A Quadratura do Círculo- cap. 30

Eu tenho um nome incomum: Bartolomeu; por que esse nome? Já sabem, meu pai fez Sociologia na Puc, embora seja quitandeiro, quitanda que herdou da família; o seu bisavô já lidava com abobrinhas e mandioquinhas, mas ele resolveu ter um destino diferente; gostava de leitura e colecionava enciclopédias; decorava um verbete por dia, e lá viu a saga de Bartolomeu Dias da Silva, o bravo português que dobrou o Cabo da Boa Esperança. Decidiu ali:

“Quando tiver um filho se chamará Bartolomeu Dias da Silva !”

Quando conheceu minha mãe, veio com essas ideias, que achou estranhas, porém quando nasci, permitiu apenas o Bartolomeu, o Dias da Silva não pegou, já minha irmã recebeu um nome mitológico : Selene; essa é a sina de quem é filho de pessoas que leem livros!

O que tenho eu a ver com esse navegador português? Absolutamente nada; só sei que ele entrou bem, como todos os exploradores, porém meu nome é mais curioso ainda: Bartolomeu Fitzgerald de Souza; o porquê desse nome tão estranho é que tenho uma ala da família que tem parentes nordestinos; esses gostavam de ler romances e um deles resolveu incorporar Fitzgerald no nome, pois era fã do romancista norte-americano. Por isso se lê na porta de nossa quitanda: “ Quitanda Fitzgerald”. É um nome estranho, até extravagante, mas que dá certo charme a coisas comuns, tão caro a pessoas tão comuns, que querem dar um toque exótico às suas coisas; dá para entender.

- Bartolomeu Dias da Silva, quem dobrou o Cabo da Boa Esperança.

Ouvia isso desde criança, mas não gostava quando me caçoavam na escola:

-Bartolomeu Fitzgerald, háháháháhá!

Por isso me chamavam apenas de Bartô; e foi lá que conheci Rufino; esse também tinha um nome estranho; Rufino é o sobrenome. Na verdade seu nome é Empédocles Rufino; seu pai também deveria ler mitologia grega. Ele detestava esse nome e, se alguém o chamasse por ele, dava uns socos, bem dados, pois seu físico já era avantajado. Isso nos aproximou; o fato de termos nomes esdrúxulos, tanto que sempre dividia meu lanche com ele, quer dizer, ele comia tudo, com aquela sua voracidade típica. Sempre dizia: “ô, amigão, o que temos pra hoje?”- e esfregava as mãos. Considerava-se meu melhor amigo, tanto é que nossa amizade durou, talvez pelo estômago, pois sempre fazíamos churrasco lá em casa:

-Da próxima vez sou eu que faço, hein?- Mas era sempre eu que fazia e a bagunça era lá em casa.

Mais tarde conheceu umas meninas e nos afastamos um pouco. O resto é história, tanto que chegamos à situação atual; se morro de raiva, ainda acho, no íntimo, que foram feitos um para o outro, ele e Paloma; resta a mim ficar com a Rafaela. Mas que estou eu dizendo? Eu gosto de Rafaela; quero me convencer disso; sua simplicidade e displicência me encantam; quer dizer, não tenho todo o trabalho que tinha para a gradar a Paloma, toda mimada e com gostos sofisticados. A Rafaela não abre mão do arroz e feijão! Com a Paloma era de faisão para cima, embora dissesse que era simples e não ligasse para isso... está bom , me convença disso. E não reparou que Rufino progredia na Bolsa? Me arrependo do que disso; na verdade era uma grande mulher!