A vestimenta Carnal no Cemitério

A noite era daquelas:escura e fria-um clichê imoral de um filmeco de terror-,não era coincidência,mas,a famigerada coruja teimou em aparecer mais uma vez-surgia de forma proposital - para empobrecer mais ainda a narrativa deste que lhes conta o ocorrido sombrio-assim foi num outro conto de terror,de minha autoria.Ruflou suas asas longas e pousou num dos galhos da árvore de aspecto tosco,de elementos retorcidos na sua composição.Parecia cansada de sua existência.Tinha cor opaca no caule e uma estrutura orgânica desmerecedora ao nosso olhar. As folhas eram secas e balançavam ao vento.Os galhos erguiam-se ao céu, e retorcidos davam a aparência de se estenderem para o abraço de quem estivesse próximo-era assustador.A lua cheia estava ao alto,imponente e brilhava-uma grande dúvida de que a humanidade,ali esteve,realmente sendo representada pela grande pátria dominadora do Ocidente.Vez em quando era coberta por nuvens gigantescas,escuras.Um fino chuvisco molhava as ruas do cemitério.Era passageiro o chuvisco na sua apresentação.Surgia,de forma repentina,e como por mágica desaparecia como se estivesse obedecendo a um diretor de película de terror.As lápides eram variadas.Muitas de beleza rara.Dividiam o espaço das ruas do cemitério com estátuas de madonas, bustos anjos variados,e de musas que traziam vasos de flores nas mãos,ou estendiam os braços para frente-como se quisessem abraçar quem ali estivesse-semelhantes à árvore sombria.Era assustador.Dava calafrios,de medo.A coruja virava o seu pescoço,como se buscasse ser senhora do ambiente-ou de forma simples,assim caçava camundongos com o olhar. Foi quando ouvi o lamento:

-Eu sou tão jovem,bonito e tão cheio de saúde,contudo,estou condenando a apodrecer?Os vermes vão fazer um banquete,em breve.Acho até que ja começaram...Sinto um formigamento estranho na pele...parece que sinto as suas picadas famintas,ágeis...devoradoras..

Um jovem estava diante de uma cova nova.Pude ver a sua fotografia na lápide que o ostentava na imagem com vaidade juvenil visível.Fios invisíveis ao seu olhar o prendiam ao túmulo-eram uma ligação do seu corpo ja inerte ao seu corpo peri-espiritual.Eram os laços magnéticos que ligam a alma ao corpo denso e que se desprendem de forma paulatina-o ser humano menos apegado á vida material consegue que se rompam com mais facilidade-outros permanecem ligados ao próprio cadáver,e ,do cemitério não conseguem se afastar da cova,do caixão,do próprio corpo em putrefação.Então,sofrem,sentem e assistem o corpo se decompor num banquete de vermes,onde reina o mal cheiro de carne podre,da carniça e vêem a vestimenta carnal se desmanchar no desmembramento celular.Um momento horroroso para as almas muito apegadas às coisas da vida material.

-Muitos passam por este momento,não é o único infeliz a experimentar tal sombrio momento,acredite.

Apresentei-me assim( fazendo baixar a minha vibração de minha psicosfera para que pudesse me ver e ouvir).

Assustado,e gaguejando,me respondeu:

-Quem é você?Pode me ver?O que faz aqui numa hora desta no cemitério?Não tem medo? Como pode isso?

-Vivemos o mesmo momento,apesar de me encontrar numa situação de conforto diferente, com relação a sua pessoa.Poderei,talvez ajudá-lo um pouco a ter mais conforto e superação.Acredite que ninguém está sozinho.Os socorristas do Bem a todos servem.

- Apodreço.Não acho uma bondade de Deus isso.O meu corpo é belo e jovem.Ostentava uma beleza em vida que impressionava a minha família,os amigos-e a todos.Como posso estar morto ?Como posso estar morto se me sinto tão vivo e com um corpo duplo daquele que ali repousa inerte `a beira de desmanchar-se num banquete sombrio pelos vermes da terra? Um banquete horrível,devastador e cruel...

Abracei-o,de forma voluntária e lhe falei assim:

- Tudo na vida corporal é passageiro.Tudo passa.O mecanismo de decomposição da vestimenta carnal humana tem diferentes momentos.A pele enrigece e se descolore.Os músculos relaxam. A bexiga e intestino esvaziam. A pele fica roxa.Os lábios e unhas ficam de cor pálida. Piscinas de sangue se acumulam na parte inferior do corpo.As mãos, pés ficam roxos.Os olhos afundam formando uma aparência menos agradável e viva do indivíduo. A rigidez cadavérica aparece no corpo inerte.O roxo da pele e piscinas de sangue continuam a aparecer,de forma progressiva. A rigidez torna-se de forma progressiva nos músculos.O corpo entra em total rigidez cadavérica um dia após a morte,o corpo apodrece. Acabou.A vestimenta que nos foi emprestada cumpre o seu papel.Retorna à natureza.Entenda-era passageiro.Conforme-se.Comece outra vida.Não percebe que tem um outro corpo e de que precisa aprender a domá-lo?E este não apodrece,não é frágil como o que se desmancha.

-Pare,por favor.Não quero ouvir mais.....

Ele se soltou dos meus braços.Tremia e parecia bem agitado.Afastou-se de mim e se dirigiu para mais ao fundo do cemitério.Melhor não lhe dizer que os fios magnéticos que ainda não se romperam far-se-á com que experimente os vermes fazendo um banquete agitado do seu belo corpo-um cadáver condenado a ser devorado num fervoroso banquete da decomposição.O que pertence à natureza para a natureza deverá retornar.O espírito é de Deus-e, cada qual receberá o que cultivou quando em vida material.A coruja se movimentava,de forma agitada de galho em galho.A lua cheia estava escondida por uma cinza nuvem.Ouvia ele dizer,de forma nervosa,sussurrada:

"O meu corpo,um belo corpo,tão jovem,tão cheio de saúde...."

A chuva fina retornou mais forte.Eu saí do cemitério.Ele se arrumou debaixo de uma árvore. Tinha um estado tão denso no seu corpo espiritual que se sentia molhar pelos pingos do chuvisco.Não lhe disse que experimentará visões piores ao poder presenciar o seu belo corpo desmanchar-se numa desarticulação celular mal cheirosa e horrenda de visão,como se fosse uma dura punição para os que são,em demasia apegados às coisas da matéria e não se recordam que o verdadeiro corpo é o espiritual-que é eterno,indestrutível e tem na sua aparência o que fomos na vida material densa.Caso ele pudesse se olhar no espelho choraria mais ainda.Os seus sentimentos lhes retratavam de uma aparência grosseira,até mesmo animalizada no seu corpo espiritual( O perispírito).A sua feição se assemelhava a um equino,de fronte avantajada,uma testa proeminente além do normal,onde purulentas ulcerações se espalhavam fragmentando um viscoso banho mal cheiroso.A pele era escura,enrugada e peluda.O olhar era saltado das órbitas e animalizadas sobrancelhas,de fios desorganizados lhes bailhavam a fronte.Os dentes eram toscos,retorcidos e escuros.Os sentimentos formam a aparência do espírito do homem na alma( NO GERAL O ESPÍRITO CHAMA-SE DE ALMA QUANDO O HOMEM ENCONTRA-SE ENCARNADO)-ele precisa saber que lembra o personagem de um fenomenal livro que foi escrito por um talentoso dramaturgo.Lembro-me o nome do livro,era o Retrato de Dorian Gray- de Oscar Wilde um desfile das ambições humanas pelo o que a vida material possa oferecer aos que so buscam na sua existência as satisfações dos proibidos prazeres galgados pelos sentimentos vis,arrogantes,repugnantes e censuráveis.A lua encontrava-se encoberta por cinzas nuvens,a chuva havia se tornado torrencial.A coruja escondeu-se num galho da feia árvore.Segui pelos túmulos observando os muitos espíritos que se encontravam ali abandonados á própria sorte,sem saber o que fazer da vida espiritual após o desencarne da carne.Lamentações,nada além se podia ouvir por entre as madonas e os anjos de braços abertos. Lamentações- como fazia Dorian Gray- ao descobrir que as paixões vis,apesar de terem lhes dado todas as satisfações da vida mundana ,contudo, lhes roubaram,o que mais precioso pode ter um ser humano em sua existência: o amor.

LG

Leônidas Grego
Enviado por Leônidas Grego em 25/12/2016
Reeditado em 12/12/2017
Código do texto: T5863106
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