As estradas do meu Coité

Entremos naquele velho Chevrolet, sim?

Vamos um pouco além dos limites da cidadezinha de Conceição do Coité.

Atravessemos a Avenida Luís Eduardo Magalhães e sigamos pelas estradas que levam até a zona rural. Aos solavancos e sentindo o cheiro da poeira nos deparamos com belas chácaras das famílias abastadas da cidade.

Já não se vê o gado nos cercados se fartando do capim nem os grandes cajueiros com copas carregadas de verde e sim árvores mortas e desnudas que parecem acenar com seus galhos retorcidos.

Fazendo e refazendo tal trajeto ao longo de quinze anos, talvez mais, afinal “a memória é falha mesmo aos mais jovens” assim dizia meu falecido avô, dificilmente se nota as mudanças mais sutis ao longo da estrada; Sim vejo casas novas e as chácaras que de tão recentes exalam o cheiro de cal, de madeira recém-serrada, vejo os espaços vazios onde um dia coqueiros altíssimos erguiam-se como se pretendessem tocar o céu e terrenos onde o capim perdeu lugar para a grama sempre bem aparada.

Mas há os detalhes, os detalhes mínimos que se achegaram aos poucos, tímidos, que foram se constituindo, tomando forma, peso, ganhando espaço e por fim ali concretizaram sua morada, e de tão acostumados a eles mal percebemos sua ameaçadora presença se sobrepondo além do necessário.

E que diabos seriam esses detalhes, perguntam vocês a mim.

Bem, façamos assim, sigamos individualmente até o quarto de vossa casa ou mesmo o banheiro... Se foram até o banheiro, acima da pia deve ter um armário para miudezas, certo? Escova de dente, creme dental, remédios, shampoo, condicionares e sabe-se lá mais que diabos. A frente desse armário: um espelho, normalmente tem-se um, olhando fixamente para ele nós nos veremos e também os veremos. Os temíveis detalhes, as malditas criaturas do dia-a-dia, que de tão acostumadas a elas mal as notamos.

Agora que já as conhecemos, ou melhor, que as identificamos dentro desse contexto, entremos novamente naquele velho Chevrolet, atravessemos a Avenida Luís Eduardo Magalhães e adentremos a estrada sulcada.

Ali poderemos vislumbrá-las e também suas magníficas e grandiosas obras que de tão singelas (apesar de gloriosas) mal tínhamos notado antes.

E olhem! Aquela retroescavadeira, como parece um dinossauro faminto escavando a terra, arrancando não só ervas-daninhas.

Wenderson M
Enviado por Wenderson M em 04/04/2016
Reeditado em 30/06/2017
Código do texto: T5594537
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