, não duvide da minha capacidade porque hoje eu estou no meu melhor dia.”

“O que você vai falar com ela?”

“Sei lá, qualquer bobagem.”

“Qualquer bobagem? Meu irmão, tu vai levar um fora daqueles que até dá vontade de enterrar a cabeça na areia de tanta vergonha.”

“Um fora a mais ou a menos não faz diferença, mas eu não acredito que aquela gata fará isso comigo.”

“Essa eu quero ver. Vamos apostar?”

“Vamos. 20 contos.”

“Tá fechado.”

“Você reparou no biquíni que ela está usando, no sorvete que ela está tomando, na toalha em que ela está deitada e no guarda-sol dela?”

“Reparei, mas o que isso tem a ver?”

“Eu vou usar isso como parte do jogo.”

“Henrique eu vou rir muito se você levar um fora.”

“Fique por aqui, se disfarçando para que ela não perceba que estamos juntos, assim que eu acabar de falar com a gata você sai e me espera lá onde aquela galera está jogando vôlei.”

“Combinado, pode mandar ver.”

Henrique aproximou-se da garota e sentou-se perto dela. Ele olhava o mar e logo depois fixou os olhos nela. A garota tomava o sorvete e lia a revista. De repente ela notou que o rapaz a observava.

“Por que me olha tanto assim?” Perguntou ela.

Henrique aproximou-se ainda mais dela. O outro rapaz ficou próximo a eles, disfarçando, ouvindo tudo.

“É coincidência ou não, mas o seu biquíni é rosa, da mesma cor do guarda-sol, da toalha e do sorvete de morango que você está tomando.”

Ela disse:

“O biquíni, a toalha e o guarda-sol são da mesma cor porque eu gosto de rosa, mas o sorvete não foi de propósito. Você observa bem as coisas, hein!”

“Sou artista plástico, portanto as cores, combinações e todos esses lances fazem parte do meu dia a dia.”

A garota observava-o.

“E veja só os seus óculos!” Disse Henrique.

“O que há nos meus óculos?”

“Também possuem a cor rosa, em uma tonalidade bem clara, fazendo uma perfeita combinação.”

“Eu não consigo sair sem usar uma roupa cor-de-rosa, se não for possível pelo menos os brincos ou alguma pulseira tem que ser dessa cor.” Disse a garota.

“Você tem muito bom gosto, sabe usar e abusar das cores de uma forma sutil e ao mesmo tempo sofisticada.” Falou ele.

“Nossa, eu não sabia disso. Só sabia que gostava de rosa e mais nada. Aceita um pedaço?”

“Sim, eu quero um pedaço.”

Ela colocou um pedaço de sorvete na boca de Henrique. O colega dele olhava tudo atentamente. Henrique analisou a garota e gesticulou com as mãos, como que fazendo uma moldura com elas.

“Qual é o seu nome?”

“Carolina.”

“Me chamo Henrique.”

“Muito prazer.”

“Prazer é todo meu. Você retrataria muito bem uma musa praiana de meus quadros.”

“Musa praiana?”

“Sim, nas minhas obras que retratam as mulheres praianas há muitas delas parecidas com você, mas eu queria fazer uma bem real, original, não subjetiva.”

Ela disse, com satisfação:

“Você me pintaria em um quadro bem grande, assim como aqueles que ficam expostos nas galerias de arte?”

“Claro que sim.”

“Por que escolheu a mim?”

“É que você é a mais bonita e mais perfeita.”

“Obrigada!” Respondeu ela, sorridente.

“Você aceitaria ser um instrumento vivo de minha pintura?”

“Aceito! Me pinta como se eu fosse uma sereia ou você prefere me pintar toda bronzeada?”

“Da maneira que você achar melhor.”

Ela disse, empolgada:

“Ah, pode ser caminhando pela praia, tomando sorvete de morango! Precisa ter a marquinha do biquíni? Cabelos soltos ou presos?”

“Do jeito que você quiser. Amanhã você me espera aqui nesse mesmo local e nesse mesmo horário. Eu trarei todo o meu material e farei a minha obra mais detalhada e mais bonita.”

Ela disse, toda contente:

“Nunca me imaginei sendo alvo de uma pintura modernista... surrealista... sei lá como é que se chama... e além do mais ser pintada pela mãos de um cara tão bonito assim como você... isso me deixa... me deixa... ai, tô emocionada!”

Eles se despediram com beijinhos no rosto, trocaram telefone e Henrique embora. O colega dele o esperava no local combinado.

“Cara! Eu não acredito! Você ganhou a gata fácil, fácil!”

“Eu disse para você não duvidar de mim.”

“E ainda ganhou sorvetinho na boca...”

“Estava uma delícia!”

“Agora eu quero ver! Você vai pintar a gata feito um Da Vinci ou sei lá o quê?”

“Bem, vou usar meus dotes de artista plástico.”

“Pode parar, pode parar. Que negócio é esse de artista plástico? Você só sabe desenhar carros de corrida e aqueles bonequinhos do desenho animado?”

Henrique pensou por alguns segundos, colocou a mão no ombro do colega e falou:

“Vou te dizer uma coisa, Willian, ninguém nasce sabendo e... é nessas horas que a gente tem que aprender até o impossível. E passe pra cá meus 20 contos.”

Alveres
Enviado por Alveres em 19/07/2017
Código do texto: T6059105
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