Cinco Minutos na Livraria

Horas antes, eu havia tentado me preparar.

Um encontro. Um divisor de águas, de universos.

Sabia que, uma vez que eu pisasse naquela livraria, não haveria volta.

Minhas mãos suavam tanto quanto os meus pés. Gotículas de suor encharcavam meu rosto.

Eu estava aflita. Olhava o relógio a cada quinze segundos. A hora não chegava. Um misto de euforia e pânico questionava o que faria quando finalmente os minutos me dissessem que era hora de ir.

Sair do prédio, virar à direita, depois à esquerda e andar umas duas ou três quadras até a linha que indicaria meu destino.

Pensei que ele não viria, que desistiria, que finalmente visse a loucura que cometeríamos. Tive medo que ponderasse e me mandasse uma mensagem dizendo que tudo era um grande equívoco, uma brincadeira para minimizar o tédio e que deveríamos esquecer tudo. Todos os planos e promessas. E cada um voltaria para sua própria vida de arranjos tão cômodos e tão insatisfatórios.

E assim, em meio ao pavor, vi as horas. Quinze para as três.

Quinze minutos para ver seus olhos castanhos.

Meio quarto de hora para sentir o perfume, apertar as mãos, trocar um cumprimento tímido, um beijo no rosto.

Quinze minutos para a transformação, a decisão, a escolha.

Quinze minutos para mudar minha vida.

Assustada, cruzei a praça da a livraria. Entrei e busquei por livros imaginários, esperando que chegasse.

A voz, o timbre, o som de uma tempestade chegando.

Ele me olhava com o mesmo rosto de todas as minhas lembranças diárias.

Perdi o chão e os sentidos. Perdi a racionalidade.

O rosto dele eram as emoções que eram minhas.

Angústia, questionamento, desejo, agonia de não ter o tanto que era seu.

Cinco minutos de conversa não conseguiriam amenizar a espera.

Quis tudo naquele instante e mais um pouco.

Um desejo antropofágico de consumi-lo e fundi-lo em minha pele, meus olhos e boca.

Uma fome ancestral de tê-lo e dele ser sem qualquer explicação, sem nenhuma palavra. Apenas a entrega crua de quem pertence e por pertencer também possui.

E então nuances de azul roubaram meus olhos.

Cinco minutos já estavam no passado.

Desesperadamente tentei manter os fios luminosos que uniam as mãos que se apertavam e se despediam.

Ele descendo as escadas.

Era a hora. De ir.

A minha, a dele.

A decisão mais certa seria ficar.

Um espectro fez o caminho de volta.

Quantas palavras poderiam ser escritas em nome deste amor?

Não sei.

Vou levando.

E se tivesse que escolher, seriam páginas e páginas das minhas outras tantas futuras vidas.

Edeni Mendes da Rocha
Enviado por Edeni Mendes da Rocha em 28/04/2017
Reeditado em 28/04/2017
Código do texto: T5983975
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