Resiliência

Ele lhe dera uma nova vida. No meio da pior provação, quando achava que não conseguiria sair do fundo escuro do poço, ele solicitara a sua atenção, os seus melhores cuidados. Era uma criança alegre, afetuosa e, o que a emocionava muito, era bastante parecido com o pai. Chegava muitas vezes a enganar-se, chamando-o pelo nome do filho, que acabara de perder em um acidente. O afeto crescia entre os dois, levando-a a viver novamente. E, então, um dia, ficou sabendo, um tanto à queima-roupa: a nora resolvera voltar para a sua cidade, para a sua família! Segurou-se, para não tombar, sentiu uma funda alfinetada no peito. E aquela sensação de que estava mais uma vez sozinha a acometeu, forte. Não, jurou que não se entregaria, por pior que fosse o golpe. Sentou-se e ali ficou, paralisada, esperando que a dor atenuasse, que novas forças viessem em seu auxílio.