Tropa de Elite em sala de aula

Tropa de Elite em sala de aula

- Professor, você não acha que eu mereço mais meio ponto aqui nesta questão?

- Mais meio ponto, senhor 08?

- 08?

- Seu número na chamada, cidadão. Quer dizer, mais meio ponto? Por que mais meio ponto, senhor 08?

- Olha, você bem que podia me ajudar, porque eu mereço...

- Ah, quer dizer que o senhor merece? Bom, eu vou te ajudar. Eu quero te ajudar. Porém, para te ajudar, o senhor precisa me ajudar. Quem quer rir tem que fazer rir!

- Ué, mas você nunca ri das minhas piadas em sala de aula!

- Porque quem ri da minha cara é o senhor e a turma inteira! Esse meio ponto fica pelos atrasos, pelo número de vezes em que o senhor mexeu no celular, pelas brincadeiras fora de hora. Pede para sentar!

É assim muitas vezes a relação professor-aluno em sala de aula. Como estamos vivendo uma verdadeira crise de autoridade pro parte da escola e do docente, seria ótimo se os mestres pudessem invocar certos preceitos do filme “Tropa de Elite” para lidar com esses adolescentes coitadinhos vítimas desse sistema tão opressor.

- Ae!

- “Ae”? Em algum idioma primitivo isso é sinônimo de “professor”?

- Sei nem o que é si... sinô... si... ae, dá mais cinco minutos para eu terminar a redação!

- Por acaso foi uma exclamação que eu vi no final dessa frase no lugar de uma interrogação?

- cri cri cri

- O senhor tem cinco segundos, 06. Cinco segundos.

- Mas aí eu não vou conseguir terminar!

- A culpa não é minha.

- Nem minha!

- E eu que fiz a redação por acaso? Ou melhor, eu que fiquei quase uma hora de bobeira no lugar de fazer essa redação?

- Mas... mas fazer isso é muito chato!

- Chato é ser pedreiro, motorista de ônibus, vendedor de bala no sinal. O senhor tem cinco segundos, cinco segundos! O senhor é um fanfarrão, senhor 06. Como pode num país como o Brasil com tanta criança e adolescente nas ruas, cheirando cola e fumando crack, sem escola e sem educação, o senhor vem reclamar de fazer uma redação?

Pois é. A culpa nunca é deles. Relembro uma charge num momento assim. Nela, aparece uma família dos anos 60 dando uma bronca no filho por causa de notas baixas. Logo ao lado, uma família dos anos 2000 brigando com a escola por causa das notas baixas. Olha que a caneta é mais leve que a enxada.

- O senhor está dormindo, 23?

- Err...

- Quer dizer que o senhor está dormindo?

- Estou com sono!

- Por acaso o senhor ficou trabalhando até altas horas da noite ou cuidando de algum recém-nascido?!

- Não, mas estou com sono, tenho o direito de dormir em sala de aula e você não pode me acordar!

- Toda vez que alguém usa a palavra “direito” num contexto como esse os redatores da Declaração Universal dos Direitos Humanos se remexem no caixão ao som de ragatanga!

- Azereje...

- Não é para cantar, senhor 23. Agora, o senhor vai ficar com esta granada até o final da aula. Se o senhor dormir, você vai se explodir, explodir os seus colegas, me explodir e explodir a escola inteira...

- “E as minas tipo bumbum granada, taca taca, taca”.

E começa um baile funk em sala de aula, mas isso é outra história.