PEDRINHO FOI A ESCOLA

Pedrinho era um menino que sempre se sentia só, até que um dia andando pelo terreiro de sua casa próximo a uma pitangueira, onde ele costumava brincar e reclamar da vida ouviu uma linda cigarra e com ela iniciou um longo papo e uma amizade sólida. Deste dia em diante, Pedrinho mudou sua vida da água pro vinho, sentiu-se mais alegre, procurou pelos seus coleguinhas de rua para brincar, coisa que ele não fazia por medo de não ser aceito no grupo. Chegou o ano letivo e Pedrinho foi à escola. Lá conheceu outras crianças da sua idade e foi percebendo que não era difícil fazer amizade, a partir daquele dia todos que conversavam com ele passou a considerar seus amiguinhos. No recreio jogavam bolinha de gude, futebol até vôlei ele aprendeu, pois antes pensava que vôlei era jogo de meninas, olha só que bobinho esse menino pensar que só meninas é que podiam jogar vôlei. E assim o dia dele começou a ficar curto de tanto compromisso que ele tinha com a gurizada. Sua mãe cada dia que passava se sentia feliz pela felicidade de Pedrinho. Todos os dias ela agradecia a Deus e a cigarra pela contribuição que ambos haviam provocada em seu filho. Mas como toda mãe tem sua preocupação com seus filhos mesmo sem ser chamada na escola ela sempre que podia se dirigia até a escola para conversar com a professora e saber como o menino se comportava em sala de aula como também no recreio. Cada vez mais ela saia maravilhada da escola em saber que seu filho tinha um bom comportamento, prestava atenção nas aulas, era companheiro com seus coleguinhas inclusive ajudava aqueles que por um motivo ou outro tinham dificuldades de aprender ou entender determinada matéria. No recreio procurava ser solicito com os professores em especial sua professora, dona Maricota, uma senhora de meia idade, baixinha, rechonchuda, usava um óculos de fundo de garrafa, porém de uma beleza jovial, tanto externa como interna, principalmente. Ela era muito rígida para com seus alunos, pois fazia questão de esclarecer para os pais que a ela recorriam que estava ali para ensinar seus filhos a serem bons cidadãos, responsáveis com seus deveres, respeitosos com os adultos e seus coleguinhas e disso ela cobrava bastante, por isso ser rígida, porém deixava claro para os pais que o compromisso de educa-los era deles, pois a escola não é local para educar e sim para ensinar e prepara-los para o futuro. Infelizmente alguns pais não tinham este entendimento o que provocava algumas críticas injustas à professora dona Maricota. Porém ela era uma mulher com muita capacidade de compreensão e perdoava “seus pecadores” dos falatórios que corriam nos corredores da escola. Pedrinho com toda sua animação resolve criar um clubinho na escola e sai a convidar os amiguinhos para dele participarem. O primeiro que convida é Paulinho, um garotinho tímido igualzinho a ele no passado, este tinha uma grande dificuldade de entrosamento, sentia-se feio, pouco inteligente, sem vontade de brincar, procurava sempre o isolamento e com isto era zoado pelos coleguinhas o que causava muito sofrimento. Pedrinho observando o amiguinho lembrava-se de quando agia desta forma e resolve ir conversar com ele.

- Oi Paulinho, eu sou o Pedrinho colega de turma, vim te convidar para fazer parte de um clubinho que estou criando, queres fazer parte dele? Tu és o primeiro a ser convidado.

- Que clubinho é este? Nem te conheço direito.

- Sabe Paulinho, é um clubinho aonde a gente vai se encontrar uma vez por semana na escola, na nossa casa para conversar, brincar, trocar ideias. Que tal?

- Vou pensar, mas porque eu primeiro, se a gente nem é amigo?

- Sabe de uma coisa, tu és muito parecido comigo. Te vejo sempre no canto sozinho sem conversar com os colegas, isto me lembra de quando eu agia assim.

- Como assim? Ficas me espiando?

- Vou te contar. Até um tempo atrás eu era um menino muito triste, me sentia sozinho, não brincava com meus coleguinhas de rua, ficava só com meus sentimentos. Conversava com minha mãe e mais ninguém, até que um dia debaixo de uma pitangueira lá na minha casa eu ouvi uma cigarra me chamar, no início não acreditei, pensei estar meio louquinho. Então a cigarra insistiu que eu acreditasse na nossa conversa. Disse para eu abrir meu coração que as coisas iriam melhorar. Foi o que fiz. Abri meu coração, contei toda a minha tristeza pra ela e a partir daquele dia ficamos amigos ate hoje, todo dia eu converso com ela. Sinto que minha mãe está mais animada com minha mudança. Já conversasse com uma cigarra algum dia?

- Conversar com cigarra, eu? Estás louco? Cigarras são bicho e bicho não fala.

- Mas esta cigarra é diferente. Ela me ajudou a mudar minha vida. Veja eu, conversando contigo sem te conhecer muito, quando iria acontecer isto se não fosse à ajuda da dona cigarra? Quando? Acredite em mim Paulinho. Se quiseres te levo na minha casa pra ti conhecer e talvez conversar um pouco com ela.

- Sei não. Pra mim é tudo muito estranho. Vou perguntar a minha mãe se ela deixa ir à tua casa.

- Oba vai ser legal. Só não fala da cigarra por enquanto. Diz que te convidei para ir brincar comigo na minha casa, afinal a gente é quase vizinho, certo?

- Certo, amanhã falo contigo.

E assim Pedrinho foi para casa pensativo de como seria a reação do Paulinho ao ver conversando com a cigarra. Mas pensava que estava fazendo uma boa ação ajudando seu coleguinha de escola a ser um menino mais alegre, mais social, afinal ele até um tempo atrás se comportava tal qual o Paulinho. Sabia quanto sofrimento trouxera a ele até então, só em pensar sentia um arrepio, e assim ia caminhando até sua casa vagando em pensamentos.

Por outro lado Paulinho voltando a sua casa pensava na conversa que tivera com seu coleguinha e cada vez mais aumentava sua expectativa e ansiedade para conhecer essa tal de dona cigarra. Seria uma grande mentira dele? O Pedrinho está louquinho? Quer pregar uma peça para mim? Fazer-me de bobo como os outros? E assim foi pensando até chegar a sua casa e pedir permissão à sua bondosa mãe, sem revelar a intenção desta visita.

Finalmente chegou o grande dia. Após o café matinal e escovação de dentes, Paulinho rumou para a casa de Pedrinho bem cedinho, pois naquele dia era feriado na escola, assim tinham o dia todo para aproveitarem. Chegando à casa do amiguinho, este é apresentado para a mãe de Pedrinho que muito gostou de sua visita. Em seguida rumaram para a pitangueira conversar com a cigarra, mas Paulinho não escondia sua desconfiança, o que não interferiu em nada no comportamento do Pedrinho. Ao adentrar ao pomar Paulinho foi ouvindo o canto da cigarra e cada vez mais seu canto o encantava, era um delírio só. Nunca havia ouvido um cantar desta entonação, não entendia nada de canto, mas sentia que era diferente sua audição.

- Dona cigarra bom dia. Hoje eu trouxe um amiguinho para conhecê-la e talvez conversar um pouco com ele.

- Bom dia meu querido. Pensei que não virias. Tu costumas chegar mais cedo.

- Sabe dona cigarra, é que eu estava esperando o Paulinho, por isto me atrasei.

- Estás perdoado então. Mas teu amigo está me ouvindo? Pergunte a ele.

- Certo dona cigarra vou perguntar..... Paulinho está nos ouvindo?

- Só te ouço. Aliás, vejo um paspalho falando sozinho. Não entendi porque aceitei vir aqui para ver isto, ridículo.

- Não fique triste Pedrinho, lembra-se de quando aconteceu a primeira vez? Também não acreditasse. Então falei que era para abrir teu coração e assim começaste a me ouvir. Diga a ele a mesma coisa, insista.

- Mas dona cigarra ele já está zangado comigo. O que eu faço?

- Tenha calma, assim como tive contigo. Mas insista que ele consegue.

- Vou tentar mais uma vez...... Paulinho sei que é difícil, comigo também foi assim, mas vamos fazer um esforço. Concentre-se em ti e deixe teu coração falar e ouvir por ti.

- Eu não sei como fazer isso.

- Pense na pessoa que tu mais ama que mais confias e sinta ela dentro do teu coração conversando contigo, ouvindo teus clamores.

- A pessoa que mais amo e confio é minha mãe. Mas ela não está aqui. Como vou ouvi-la?

- É fácil. Coloque a mão no peito em cima do coração e vai conversando, pensando nela.

- Pedrinho agora deixa comigo, ele já entendeu. Devagarzinho vou mandando mensagens para ele, a gente já, já, vai se conectar. Pensamentos positivos para ele perceber.

- Estou ligado dona cigarra. Ajude meu amigo, ele precisa muito.

- Não te preocupe, meu Pedrinho.

- É minha mãe que está falando comigo?

- Esta é a voz de tua mãe?

- Não tenho certeza, estou confuso.

- Então abra mais teu coração. Preste atenção em cada frase que estás a ouvir.

- Sim, sim.... agora estou ouvindo, dona cigarra. Vamos conversar mais um pouco. Preciso abrir mais meu coração. Puxa nem acreditava que fosse possível conversar com uma cigarra, estou gostando demais.

- Então Paulinho siga meus conselhos e será uma nova criança. Foi muito bom conversar contigo, sabia que irias me ouvir e acreditar. Não precisa contar para ninguém, este segredo ficará entre nós três. Quando tu necessitar de uma conversa venha até aqui para a gente prosear.

- Sim dona cigarra, com certeza voltaremos a conversar. Estou fascinado pelo acontecido e prometo guardar este segredo entre nós. Minha mãe não vai entender mesmo e nem acreditar. Vai ficar desconfiada que esteja meio louquinho, sabe?

- Não te preocupe com esta besteira o importante é a mudança que vai acontecer na tua vida depois deste encontro. Siga tua vida com amor, carinho as pessoas que tu amas, seja amigo de todos, compreensivo com sua professora, com sua mãe e com a vida. Tchau e até outro dia.

- E agora Paulinho ainda tem dúvidas do que eu te falei? Pensavas que eu estava zoando de ti, né? Tudo bem compreendo tua atitude, se fosse comigo também ficaria desconfiado. Mas meu convite continua de pé. Vamos participar do clubinho?

- Sim, sim. Vou participar do clubinho, só tenho de falar com minha mãe se ela permite que eu participe.

- Nem te preocupe com isto tenho certeza que ela vai permitir, sim. Então até amanhã na escola.

E assim Paulinho foi para casa todo eufórico por ter conversado com uma cigarra, e a partir daquele dia, tal qual o Pedrinho, sua vida mudou para sempre. Os dois iniciaram uma campanha na escola para criar o clubinho, o que logo aconteceu. Através do clubinho, movimentou a escola contribuindo com seus amiguinhos, seus professores na campanha do agasalho, campanha de vacinação, na feirinha de ciências da escola ajudando que a mesma alcançasse o primeiro lugar na região, em participação dos pais nas reuniões de pais e professores, genial. Esta foi a grande contribuição que Pedrinho ofereceu na escola.

Valmir Vilmar de Sousa (Veve) 23/07/17

valmir de sousa
Enviado por valmir de sousa em 02/08/2017
Reeditado em 17/09/2017
Código do texto: T6072033
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