Apesar de meus 42 anos sou do tipo bem apessoado, descendente de índígena com avós italianos, saí um índio alto de cabelos lisos e negros como os olhos verdes de minha falecida avó. 

Sempre tive tudo que quis em minha vida, dei muita sorte de nascer em uma família rica. Seu Gustavo, meu falecido e carinhoso pai foi diretor industrial de uma grande multinacional do ramo alimentício. Ele teve uma infância muito precária no interior do Ceará, veio para sâo paulo ainda menino e construiu uma carreira que o fez aos 36 anos diretor de uma multinacional. Como foi privado de muitas coisas materiais em sua infância decidiu me dar tudo o que nâo teve em  e muito mais, queria me esconder a miséria do mundo atráz da vida luxuosa que fazia eu levar.

Seu Gustavo me presenteava de tudo quanto eu desejava. Filho único tinha tudo o que queria desde que abri os olhos para esse mundo. Ele só me levava a lugares luxuosos, parques de diversôes maravilhosos, viagens ao exterior, queria montar um mundo ao meu redor com aparência perfeita me ocultando o lado sombrio da vida. Jamais me levava  as periferias da cidade ou a locais precários.  Quando menino era de casa para escola sempre com nosso motorista particular que me levava na ida.

Meu pai apesar de ser um homem extremamente ocupado e a frente de uma grande empresa jamais me negou sua atençâo e carinho. Fazia questâo de todos os dias largar suas atividades executivas e me buscar na escola para podermos ter a presença um do outro na volta e chegando em casa almocávamos juntos.

No almoço éramos somente os dois, minha mâe trabalhava fora e eu tive a oportunidade de viver esses momentos somente eu e ele que marcaram muito minha infância, aliás, só de relembrar agora do trajeto que fazíamos de volta todos os dias , sabendo que hoje ele nâo está mais aqui meus olhos se enchem de água nesse momento. Como eu queria voltar no tempo e reviver aqueles momentos eternos como meu pai, eu daria toda minha fortuna por um minuto novamente com ele. Eu amava também minha mâe, mas meu pai sempre teve um local diferente em meu coraçâo, e hoje como adulto e também a frente de uma grande compania entendo a grandeza do que ele fazia, largava a tudo e a todos para almoçar todos os dias com um menino de 6 anos. 

Ele me supriu de tudo, riquezas, viagens e muito mas muito amor mesmo. O único erro que talvez tenha cometido foi tentar desenhar um mundo a minha volta perfeito, nâo queria que eu sofresse e tentava esconder-me os males que assolavam as pessoas que vivam no mesmo mundo que eu. 

Recordo-me de uma dessas vezes que ele me buscava no colégio que vi pela primeira vez( pelo menos que me recordo) um homem, com um saco nas costas todo sujo e barbudo sentado numa praça próximo ao colégio. O diálogo que se segue marcou profundamente minha existência e o leitor logo vai entender o porque. 

 - O que é aquele homem sentado ali?  - indaguei eu ainda menino ao meu pai.
 -  É um mendigo meu filho - respondeu seu gustavo friamente como que querendo mudar de assunto e me esconder que aquilo existia.
 -  O que é um mendigo? - menino curioso eu que jamais tinha ouvido aquela palavra.
  -  É alguém perdido na vida - meu pai responde com a respiraçâo ofegante, e da partida rapidamente no carro para tirar a cena daquele mendigo de diante de meus olhos. Hoje entendo que a resposta do meu pai pareceu bastante fria de definir um andarilho como um nada mas na época tinha pouca noçâo disso.

Três dias se passaram daquele acontecimento e novamente na saída da escola estava lá o mesmo homem barbudo, sujo que agora eu sabia que chamava-se mendigo. Meu pai viu que eu tinha percebido a presença do homem, pegou na minha mâo rapidamente para que eu entrasse no carro. coincidentemente o homem  sujo o abordou pedindo esmola, meu pai o ignorou completamente e agiu realmente como se aquele homem fosse um nada. Mal sabia meu pai que ele podia me tirar fisicamente de perto do mendigo mas eu já tinha sua imagem perfeita em minha mente e jamais esqueceria daquele homem com aparência diferente de tudo que eu tinha visto. 

 - Pai, porque você nâo deu dinheiro ao mendigo?  - pergunto querendo respostas sobre a a atitude de meu pai.

 - Eles pedem coisas todos os dias e nunca estâo satisfeitos você vai ver que quando ele  estiver lá novamente será  a mesma coisa e pede para várias pessoas - responde meu pai agora que parecia um pouco mais calmo e conformado que eu tinha visto algo que ele nâo desejava que eu visse. 

 - Porque nâo o levamos para casa? damos banho, trocamos suas roupas, ele podia morar um tempo com a gente e......

 - Essas pessoas nâo sabem o que querem da vida!  interrompe meu pai agora mais nervoso.  - Se levamos para casa uma pessoas dessas, ela logo vai embora porque quer ser livre, nâo se apegam  a nada e a ninguém e querem viver como vivem, por isso estâo aonde estâo. - Continua meu pai que na sequência introduz outro assunto para encerrar minhas perguntas. 

O tempo se passou. Tornei-me adulto. conquistei muitas coisas, tornei-me também um homem rico, e até mais rico do que meu pai foi. Nâo foi tâo simples me tornar mais rico do que meu pai porque apesar de carinhoso me ensinou a pescar.

Tive que estudar fora, ralar e quando voltei da espanha fluente do inglês e espanhol formado em engenharia mecânica aos 23 anos ele me deixou ser office-boy  da empresa que ele ocupava o cargo de diretor.  Fui subindo pouco a pouco, meta atraz de meta e hoje sou dono de uma concorrente da empresa que meu pai dedicou a vida e eu me tornei líder de mercado no setor.

Meus relacionamentos amorosos? sempre foram bem conturbados. As três esposas que tive me apaixonei perdidamente por elas. Mas nâo sei explicar, com o tempo ia perdendo o encanto, a paixâo jä nâo era a mesma, as brigas começavam e aquele mulher que eu tinha me apaixonado perdidamente já nâo significava muita coisa para mim, parece que elas iam perdendo o encanto. Eu trai todas as três esposas, confesso isso sem pudores. o começo do relacionamento era legal mas depois faltava algo sabe? Aquele encanto, aquele coraçâo jä nâo batia mais forte como no início  ai eu ia procurar essa paixâo louca, essa coisa que faz extremecer o nosso ser nos braços de outra mulher.

Nunca fui de trair minhas esposas com mulheres qualquer, comigo nâo era sexo por sexo, eu traia quando me apaixonava perdidamente por outra e deixava a anterior e dessa forma foram três esposas.  Eu buscava emoçâo, paixâo, algo que me fizesse sentir a vida a flor da pele. Acho que vocês me entendem.

Aos 38 anos já tinha terminado os meus três casamentos e estava solteiro. Quando ia dormir sentia falta de algo, uma vontade de viver a vida como mais intensidade, queria sentir realmente a vida. Tinha experimentado isso através das três paixôes que vivi com minhas esposas mas já estava cansado dessa de relacionamentos amorosos, só me trouxeram dor!

De lá para cá resolvi viver a vida. Parei com essa de me apaixonar. Resolvi encarnar um personagem menos romantico e mais conquistador. Apesar da minha idade modéstia parte eu aparento no mínimo um dez anos mais jovem, a pele morena me ajuda a esconder a idade. Eu resolvi viajar pelo mundo, conhecer países, frequentar lugares diferentes. Conheci variadas mulheres mas evitei me apaixonar por elas, fiz mais sexo nesses meus ultimos 4 anos do que nos primeiro 38 anos!

Apesar de ter mudado meu estilo de vida, de nesses ultimos anos ter viajado, transado com inúmeras paceiras  e vivido coisas diferentes, quando me deito na cama a sensaçâo de que falta algo ainda permanece. Aquela mesma sensaçâo de quando eu começava a me desapaixonar pela atual mulher que tinha na época e começava a buscar uma nova paixâo que me fizesse sentir a vida a flor da pele novamente. Era a mesma sensaçâo quando eu no início de carreira era promovido a um cargo, ficava feliz, mas um mês depois estava novamente insatisfeito buscando um novo cargo e uma nova meta para conquistar.  

O que eu nesse nível da vida que alcancei posso ainda desejar e ter ainda que me satisfaça? Vivi emoçôes e paixôes a flor da pele, viajei o mundo, fiz tudo que tinha pra fazer, mas me sinto insatisfeito e querendo algo. 

Lágrimas me correm novamente pelo rosto agora caro leitor. Eu descobri que hoje apesar de aparentemente ter conquistado tudo o que quis nâo sou difente das três definiçôes de mendigo que meu pai ensinou-se quando ainda pequeno.

Aprendi que um mendigo é alguém que está PERDIDO e é assim que me encontro hoje. Aprendi também que os mendigos NUNCA ESTÂO SATISFEITOS, e reconheço que minha isatisfaçâo me fez trocar de casamento por três vezes e ainda continuar buscando algo em viagens, diversôes e entretenimentos. Vi que abandonei minhas três esposas e sai transando com inúmeras mulheres sem manter compromisso porque NÂO ME APEGO A NADA NEM A NINGUÉM. 

Agora preciso dormir, minha cabeça dói de tanto chorar. Meu pai quis esconder-me o lado negro da vida e eu acabei me tornando exatamente aquele homem que ele tentava ocultar de mim na porta da escola.