A Lenda da Vitória-Régia

–Mãe, que flor mais linda é aquela?

–É a Vitória-Régia, minha filha.

–Que nome mais estranho! Porque ela tem esse nome?

Andirá, uma menininha de seus cinco anos, com seus longos cabelos negros como a noite, muito sapeca e curiosa. Estava fazendo uma visita ao Museu Paraense Emílio Goeldi com sua mãe. Maria, uma mestiça de trinta anos, era uma estudiosa da cultura indígena, dava ênfase ao tupi-guarani por ser o tronco de origem de sua bisavó paterna. Desde criança se interessou pelos costumes dos índios.

– A lenda da Vitória-Régia é uma das mais lindas que existe no Brasil. Quer ouvir?

–Mas o que é lenda?- Perguntou a menininha com os olhinhos brilhando de curiosidade. A mãe sorriu e explicou:

–Lenda é uma história que passa de pessoa pra pessoa só de boca, só falando, explicando coisas misteriosas, muito interessantes, especiais, misturando o que aconteceu com o que eles acham que aconteceu. Por isso, cada pessoa que conta muda um pouquinho.

Andirá começou a dar pulinhos e bater palmas de ansiedade:

–Conta, mamãe, conta logo!

–Só mais um pouquinho, princesa. Daqui a pouco vamos pra casa, você vai tomar um banho bem gostoso, um lanchinho, e vai pra cama. Aí te conto tudo, tudo.

Deu um beijo estalado na testa da menina e seguiram para casa.

Andirá estava tão curiosa que tomou seu banho rapidamente, pegou um copo de suco de laranja com uma fatia de bolo de fubá e engoliu tudo sem piscar. A mãe chamava a atenção:

–Acalme-se, minha filha, eu não vou fugir.

–Mas estou muito curiosa, mamãe!

Deitou-se, a mãe jogou um lençol até sua cintura, e após sentar-se na poltrona ao lado da caminha:

‘ Há muitos anos atrás, a Lua, que os índios chamavam de Jaci, era uma deusa que amava muito as jovens da tribo. Tinha um carinho todo especial por elas. Quando surgia no céu à noite, beijava suas faces, abraçava-as e fazia seus rostos brilharem. E escolhia algumas pra serem transformadas em estrela, pra prolongar o brilho que lhes dava pra sempre. Tinha uma mocinha chamada Naiá que morria de vontade de ser escolhida pela Lua, mas nunca era. As pessoas mais velhas da tribo conversavam com ela aconselhando:

–Naiá, se a Lua escolher você, acabou-se sua vida e seus planos, você vai deixar de ser uma moça e vai virar estrela. Ela vai levar você pra brilhar no céu. Acabará assim a sua caminhada aqui.

Mas nada fazia com que mudasse de ideia. Saia todas as noites para procurá-la, subia as montanhas e ficava esperando, esperando. Não conseguia nem comer mais, não dormia, parou de fazer tudo que gostava para ficar à espera da Lua. Emagreceu muito, tinha cara de doente. Ficava horas e horas olhando pra Lua, admirando sua beleza. As outras moças a chamavam para passear à beira do rio, para colher frutas, mas ela não tinha vontade de nada, só de namorar a Lua à noite.

Um dia, cansada de tanto andar, fraca por dias sem comer, Naiá parou na beira do rio para descansar um pouco. Olhou para a água, e como a Lua estava muito bonita e brilhante, acreditou que o céu tinha mandado a Lua vir buscá-la. Sem pensar atirou-se na água com toda vontade. Quando entendeu que não era a Lua e sim a imagem dela, tentou voltar mas não conseguiu e morreu afogada.

A Lua ficou muito triste com a situação e, para homenagear o amor que Naiá sentia por ela, transformou-a em uma estrela da água, a Vitória-Régia. Por esse motivo essa flor linda só se abre à noite.’

Quando a estória terminou, a menininha estava dormindo com um sorriso nos lábios. E sonhava que era uma grande flor branca de pétalas macias e brilhantes no meio de um rio…

Este texto faz parte do desafio literário no site ENTRECONTOS, sobre o tema FOLCLORE.

https://entrecontos.com/2017/03/10/a-lenda-da-vitoria-regia-flor-de-maio/