Micro história do amor

No começo, lá antes de existir a palavra começo, existia uma única palavra: amor. Amor era a síntese de todas as manifestações vitais: vida e morte; dia e noite; medo e coragem, silêncio e música e todos os infinitos estágios que perpassavam estas pseudo dualidades. Amor era o uno. O todo. A justa plenitude. O mar abraçado ao céu. Mas aí começaram a pensar que se inventassem nomes diversos para cada uma das acontecências do amor, a tensão cósmica se reduziria. E deram de gerar línguas, palavras, sons e cores. Ocorreu, então, e ninguém se apercebeu no início, tomados todos de euforia pela gênese palavral, de esquecerem de desinventar o amor. É daí que vem, e muitos têm dificuldade de compreender, isso do amor ser um caso de vida e morte; de morrer e viver ser uma e mesma coisa e, ainda, de já se nascer morrendo pra que viver seja o instante seguinte e, mais ainda, se ter que morrer mil vezes infinito para que a vida nasça a cada manhã, integrando todas as demais, as que se foram e as que ainda nem nasceram, apesar dos muitos nomes dados às faces do uno e mesmo reinventado amor.