O riso e a dor
Juntamente com outras colegas viúvas, ainda que de maridos vivos, rumou para o bar de Laurinda. Também mulher solitária, encarregada de arcar com o sustento da família.
Pediu logo uma cerveja, depois vieram outras.
Uma semana de trabalho vencida, merecia comemoração.
Bebeu. Riu. Contou causos e piadas. Até dançou.
“Coloca um samba pra tocar aí, Laurinda”.
Improvisou um baile de mulheres dançando umas com as outras. Arrasta-pé. Bolero. A sofrida “sofrência”.
Foi feliz e não se envergonhou de mostrar ao mundo sua felicidade.
Gargalhou até o último instante.
No começo da madrugada, Laurinda aos bocejos, anunciou que era hora de fechar.
Ela olhou para os lados e viu cadeiras vazias, boa parte das amigas, arrastadas por seus homens, solicitadas pelos filhos pequenos, trôpegas ou mais ou menos sóbrias já se recolhera.
Era sua vez.
Despediu-se aos risos.
“Sábado eu volto. Amanhã não”.
Entrou na casa vazia e se atirou sobre a cama de solteiro.
As mãos tatearam o criado mudo em busca do porta-retratos.
Não conteve as lágrimas.
Sábado eu volto Laurinda.
Amanhã não posso.
Domingo é dia de visitar meu filho no presídio.
Passou o resto da noite chorando.