A estranha

"Quem é essa mulher?" - Pensava compulsivamente. Tentava um esforço imenso, revirando todos os escaninhos do seu

interior, mas nada. Para o desespero dele, ela não apenas olhava fixamente e sorria com uma certa intimidade, que antes

de ser receptiva, deixava-o ainda mais ansioso.

"Quem era ela? Colégio? Algum Curso? Atendente?" - Seu rosto era tão familiar, mas ainda assim, não trazia nele, nada que

o desse alguma dica do que deveria lembrar.

"Por favor, passa direto! Faz apenas um aceno!" - Refletia, quase como a prece de um pecador, cujo pecado é não lembrar, mas não adiantou,

ela se aproximou!

"E agora? O que devo dizer? Será que ela vai perceber que eu não sei quem ela é?"...

E assim começou um diálogo difícil:

- "Quanto tempo! Você não mudou nada!" - Disse ela sorrindo!

Por sua vez, deveria dizer que ela mudou muito, porque não conseguia lembrar. Mas se limitou a um constrangido:

"Sim, muito tempo, mas você está ótima".

- "Como vão as coisas com os seus pais?" - Continuou para seu desespero.

- "Eles estão bem!" - Será que deveria perguntar dos dela? E se tiverem morrido? Se ela for adotada? Não sabia quem era essa mulher), mas novamente, tentou uma tangente: "Sua família está bem?"

- "ah! Que bom perguntar deles, eles estão ótimos e morrem de saudade de você!"

Bem, não bastasse não lembrar dela, agora, sentia-se duplamente culpado, porque não lembrava de uma família inteira que tinha saudades dele.

- "E os relacionamentos?" - Inquiriu ela com segurança...

Será que ela não ia parar nunca? Como sustentar uma conversa com alguém que sabe quem é, quando pouco sabe dela?

- "Continuo solteiro, mas estou bem." Viu que usava uma aliança e emendou: "E seu marido?"

- "Ah estamos bem! Planejando aumentar a família em breve" - Sorriu despretensiosamente.

Acho que nunca foi tão religioso como naquele momento, porque rezava aos céus por uma salvação e acredite, os céus escutam....

"Maria, o que você está fazendo com este homem?" - Uma voz que parecia vir do além, interrompia àquele momento.

"Este é o Bruno, meu amigo de infância, que não via há anos" - Ela respondeu, olhando na direção do inquisidor.

- "Mas peraí, eu não me chamo Bruno. Sou o Paulo!" - Repentinamente, sua voz interior falou, quebrando àquele momento.

- "Como assim Paulo, Bruno? Você sempre brincalhão!" - Ela parecia não acreditar e seu marido (julgava ele), estava completamente perdido na situação.

- "Sim, Paulo, advogado, solteiro e morador de Laranjeiras". Disse, voltando à respirar...

- "Sério, que você não é o Bruno?" - ela parecia incrédula e só faltou pedir um beliscão para acordar, mas não o fez felizmente.

- "Infelizmente, sim! Sinto muito!" - disse ele, numa tentativa de consolar o desencontro..

- "Mas porque você continuou o diálogo, se não me conhecia?" - O tom dela havia mudado, parecia desconfiada e logo, se segurou no braço do marido,

clamando proteção.

- "Porque a achei familiar, poderia ser alguém que eu não estivesse lembrando. Mas desejo felicidades à vocês e ao Bruno, se de fato o encontrar" - Virou e

saiu andando, enquanto ao fundo, ouvia esposa e marido se estranhando por um estranho.

"Ainda bem que minha memória não está tão ruim assim." - Afirmou, enquanto caminhava, sentindo como se houvesse passado em uma difícil prova. Riu sozinho.