UM CONTO DE VIDA

Cansada me levantei, da vida, estava eu cansada, pois que nada de novo e de bom acontecia neste arraial, nessas pequenas terras, apenas trabalho, monotonia, cansaço e muita desesperança!

Fui à janela de minha pobre choupana e as outras moradias, também pobres, pareciam chorar umas agarradas as outras como que a temerem um solavanco da vida e chorei uma dor que vinha lá do fundo de meu peito, uma solidão infinda. Decido, naquele momento, por um fim nesta minha vida tão inútil!

Fechei a porta, e segui em frente decidida a subir o penhasco em frente e me jogar lá do alto. Assim fiz, calma caminhei, a subida foi tornando-se íngreme e de difícil andar entre as galhadas verdes que precisei saltar.

Não resisti o cansaço e me sentei, afinal era a primeira e a ultima vez que subia aquele morro. Sentada em um tronco de cor sépia alaranjado fiquei as espreitar uma formiga a carregar enorme folha

que logo em seguida encontra-se com outras enfileiradas, para, conversa, junta-se a elas e outras seguem sentido contrário indo justamente no local onde havia muitas daquelas folhas!

Já descansada, levantei-me e prossegui a jornada, agora mais íngreme e me deparei com um pequeno lagarto emaranhado em finos cipós. Pensei, não posso deixa-lo assim e com o auxilio de uma faquinha, que sempre carrego comigo, fui libertando-o aos poucos e o vi correr feliz pelas plantas!

Teria prosseguido, em seguida, se não fosse um espetáculo que teimei em apreciar, uma crisálida se transformando em borboleta! Que espetáculo! O esforço gigantesco da borboleta para se desvencilhar do casulo e fiquei imaginando o quanto a lagarta teria comigo de folhas para dispender tanta energia!

Enfim surge lindamente colorida a borboleta que, se lança no espaço e voa como que para a liberdade deixando um rastro de azul violeta naquele verde infinito!

Como que meio esquecida do meu intuito, o de por um fim à minha existência, olhei para o alto do morro e vi que pouco faltava, para aquele ato e fui prosseguindo quase agachada, até que cheguei!

Lá embaixo um mar azul esverdeado brincava nas pedras do penhasco terminando em escumas alegres, ao longe o marinho do

azulmar abraçava algumas ilhotas e na linha onde o mar encontra o céu deslumbrei-me com a intenção do Criador, o de mostrar que tudo o que está em cima é igual ao que está embaixo!

Tudo era um grande presente de Deus , que eu, em minha sandice,jamais havia me dado conta e agora iria perder-me no ar, estatelar-me, o corpo e fim de linha?

Não, penso nas formigas, no lagarto, na borboleta, no mar, nas pedras e não sou tão mais importante?

Voltei, agora com mais facilidade para descer, pois que meu peso

diminuíra e minha culpa trouxera-me de volta à vida e notei que tudo estava exatamente igual, apenas os meus olhos estavam acima de minha pequenez. Crianças brincavam, mulheres trabalhavam e me pus a ajuda-las como sempre, feliz, agora!

Eugênia L.Gaio-14/01/2017

Eugenia L Gaio
Enviado por Eugenia L Gaio em 14/01/2017
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