Pintura de luz

Cuidadosamente, ele fechou todas as cortinas do quarto enquanto ela se arrumava diante do espelho de corpo inteiro. Finalmente, deu-se por aprovada e virou-se para ele, mãos na cintura.

- Estou pronta.

- Está linda!

Ela voltou-se para o espelho e sorriu para a própria imagem. Estava mesmo. O vestido midi de cetim vermelho, estampado com padrões abstratos mais escuros, caía perfeitamente em seu corpo, quase como uma carícia de tão leve. A única coisa que lhe parecia estranha era estar tão alinhada e sem sapatos, mas ele preferia que ela estivesse com os pés totalmente à mostra.

- Pode se posicionar? - Ele indagou.

- Como quer que eu fique?

Ele apontou para um pufe de couro vermelho, luzidio, colocado sobre um lençol de cetim, também vermelho, num canto do quarto.

- Deite aqui, braços e cabeça apoiados no pufe... corpo numa posição quase fetal.

Obedientemente, ela seguiu as indicações. Recostou-se no pufe, cabeça apoiada nos braços, olhando para a câmera fotográfica no tripé em frente. Ele olhou pelo visor da câmera e fez os ajustes finais de foco. Em seguida, pegou uma pequena lanterna de LED, o controle remoto do disparador automático e apagou a luz do quarto.

- Relaxe - disse ele em meio às trevas.

- Se relaxar mais, eu durmo - ela respondeu, em tom brincalhão.

Ele acendeu a lanterna e apertou o botão do disparador automático. No quarto escuro, um feixe de luz projetou-se da lanterna e, pincelada por pincelada, começou a revelá-la para a câmera.

[23-03-2017]