Briga de bar
Naquela noite, estávamos eu e Luis Alvarez tomando umas cervejas num botequim em Houston, Texas, e havia esse caipira grandalhão, sentado num canto, que pelo aspecto já havia passado da hora de tomar o rumo de casa. Quando começamos a conversar, ficou nos encarando, particularmente para Alvarez, com cara de poucos amigos. Volta e meia, emborcava uma dose de bourbon e resmungava alguma coisa contra os "malditos mexicanos".
- Talvez fosse melhor irmos beber em outro lugar - sugeri para Alvarez. - O caipira ali parece estar a fim de confusão.
- Só depois do meu Colorado Kool-Aid - disse Alvarez, fazendo sinal para a garçonete. - Hey, señorita!
Parece que ouvir falar espanhol liberou algum domônio aprisionado no caipira. Ele emborcou um copo de bourbon, levantou-se, e aproximou-se de nós gingando. Inclinou-se sobre Alvarez como se fosse cochichar-lhe alguma coisa, e deu-lhe uma cusparada na orelha direita.
- Aqui se fala inglês, seu Pula-Cerca! - Vociferou.
Alvarez tem reflexos rápidos. Muito rápidos. Sacou um canivete de mola do bolso e antes que alguém entendesse o que havia acontecido, segurou a orelha direita do caipira e cortou-lhe um bom pedaço. O homem gritou de dor, sangue espirrando para todos os lados. Alvarez deu-lhe uma rasteira e o caipira foi ao chão, como uma árvore abatida por um raio. E ali ficou, estatelado de barriga para cima, gemendo, segurando com uma das mãos o que restara da orelha. Com um sorriso sardônico, Alvarez inclinou-se sobre ele e colocou o pedaço cortado em sua mão livre.
- Agora, "bad hombre", - disse Alvarez - quando quiser cuspir na orelha de alguém, abra a mão e cuspa na sua própria.
O caipira apenas gemeu e nada disse.
Alvarez ergueu-se e gritou para a garçonete:
- Señorita! Meu Colorado Kool-Aid! Estamos de saída!
[19-02-2017]