DESPEDIDA DIFERENTE

Olá, Amigo, tudo bem?
Assim, do nada, eu tive esta incontrolável vontade de te contar a importância do que hoje decidi.

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Faz algum tempo eu cortei um abacate e descobri a semente aberta a expor um lindo broto. Espantei-me, pois nunca vira algo parecido. Passei algum tempo olhando aquela semente e meu coração disse que sem dúvida havia ali algo diferente. Também agi diferentemente com ela; fui ao quintal, enterrei-a e coloquei algumas pedras em círculo para marcá-la; o pensamento derradeiro me dizia que, se tivesse que viver, vingaria. 

Foi muito devagar que inspirou-me confiança/esperança e algum tempo foi passado. Num belo dia vi, não menos espantada, lindos caules e folhinhas que rasgaram a terra e sorriam para mim. Fiquei muito, muito feliz, Amigo. 

(Por certo estranhas tal felicidade, mas em algum tempo da vida a gente aprende que é possível encontrá-la em coisas simples.)

Passei a observar aquela promessa com frequência e, como ela se avolumasse rapidamente, escolhi o maior vaso disponível e mudei-a com carinho, deixando para resolver depois, como..., quando..., e se... a plantaria em lugar definitivo. 

Muitas vezes me peguei conversando com ela e expressando um certo receio quanto ao nosso futuro. Algo parecia dizer-me que eu não comeria frutos daquela semente que tanto me encantara. Que eu não teria terreno suficiente e com a fertilidade necessária para um abacateiro. Essa ideia foi tomando corpo e se fortalecendo ante muitas evidências que independiam da minha vontade e de outras que, sim, dependiam de mim. 

Mas o meu sentimento pela muda de abacateiro está lindo, Amigo, porque, como ela, cresceu e mereceu de mim muito carinho puro.

Porém, a par de tudo, vejo que outras pesoas também a querem e resolvi deixá-la ir.
Faço-o até com um tanto de tristeza, mas preciso encarar a realidade: eu não tenho mais vitalidade, saúde, conhecimento, beleza e juventude para fornecer tudo que esta plantinha necessita a fim de manter-se viva como tem se mostrado. 

Por isto decidi renunciar e despedir-me dela, também para evitar a mim um sofrimento mais intenso quando com ainda menos força para tanto. 

Penso que a pessoa que adotá-la irá tratá-la muito bem, porque será conquistada como eu fui e porque será sempre positiva e cheia de carinho a energia que eu emitirei, tendo como alvo a linda planta à qual, em tão pouco tempo, tanto me apeguei.

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Realmente lamento o tempo que gastaste para ler-me, hoje, mas eu precisava te contar esta historinha. 

Pois é, não sei se te causei raiva ou risos; eu sou assim.

Até qualquer dia, meu querido Amigo, minha linda "muda de abacateiro". 
 
(Fotos:- Ao alto, a "rosa lilás"; acima, a inegável beleza na simplicidade da minúscula "joaninha".)