O riso e a dor

Juntamente com outras colegas viúvas, ainda que de maridos vivos, rumou para o bar de Laurinda. Também mulher solitária, encarregada de arcar com o sustento da família.

Pediu logo uma cerveja, depois vieram outras.

Uma semana de trabalho vencida, merecia comemoração.

Bebeu. Riu. Contou causos e piadas. Até dançou.

“Coloca um samba pra tocar aí, Laurinda”.

Improvisou um baile de mulheres dançando umas com as outras. Arrasta-pé. Bolero. A sofrida “sofrência”.

Foi feliz e não se envergonhou de mostrar ao mundo sua felicidade.

Gargalhou até o último instante.

No começo da madrugada, Laurinda aos bocejos, anunciou que era hora de fechar.

Ela olhou para os lados e viu cadeiras vazias, boa parte das amigas, arrastadas por seus homens, solicitadas pelos filhos pequenos, trôpegas ou mais ou menos sóbrias já se recolhera.

Era sua vez.

Despediu-se aos risos.

“Sábado eu volto. Amanhã não”.

Entrou na casa vazia e se atirou sobre a cama de solteiro.

As mãos tatearam o criado mudo em busca do porta-retratos.

Não conteve as lágrimas.

Sábado eu volto Laurinda.

Amanhã não posso.

Domingo é dia de visitar meu filho no presídio.

Passou o resto da noite chorando.

Lucia Rodrigues
Enviado por Lucia Rodrigues em 19/06/2017
Código do texto: T6031805
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