Remorsos...
Já era noite de sexta-feira e daí a minha pressa em chegar logo em casa.
Não adiantou correr, pois acabei perdendo o ônibus lotado e o meu fôlego.
Voltei chateado para o ponto de ônibus onde havia um rapaz sentado em um canto na penumbra.
Cabisbaixo e pela aparência das roupas, pareceu-me desprovido de recursos e com frio.
Escolhi o canto oposto e por um instante me arrependi de estar ali.
Fiz um gesto agoniado com minha mochila contra o peito tentando proteger disfarçadamente o notebook.
Não lhe dei as costas por precaução, mas fingi me virar para não encará-lo.
Incomodei-me com a pouca iluminação o que me obrigou se ajeitar desconsolado naquele banco curto e frio enquanto o ônibus não vinha.
Foi então que gelei quando percebi o rapaz vindo em minha direção. Prendi a respiração quando ouvi sua voz:
- Me dê sua mochila, rápido....
- Seguro para o senhor enquanto pega a sua carteira que caiu ali atrás...Mas se apresse, pois é uma poça de água suja...
Não lembro quando me recuperei do susto.
Mas recordo-me com remorsos me atrever a oferecer-lhe uns trocados e minha blusa de frio.
Ouvi com um nó na garganta sua recusa educada...
- Obrigado, mas meu ônibus chegou...
Seu ônibus partiu, mas ainda deu para ouvir um último conselho com uma mensagem embutida que lembrou minha mãe:
-O senhor precisa ter mais cuidado...
(11 de julho de 2015)