Perfeita Combinação

Buscava pano para um vestido. Azul-claro, tecido leve e solto, como tinha que ser. Queria arrasar! No meio de seus sonhos-devaneios surgiu a vendedora perguntando: “E então, meu filho, o que vai querer?” Espremeu as lágrimas com força bem na palma da mão esquerda. Chegou a doer; não se entregou. “Quero nada não” e saiu depressa, fronte baixa, antes que viesse a explosão. E aconteceu na rua, a caminho de casa. Maldosa, míope ou sem-juízo? Um par de brincos! Sim, com o cabelo curto e brincos, um par que combinasse com o vestido que logo mandaria fazer. Coisa rápida, "ai!", e a furada também. Saiu contente prevendo o fim de todas as confusões. Uma semana para a festa, entra em outra loja, desta vez com a mãe. Tecido escolhido, cortado, segue para o caixa. “Mãe, nos vemos lá embaixo, Ok? Assim você tem tempo de ver as promoções”. “Está bem!” Artigo pago, recibo em mãos, faltava o pacote. Uma funcionária, olhar torto, sem tato, chama o cliente da vez: “Aqui, rapaz!” Estica o pescoço e se aproxima, girando bem leve a cabeça em ambas direções; a funcionária lhe dedica um olhar banal. Entrega o recibo e fica olhando para o pacote balançando no ar. Numa última tentativa, estica bem o pescoço acariciando os brincos e ... “Esse é o seu pacote, não, rapazinho?” Não podendo mais conter a ira, deixou ecoar um tremendo grito: “Eu sou menina, ME-NI-NA!!”. Buscou a saída: pára-raios. Nas orelhas, queimavam os brincos; e embaixo do braço, o peso quase insustentável do leve tecido azul.

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Revisado em 18.09.2010