SERIAM SÓ BORBOLETAS?



ESTA HISTÓRIA TRANSCORRE EM LOCAL TÃO LONGÍNQUO COMO O PRÓPRIO TEMPO. FOI-ME NARRADA POR MINHA MÃE. ESSA PEQUENA POVOAÇÃO – NEM DE VILA A PODERÍAMOS CHAMAR - É HOJE TOMBADA PELO PATRIMÔNIO HISTÓRICO DAQUELE PAÍS PORQUE , ALI, HÁ MONUMENTOS NEOLÍTICOS, EM PEDRAS, DE ENORME DIMENSÃO DE ERAS REMOTAS DA HUMANIDADE.
NESSA TERRA VERDE E TÃO PEQUENINA, EM UMA VELHA CASA DE PEDRA, SIMPLES, MAS ACOLHEDORA, COM SUA GRANDE VARANDA E ODOR DE PINHEIRO, POIS FICAVA CERCADA POR “SERRAS” – PEQUENAS MONTANHAS – E FLORESTAS, MORAVA UMA JOVEM COM UMA NUMEROSA FAMÍLIA: UM VELHO PAI E VÁRIOS IRMÃOS DE QUEM CUIDAVA.
NESSE CENÁRIO SINGULAR, O IMPORTANTE É DIZER QUE AQUELA BELA MULHER ERA MÃE - E SOLTEIRA. UM ABSURDO, PARA OS PRECONCEITOS DA ÉPOCA,  QUE NÃO É O ASSUNTO DESTA NARRATIVA.
ELA TINHA UM MENINO COM CERCA DE UM ANO. SE AS CRIANÇAS JÁ SÃO BONITAS COMO PRESENTE DIVINO, O BEBÊ ERA LINDÍSSIMO PARA O CONTEXTO LOCAL (NO QUAL PREDOMINAVAM AS PESSOAS MORENAS, DE CABELOS ESCUROS), O QUE FAZIA PRESUMIR SUA PATERNIDADE PELAS LÍNGUAS LOCAIS. GRANDES OLHOS VERDES, CABELOS MUITO LOUROS E UM ROSTINHO DESENHADO PELO CRIADOR. A MÃE DELE ERA MORENA, LONGOS – MUITO LONGOS CABELOS NEGROS ATÉ À CINTURA – E OLHOS COR DE MEL.
ACONTECE QUE, NESSAS ALDEIAS, HÁ LENDAS E LENDAS.
O MENINO CHORAVA A NOITE INTEIRA, MAL APAGAVAM A LUZ DA CANDEIA. A MÃE O PEGAVA AO COLO. ELE SOSSEGAVA, COLOCAVA-O NA CAMA, VOLTAVA A CHORAR. O PIOR, PELA MANHÃ, O CORPO DA CRIANÇA ESTAVA CHEIO DE MANCHAS AZUL-AVERMELHADAS, COMO SE ALGUM ESTRANHO INSETO O TIVESSE MORDIDO.
O AVÔ, EMBORA NÃO QUISESSE DIZER GOSTAVA DO PEQUENINO E FALAVA:
- VAI REZAR ESSA CRIANÇA, ISSO SÃO BRUXAS QUE O MORDEM.
ELA NÃO ACREDITAVA , NÃO OBSTANTE SER UMA PESSOA DE FÉ, LIMITAVA-SE A ORAR PELO FILHO E, ASSIM, TENTAR FAZER COM QUE TIVESSE UM SONO TRANQUÍLO. NADA. O MESMO FATO SE REPETIA.
O PAI ALERTAVA E ELA, TEIMOSA, NÃO ACREDITAVA.
DE TANTO FALAR, CERTA NOITE, RESOLVEU FICAR ALERTA E, AO APAGAR A LUZ DA RUDE CANDEIA, FICOU, A UM CANTO, ACORDADA.
DE REPENTE, VIU ENTRAREM PELO BURACO DAS TELHAS - ONDE NÃO HAVIA FORRO – INÚMERAS E ESQUISITAS BORBOLETAS – NÃO ERAM MORCEGOS OU QUAISQUER OUTROS BICHOS . ERAM BORBOLETAS CUJAS CORES REFLETIAM NA ESCURIDÃO. NO ENTANTO, SÓ UMA PARECIA COMANDAR AS DEMAIS.
ESSA, LOGO SE APROXIMAVA DO MENINO E, NELE, POUSAVA, PROLONGADAMENTE, EM VÁRIOS TRECHOS DO CORPINHO, QUE FICAVAM DESCOBERTOS. PODIA SER NO BRACINHO, NO ROSTO, NAS MÃOZINHAS. QUALQUER LUGAR. ENQUANTO ISSO, AS OUTRAS FAZIAM ESTRANHO RUÍDO, COMO SE, ENTRE SI, CONVERSASSEM.
NESSA NOITE, A MÃE DO MENINO PEGOU O QUE TINHA À MÃO - CREIO QUE UMA TOALHA DE LINHO - E BATEU MUITO NAQUELA BORBOLETA, QUE, AO QUE PARECE, ERA MUITO RESISTENTE, POIS NÃO QUERIA SAIR DO CORPO DO MENINO, APESAR DE JÁ PARECER TER AS ASAS COM FERIDAS.
TANTO APANHOU QUE ELA E SEU BANDO, FORAM EMBORA POR ENTRARAM.
A LUZ DE UM NOVO DIA A TODOS BRINDOU E A JOVEM MÃE VERIFICOU QUE AS MARCAS ERAM BEM MENOS. CONTUDO, O MAIS ESTRANHO- NÃO SE FALAVA DE OUTRA COISA, NO POVOADO, A NÃO SER QUE UMA MULHER QUE TODOS DIZIAM SER UM PODEROSA FEITICEIRA, ESTAVA DE CAMA, MUITO MACHUCADA, POR TER APANHADO. ONDE? NINGUÉM SABIA DIZER.
A VERDADE É QUE NUNCA MAIS O GAROTO APARECEU COM MANCHAS PELO CORPO. 
QUE ESTRANHA AQUELA BORBOLETA E AS QUE ACOMPANHAVAM.
“HÁ MAIS COISAS ENTRE O CÉU A TERRA DO QUE PODE IMAGINAR NOSSA VÃ FILOSOFIA.”ASSIM, DISSE WILLIAM SHAKESPEARE.
AS BORBOLETAS NOTURNAS NUNCA MAIS APARECERAM.
Luandro
Enviado por Luandro em 10/03/2017
Reeditado em 12/03/2017
Código do texto: T5937084
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