Uma Vida Azul - Capítulo II: Thomas

Parabéns pra você, nessa data querida…

É uma festa infantil e todas as crianças estão em volta de uma mesa, saudando o aniversariante do dia: Thomas. Ele completa dez anos hoje, mas não parece estar muito contente, apesar do grande bolo de chocolate em sua frente.

A festa está acontecendo nos fundos de uma casa bonita, na zona sul de São Paulo. É um terreno amplo, com grandes árvores, as quais proporcionam a sombra ideal para aquela reunião em volta do menino. Todas as crianças estão felizes em estar ali, estão desarrumadas, bagunçadas e sujas. Marcas de alegria de quem passou as últimas duas horas correndo e pulando, mas Thomas não, esse está com suas roupas impecáveis, parece que acabou de sair de seu quarto. Seus cabelos estão penteados, repartidos ao meio, da mesma forma que sua mãe, Joice, deixara há algumas horas, denunciando sua total falta de interesse em se divertir.

Em seu pensamento, Thomas só queria que aquele momento acabasse.

São onze da noite e Joice ainda está arrumando as últimas coisas fora do lugar em sua casa. A festa acabou há pouco mais de três horas. Enquanto conclui sua tarefa ela tem seus pensamentos assombrados por uma lembrança de Thomas, quando aos oito anos de idade fizera algo assombroso, a qual ela ainda não havia se conformado:

Era natal de mil novecentos e noventa e três e todos estavam reunidos à mesa da ceia quando Joice notou que o menino não estava mais em seu campo de visão. Eles visitavam uma tia distante, e havia muitas crianças brincando no carpete com seus brinquedos recém-ganhados. Thomas estava no meio delas há pouco, mas desaparecera.

Joice sobe as escadas da casa e conforme avança pelo corredor a passos lentos sente um calafrio ao ver a porta do último quarto, no final do corredor, entreaberta. A luz está apagada, mas algo brilhava lá dentro. Ela chega até o quarto e com uma das mãos termina de abrir a porta. Logo enxerga a origem do brilho, era o trenzinho de fricção que Thomas ganhou a pouco, que estava com os faróis acesos. O brinquedo estava no chão, mas Thomas não o acompanhava. Logo ao levantar a cabeça, sua mãe se espanta ao ver a janela aberta e o menino caminhando pelo telhado. Ela corre até a janela e começa a chamá-lo, mas o menino não a escuta e continua caminhando rumo a beira da casa. Ele parece hipnotizado enquanto o faz, seus olhos estão esbugalhados e suas pupilas dilatadas.

– Thomas, volte aqui! Venha com a mamãe, filho!

Ele dá mais três passos e pára. Não há mais telhas para pisar a sua frente. Seu olhar segue contemplando o horizonte, frio e inexpressivo.

Ao ouvir os gritos da mãe, alguns parentes de Thomas subiram ao quarto junto a ela, outros foram para a frente da casa, para tentar ajudar, caso o menino caísse.

– Olha pra mamãe, filho, venha pra cá, agora!

Enquanto ela tenta convencer Thomas, um dos seus tios vai até os fundos da casa e busca uma escada para resgatar o menino. Porém, antes de chegar até a frente novamente, Thomas começa a voltar ao encontro de sua mãe. O olhar frio fora embora. Nesse momento o menino reage àquela cena com um misto de choro e berros, abraça sua mãe do lado de dentro da janela e apenas chora por alguns minutos.

Marco de Souza
Enviado por Marco de Souza em 19/05/2017
Reeditado em 10/12/2018
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