Via crúcis para o perdão (Partes 7 a 10)

Parte 7 – Nos jardins do Grande Pai

Volitaram novamente e Pedro se viu em um lindo jardim! Tão lindo como ele nunca tinha visto antes. Flores belíssimas, pássaros, fontes de água cristalina... Enfim, um lugar de absoluta paz e harmonia. Olhou para o guardião e parecia perguntar que lugar era aquele. Não teve tempo de externar a pergunta que lhe vinha na mente, pois várias crianças, as mais diferentes possíveis, apareceram do nada e os circundaram. Traziam doces, balas, brinquedos e outras coisas típicas do universo infantil. Todas elas sorriam e brincavam muito. A felicidade era nitidamente verdadeira ali.

Aproximaram-se mais e começaram a correr ao redor dos dois. O antes sisudo guardião sentou-se no chão, riu junto com as crianças e fez sinal para que Pedro se sentasse também. Aquela alegria era contagiante. Sentado, uma das crianças, um menino, achegou-se a ele, pegou suas mãos, beijou-as e disse:

– Salve, tio! Tudo bem com o senhor?

– Agora sim! – respondeu Pedro.

– Que bom, né tio! Agora a vida do tio vai dar uma melhorada boa. O tio já passou por um monte de coisa, fez um monte de limpeza, então tá prontinho pra começar tudo de novo. Mas o tio não pode dar espaço para as coisas ruins entrarem de novo na vida do tio. – e olhando bem nos olhos de Pedro: Tio tá me entendendo?

Pedro acenou positivamente com a cabeça e não pôde deixar de admirar-se com a sabedoria e a naturalidade com que aquelas palavras saíram da boca daquela criança. Esta, aliás, percebeu e, sorrindo, disse tranquilamente a Pedro:

– Tio, a gente é criança, mas desse lado de cá a gente sabe muita coisa e vê muita coisa que vocês adultos na terra fazem. E algumas, tio, deixam a gente bem triste porque vocês têm tudo pra fazer um mundo bem bonito e bem feliz pra todo mundo viver. Mas vocês fazem tudo ao contrário do que o nosso Pai ensinou, por isso precisam passar por essas dificuldades todas. Agora, tio, a gente precisa ir porque nosso Pai tá chamando e tá chamando o senhor também. Tchau, tio!

E saíram todas correndo, pulando, brincando, sendo felizes. Era esse o jeito que deveriam ser todas as crianças da terra. Pedro perguntou ao guardião o que significava aquela última fala da criança “Nosso Pai tá chamando e tá chamando o senhor também.”.

– É tua última parada antes do teu retorno. Temos de nos apressar porque o teu tempo aqui está esgotando. Vamos caminhando para que possamos aproveitar a linda vista desse jardim. Afinal de contas não é sempre que se pode ter este magnífico colírio para os olhos.

Caminharam por alguns minutos e chegaram a uma praça ampla e tão bela quanto o jardim em que estavam. Pararam diante de uma fonte de onde jorrava uma água tão límpida e cristalina como ele nunca vira antes. Perguntou ao guardião se podia tomar daquela água e após o consentimento, constatou que o sabor era de uma pureza jamais imaginada.

Pouco tempo depois surgiu diante deles um senhor vestido de branco que trazia em seus ombros uma pomba totalmente branca e segurava em sua mão direita um cajado. Imediatamente o guardião ajoelhou-se e saudou-o:

– Epá, Babá! Salve suas forças meu pai! – desta vez, Pedro acompanhou rigorosamente o guardião que o guiava.

– Salve vossas forças, meus filhos. Sejam bem vindos! – disse abrindo os braços em direção a ambos. E dirigindo-se ao guardião:

– Guardião, muito agradecido por teus serviços. Cumpriste muito bem a missão que te foi destinada. Isto também faz parte de tua própria evolução. Fica em paz e aguarda para que possas acompanhar este filho em seu retorno.

O guardião meneou satisfeita e afirmativamente a cabeça e pôs-se a certa distância. O senhor postou-se diante de Pedro, tal o pai diante do filho para uma conversa franca. Diferente das outras vezes, Pedro não se sentiu assustado ou com medo. Muito pelo contrário. Aquele senhor transmitia uma paz e uma tranquilidade que ele não soube descrever. Com voz macia, mas firme, pediu que Pedro levantasse a cabeça e o olhasse diretamente nos olhos.

– Filho, creio que agora saibas por que estás aqui, não é mesmo?

– Sim, senhor! Agora eu sei. Cometi erros terríveis, deixei dominar-me pelo ego e pelo materialismo excessivos e, além de ferir seriamente os outros e desrespeitar ostensivamente as Leis Divinas, não me permiti enxergar que feria seriamente a mim mesmo.

– Bom que reconheceste. Vejo sinceridade em teu olhar e em teu coração. O que vivenciaste aqui será guardado em teu íntimo e sempre que estiveres em dúvida ou em dificuldade, aquieta tua alma, tua mente e teu coração para te recordares e retornares aos caminhos que te foram destinados. Jamais esqueça que não te cabe, nem a ninguém, julgar quem quer que seja. Não cabe a ninguém decidir quando deve terminar a vida de outrem, nem mesmo a própria. Tudo isso cabe apenas à Espiritualidade Superior. Tu retornarás agora ao teu corpo carnal, porém, terás como missão repassar o máximo do que aprendeste enquanto estiveste aqui.

Pedro assustou-se nesse momento. Aquilo parecia muito para ele.

– Calma! Tenha fé em todos que passaram por teu caminho aqui. Tenha fé no Grande Criador de tudo e todos. Tenham fé também e principalmente em ti. Sem fé, nada se concretiza, nada se realiza. Nós, da Espiritualidade, estaremos contigo através de teus pensamentos e de nossas irradiações, intuições e o que mais for preciso. No entanto, não podemos caminhar os teus passos. Nossa função é orientar-te, amparar-te, proteger-te e mostrar-te os caminhos. Quem decide, de fato, qual rumo tomar, és tu, meu filho! Jamais te esqueças disso. Agora vai, pois precisas retomar o caminho do qual te desviaste. Este guardião que te acompanhou estará sempre contigo. Sempre que quiseres falar-lhe, pensa nele com fé e devoção que ele virá em teu auxílio. Ele não é teu serviçal, como pensaste durante muito tempo no plano terreno. Ele é teu conselheiro. Enquanto te mantiveres nos caminhos da Lei Maior, ele e todos nós estaremos ao teu lado. Do contrário, terás de arcar com a colheita do que vieres a plantar. Vai em paz!

Ao dizer isso, o Senhor de branco espalmou as duas mãos sobre a cabeça de Pedro e, a partir desse ponto, envolveu-o em um invólucro de luz muito branca. Chamou o guardião e ordenou:

– Já chegou a hora! Leva-o!

Parte 8 – Retornando para ascender

E assim foi feito! Quando o guardião levou Pedro de volta, ele, Pedro, notou que não estavam mais no cemitério, mas sim numa sala de hospital. Mais precisamente numa sala de cirurgia. Eles pairavam sobre a sala e Pedro estava a ver seu próprio corpo.

O guardião explicou-lhe que o acharam no cemitério desmaiado e levaram-no ao hospital. Seu estado de saúde era muito grave e ele estava há sete dias internado e nos três últimos dias caíra em estado de coma. Os médicos estavam fazendo de tudo para salvá-lo, mas o caso era muito difícil.

Antes que Pedro pudesse retornar ao seu corpo físico, o guardião levou-o à sala de espera do hospital e Pedro viu alguns rostos conhecidos: seus pais, sua ex-esposa com seu filho, os irmãos e alguns poucos amigos. Olhando para as faces deles, Pedro viu uma profunda tristeza nos olhos. Foi quando o guardião perguntou:

– Então, queres vê-los felizes ou queres arcar com o ônus de causar mais um desgosto a teus entes queridos?

Pedro, aos prantos, decidiu que era hora de voltar e ser feliz ao lado quem realmente o queria bem. O guardião conduziu-o, então, até a mesa de cirurgia e fê-lo entrar em seu corpo. No mesmo instante o desfibrilador foi usado pela última vez. A máquina que acompanhava os batimentos cardíacos deu o sinal de vida. Os médicos espantaram-se, pois haviam presenciado um milagre ali naquela sala.

Aos poucos, Pedro foi recobrando a consciência, mas as funções vitais de seu corpo físico ainda estavam fracas e ele permaneceu internado por mais uma semana. Nos primeiros dias após o “retorno”, não conseguia falar, apenas abrir e fechar os olhos e pequenos movimentos com as mãos. Quando as visitas foram liberadas e Pedro foi transferido para um quarto normal, os primeiros a visitá-lo foram sua ex-esposa e seu filho. O pequeno segurou na mão do pai, beijou-a e murmurou:

– Volta pra gente, papai! Eu sinto muito a sua falta. Eu te amo!

Ao ouvir aquilo e não poder se expressar verbalmente, Pedro deixou que algumas lágrimas escorressem de seus olhos. Agitou-se um pouco, mas a enfermeira que acompanhava a visita tratou de acalmá-lo. Aquilo fez com que ele não tivesse mais dúvidas de que era a hora de dar um novo rumo à sua vida. Seguiram-se as visitas sem que nada de novo ocorresse, apenas felicitações por ele estar se recuperando e do quanto ele deveria ser grato a Deus pelo milagre de estar vivo após tudo o que passou.

Quando voltou a falar, solicitou à enfermeira para que chamasse sua ex-esposa e seus pais e pediu perdão a eles por tudo o que havia causado. Agora ele tinha consciência do quanto havia se deixado dominar pelo ego e pela soberba e que esses males haviam sido o motivo de sua queda, pois ao permitir que fosse dominado paulatinamente, eles acabaram abrindo as portas de seu campo energético para que espíritos negativos o obsediassem das mais diversas formas. Agora, ciente de seus débitos, ele estava disposto a quitá-los sem reclamar do preço.

Depois pediu para ficar a sós com a ex-esposa, cujo nome era Patrícia. Disse a ela que tinha plena consciência de que não era mais possível o reatamento da relação entre eles devido aos grandes prejuízos emocionais que ele provocara. No entanto, pediu de forma veemente que não afastasse dele o filho que tinham. Num misto de alívio e emoção, Patrícia respondeu que nunca tivera essa intenção e que torcia de verdade para que ele se recuperasse e desse novo e correto rumo à própria vida dali por diante. Acertadas as contas, despediram-se.

Parte 9 – Recebendo a visita do Guardião

Na noite do último dia em que permaneceu no hospital, Pedro recebeu uma visita inesperada. Estava quase dormindo, meio perdido em pensamentos e ainda com algumas dores, quando a porta do quarto foi aberta. Entrou por ela um homem vestido de terno, cartola e segurando uma bengala em sua mão direita. Fechou a porta e cumprimentou com voz grave:

– Boa noite, Pedro. Como você está?

Pedro assustou-se. A luz do quarto estava apagada e não era possível ver direito o rosto daquele homem. Antes de pressionar o interruptor que ficava ao lado da cama, Pedro perguntou:

– Desculpe, mas não consigo reconhecê-lo. – e acendeu a luz.

– Tem certeza? – disse o homem tirando a cartola e aproximando-se de Pedro e agora com a luz do quarto já acesa.

Pedro demorou alguns instantes para perceber. Fechou os olhos e foi buscar lá no fundo de si a imagem daquele homem. Ao abrir os olhos, reconheceu a figura do guardião que o acompanhara na sua via crúcis.

– Guardião? É você mesmo? – perguntou Pedro, deixando o medo de lado.

– Sim, sou eu mesmo. Obtive autorização de meus superiores para vir visitá-lo antes que voltasse para casa. Vim trazer-lhe um presente. – ao dizer isso, estendeu a Pedro um pequeno punhal de lâmina prateada e cabo preto, no qual havia, em cada um dos lados, um tridente desenhado em vermelho. Pedro reparou que um dos tridentes era reto e o outro era curvo.

Adivinhando o pensamento de Pedro, o guardião disse-lhe que o tridente reto representava a força masculina dos guardiões à esquerda da Luz, enquanto o curvo era símbolo da força feminina desta mesma linha. E explicou:

– Sempre que estiver em dificuldades emocionais e espirituais, por qualquer motivo que seja, pegue este punhal, segure-o com ambas as mãos elevando-o ao alto e em seguida trazendo-o para baixo. Firme seus pensamentos nessas dificuldades e chame pelo seu guardião, no caso eu. – e deu uma pequena gargalhada. – Tenha fé em tudo o que fizer e pedir que, enquanto você se mantiver no caminho da Luz, nada lhe faltará, desde que seja do seu merecimento. Nunca, jamais, em hipótese alguma use este punhal ou a sua conexão com o outro lado para prejudicar novamente seus semelhantes. Não interessa o que lhe tenham provocado, resigne-se, pois estamos sempre de olho para cumprir o que a Lei determina. Acho que você já teve uma noção do que acontece a quem infringe as Leis Divinas e você já está em sua segunda chance. Tenha certeza que não haverá a terceira.

– Fico extremamente agradecido pelo presente e por tudo que você e todos os demais fizeram por mim. Juro que vou fazer por merecer cada palavra, cada gesto que foi dirigido a mim com o intuito de me ajudar. Pelo que vi, não quero ser um inimigo, nem um transgressor da Lei outra vez. Mas como devo chamá-lo?

– Me chame apenas de Guardião, pois é isto que sou. Trabalho sob as ordens e a proteção do Senhor Tranca Ruas. Respeitando-o e reverenciando-o, estará também fazendo isso por mim. Também trabalho para minha evolução. Você saberá de muitas coisas ainda, mas cada uma a seu devido tempo. Agora preciso ir. Fica em paz e segue sempre teu caminho pela Luz, porém, se um dia precisar andar pelas trevas, pode me chamar que irei contigo. Lá nas trevas há muitos outros guardiões que prestam serviços inestimáveis à Luz. Adeus e até a próxima.

Despediram-se com um aceno de mãos e o guardião simplesmente sumiu no ar diante dos olhos pasmos de Pedro.

Parte 10 (Final) – Relembrando e voltando para casa

Façamos uma pequena pausa e falemos um pouco de Pedro. Ele era um médium que frequentava há tempos uma casa espírita que seguia os ditames do kardecismo, mas que também abria espaço para algumas entidades atuantes nas linhas de umbanda, como os caboclos e pretos-velhos. Sua atuação na casa era das mais importantes e muitas pessoas faziam questão de tomar seus passes com ele.

Sem que se apercebesse, Pedro deixou uma pequena fresta por onde adentraram seres da baixa espiritualidade que começaram a inflar-lhe o ego e a vaidade. Esses venenos penetraram a tal ponto em sua alma que ele passou a se sentir o mais importante e não apenas mais um dos trabalhadores da casa. Em determinado momento, começou a fazer alguns trabalhos pagos de amarração e desamarração, agora instigado pelos seres que se puseram ao seu redor. Com o poder e a vaidade no mais alto grau, começou a aceitar também trabalhos que visavam a prejudicar diretamente a outras pessoas. Acumulou um bom dinheiro com isso. Porém, não percebia que cavava a própria cova.

À época, o dirigente e outros companheiros da casa em que trabalhava tentaram, sem nenhum sucesso, alertá-lo sobre os perigos e consequências do que estava fazendo. Não deu ouvidos e o resultado foi o seu desligamento forçado e nada amigável da instituição que lhe acolhera.

De uma hora para outra a sua vida começou a degringolar. Os bens que conquistara começaram a ser perdidos em vícios como a bebida, os jogos de azar e os prazeres libidinosos da carne. Perdeu a esposa, quase perdeu o filho, os parentes e poucos amigos se afastaram. A cobrança da espiritualidade começara. Pedro havia se esquecido de que todos os seres têm a própria egrégora protetora e de que a Lei do Retorno funciona inexoravelmente para todas as criaturas. Todas as ações negativas que praticara começaram a se voltar contra ele. O resultado já conhecemos, basta lembrarmos ou voltarmos ao início desta história.

Voltando aos dias atuais, Pedro teve alta do hospital e voltou para casa. Rompeu o contrato de aluguel, pois não queria mais morar na antiga casa. Recolheu apenas as roupas e alguns objetos pessoais e foi morar próximo as pais, numa casa ao lado que, aliás, era de propriedade deles. Conseguiu um emprego, pois afinal de contas era um ótimo engenheiro. Assim que foi possível, deu início a um processo de renegociação de suas dívidas e foi quitando-as aos poucos.

A primeira atitude que teve ao sair do hospital e reinstalar-se na nova residência, foi procurar o centro espírita que frequentara por anos. Ao entrar, num dia de intenso trabalho, foi recebido com desconfiança e um pouco de desdém, mas não reagiu. Esperou com paciência pelo momento de tomar o passe e no fim da sessão pediu para falar com o dirigente, que o recebeu com reservas. Pedro pediu perdão por tudo o que causara à casa e aos trabalhadores, disse que estava recomeçando a sua vida e gostaria de não ter esta mancha em seu passado. O dirigente sorriu, abraçou-o e respondeu-lhe que já estava perdoado. Agora cabia a ele não errar mais e batalhar para não cair em tentação novamente, pois as provas seriam maiores daquele momento em diante.

Pedro, inspirado pelo seu guardião, procurou estudar e conhecer sobre a religião Umbanda e acabou por se apaixonar e tornar-se um adepto. Conheceu algumas casas e fixou-se em uma, onde ele retomou a sua estrada mediúnica. Passou por todo o processo de desenvolvimento e entrou para a corrente de trabalho. Naquela casa ele era apenas mais um trabalhador, tinha plena consciência disso e nunca mais deixou que nada o atrapalhasse.

Não se casou novamente, mas, por outro lado, o convívio com o filho intensificou-se desde sua saída do hospital; a tal ponto que na adolescência, o garoto optou por morar com o pai. Não teve mais uma vida de luxos, o emprego garantia-lhe o necessário para uma vida sem muitos problemas e ele estava feliz com isso. Quanto ao punhal que recebera do guardião? Bem, Pedro trazia-o sempre consigo e recorrera a ele muitas e muitas vezes, utilizando-o, inclusive, em muitos dos passes que aplicava.

Os anos foram passando e a Vida foi trazendo mais algumas faturas para Pedro, que enfrentou ainda algumas demandas decorrentes de seus erros anteriores. Como se manteve sempre no reto caminho da Luz, venceu a todas, embora não sem sequelas. Se a força espiritual continuava forte, não podia dizer o mesmo do físico.

Nesse meio tempo, presenciou o desencarne dos pais e de alguns amigos, os poucos que não lhe abandonaram e de outros que fizera após sua regeneração. Se a Vida lhe trouxe estes ônus, também lhe trouxe belas passagens. Por exemplo, ver o filho crescer, tornar-se um homem íntegro, casar-se com uma pessoa séria e honesta e dar-lhe um neto e uma neta. Quando as crianças nasceram, seu filho e nora deram ao menino o nome de João e à menina o nome de Rosa. Esses nomes fizeram com que Pedro se lembrasse de algo e sorrir discretamente. Era o último presente que recebia, em vida terrena, da espiritualidade. Tinha total noção de que a hora de voltar estava cada vez mais próxima, mas estava absolutamente feliz e tranquilo. Deus lhe dera ainda a oportunidade de acompanhar a primeira infância de João e Rosa.

Um dia, cerca de quarenta anos após a queda no cemitério, o coração de Pedro bateu pela última vez. Estava em casa, sentado em sua poltrona preferida, pensando na vida e segurando o punhal quando os olhos se fecharam e derradeiro suspiro anunciou a partida de volta para casa.

Ao chegar do outro lado, foi recebido pelo seu guardião, que assim o cumprimentou:

– Bem vindo, velho amigo! Bem vindo de volta!

O que houve dali por diante pertence apenas à espiritualidade. Sabemos apenas que vida e morte são caminhos que se completam e que não existem de forma dissociada um do outro. E nós, simples caminhantes do Criador, vamos percorrê-los quantas vezes forem necessárias para o nosso aperfeiçoamento.

Cícero Carlos Lopes – 30-09-2017

Cícero Carlos Lopes
Enviado por Cícero Carlos Lopes em 18/10/2017
Código do texto: T6146078
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