ARTISTAS CIRCENSES POR UM DIA

ARTISTAS CIRCENSES POR UM DIA

Uma homenagem a um grande amigo que já se foi – Renê Tortatto.

Renê é desses tipos de personalidade ímpar. Você o ama ou o odeia. Bipolar, às vezes perde as estribeiras, mas, geralmente, está de bom humor.

Renê costuma fazer umas loucuras, por exemplo quando sequestrou um ônibus que estava parado no ponto e cujo motorista havia se ausentado para ir ao WC. Assumiu a boleia e dirigiu o coletivo por uns 500 metros.

Não dá para esquecer também o dia em que ele fingiu que estava se afogando na praia de Guaratuba, aqui no Paraná. Tiraram-no da água e ele só recuperou-se na hora que um bombeiro ia fazer respiração boca a boca. O povão que estava na areia sentiu-se enganado e queria linchar o Renê. Estrategicamente, foi retirado pelos policiais, do meio do povão.

Uma das boas estórias que eu vivenciei com ele foi em uma viagem que fizemos de Curitiba para Belo Horizonte, de ônibus. Eu havia comprado um carro de meu irmão, Renato, e fomos, os dois, até a Capital Mineira, buscar o reluzente Corcel, lá pela distante década de 70 do século passado.

Já estávamos em território mineiro e a longa viagem entediou o meu amigo.

Para passar o tempo, a figura resolveu bater um papo com as pessoas que estavam nos bancos próximos.

Com a facilidade de se comunicar, Renê já havia se tornado amigo da metade do ônibus. A outra metade estava a caminho de se tornar íntima da ilustre figura.

O Renê foi inventando um monte de estórias, prendendo a atenção da pequena plateia. Alguns ficaram de joelhos nos bancos para poderem ficar de frente para o Renê, que cada vez se entusiasmava mais com suas potocas.

Talvez a que mais chamou atenção dos passageiros foi quando ele afirmou:

- Eu e meu amigo trabalhamos no circo. Estamos indo para Belo Horizonte para fazermos apresentações.

Pronto! Havíamos virado artistas circenses e aí a admiração e curiosidade de todos foi aumentando.

Um mineiro banguela que estava num banco próximo, perguntou ao Renê o que fazíamos no circo.

- Eu sou trapezista, disse ele. Profissão difícil de acreditar que ele abraçasse, já que o infeliz pesa uns 150 quilos.

- E seu amigo? Perguntou o mineiro curioso.

- Ele é domador de leão e a esposa dele é a mulher barbada.

Eu tinha que fazer uma força enorme para não rir.

A brincadeira foi fechada com chave de ouro quando descemos na rodoviária de Belo Horizonte cercado de admiradores e o banguela perguntou para nós onde estaria o circo.

A viagem foi longa, mas eu nem senti, de tanto que me diverti com o meu amigo Renê.