MicroConto_Onde não habito.

Eram quase dez da manhã quando Eduarda pensou mais uma vez sobre sua vida.

Os apelidos dos colegas de escola que a faziam repensar todos os dias sobre o corpo que habita. Seus gestos eram delicados, sua forma de ver a vida era diferente. As meninas dá escola não te causavam interesse além da forma de falar, de se vestir e se comportar. Brincadeiras como futebol ou corrida nunca foram seu forte. Gostava de brincar com bonecas, vestí-las, escova-las, maquia-las. As bonecas a entendiam. Eram uma projeção daquilo que realmente sentia que era.

Quando a mãe saia, colocava suas roupas, seus saltos, usava seu batom, desfilava pela casa. Fita adesiva serviam de unhas, uma camisa era seu cabelo.

Ao ver uma mulher grávida na rua, sentia que aquilo era um sonho. Ser mãe, ter um filho, seios fartos. Ser mulher.

“Viado”, “Bichinha”, Baitola”, “Boiola”. Nomes que escutou durante a infância e adolescência lhe causavam ferimentos pois não se sentia gay. Eduarda era uma mulher aprisionada num corpo de homem.

Olhou-se nua no espelho e viu seu corpo modificado por hormônios. Seios fartos de silicone, bunda perfeita e coxas de hidrogel. Se modificar para ser quem é. Para o mundo uma aberração, para ela, simplesmente Eduarda.

Elmo Férrer
Enviado por Elmo Férrer em 17/02/2017
Reeditado em 16/09/2017
Código do texto: T5915352
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