Conviver sem julgamento

Haviam dois vizinhos chamados Discernimento e Julgamento.

Discernimento era o mais velho do bairro. De perfil sereno, Discernimento era discreto, bem observador e comedido em suas palavras. Tinha o dom da distinção entre o certo e o errado. Discernimento sempre sabia o lugar de cada coisa e pessoa na cidade.

Julgamento era o morador mais novo. Afoito, exasperado, Julgamento sempre se excedia no relacionamento com os outros. Eram raras as vezes em que ele não passava da hora fazendo barulho e incomodando os vizinhos.

Certa vez, no dia do caminhão da limpeza passar para recolher o lixo das casas, Discernimento se atrasou para colocar o da sua casa.

O vizinho Julgamento, incomodado com os detritos da casa do vizinho, foi bater em sua porta para tirar satisfações, condenando-o pelo acontecido: “- Vizinho, o Sr. é um mal educado! Porque não colocou o lixo pra fora? Que absurdo!”

Discernimento ouviu calado as reclamações de Julgamento, e com serenidade respondeu: “ – Amigo, perdoe-me! Ontem estava acompanhando meu filho no hospital o dia inteiro. Cheguei tarde da madrugada e, antes de entrar, o lixo da sua casa estava todo espalhado na calçada pelos cachorros. Peguei uma sacola, recolhi e coloquei no cesto novamente, e na manhã seguinte colocaria o meu. Contudo, fiquei sem sacolas e por isso não pude colocar o meu a tempo”.

Quando o julgamento estiver batendo a sua porta, tenha calma. Em silêncio, olhe serenamente pra dentro de si e, no momento certo, mostre, com discernimento, as suas razões para agir de uma determinada forma.