Expresso Budapeste ou a Viagem que Nunca Aconteceu...

PRÓLOGO

"Durante a minha viagem no ano passado, decidi que iria fazer o leste europeu de trem. Passei então, o tempo todo, durante as viagens pra lá e pra cá, criando uma história na minha cabeça, sobre como seria um expresso em Budapeste? Uma cidade que ao final, não acrescentou tanto assim. Mas que durante a viagem, tivemos uma experiência bem diferente, que logo mais irei contá-la, não como aconteceu de fato, pois não daria uma história interessante, então vou extrapolar os limites da literatura e aterrorizar os fatos, preencher as lacunas com fantasmas, espíritos e seres sombrios. Calma, calma, não se assuste, o fato é que não só de contos de fadas vive esse escritor fanático por terror, afinal, nada na vida começa com "Era uma vez e termina com "E viveram felizes para sempre. Bom, como terminou a história? Estou aqui pra lhes contar o que houve, como terminou? Fica por conta da imaginação de vocês leitores."

Eis a história como ela não aconteceu...

Os personagens a seguir, terão seus nomes alterados, para não parecer um diário qualquer, e será contada na terceira pessoa)

Como acham que foi a história? Boa ou ruim?

Enfim, onde eu estava mesmo? Ah, me perdendo com meus pensamentos por aí.

Ele estava confiante de que essa nova descoberta traria experiências animadoras para o futuro, novas histórias seriam contadas, pessoas se ficariam maravilhadas com as alegrias alcançadas com essa viagem. Malas prontas e um sonho à alcançar. Tudo pronto para aquela que seria a sua maior viagem na vida, até agora. Dentro do avião, com destino ao velho mundo. Velho mundo das histórias no ensino médio, com reinos e guerras, bárbaros e espartanos, mortes por todo o lado, com primeira e segunda guerra e as lutas por liberdade e união dos dois blocos. Mas não era pra isso que a viagem estava programada. Além desse contador de história, a mãe dele fora junto na viagem. Não que ela não seja importante no contexto, mas o contador é a chave dessa enigmática viagem.

As aventuras que passaram esses dois viajantes, caberia em um conto de infinitas páginas, mas o contexto aqui é sobre Budapeste, ou a viagem que nunca aconteceu. Chegando em Santiago de Compostela, eles presenciaram um espetáculo de arte e arquitetura, que estava preservada há séculos. Com seus mistérios e caminhos tortuosos, extrapolaram o sentido de cidade antiga, na cerveja da região da Galícia, a melhor que eles tomaram durante toda a viagem. A contemplação do passado diante dos olhos desses peregrinos sem rumo, era de satisfazer até os mais céticos dos estudiosos, aquele mundo não era humano. Mas enfim, a contemplação era deles e de mais ninguém. Em cada cidade, ou pelo menos a grande maioria delas, pararam para assistir uma missa.

Pulando a parte do meio da viagem, que seria Viena, o que de fato acrescentou muito, mas que, o melhor está por vir. Indo direto a Zagreb na Croácia, de noite é claro, e o sentimento de estar em novo mundo rondava a mente desses viajantes inquietos. A noite parecia tranquila, tranquila até demais. Cansados e esfomeados, o dinheiro que possuíam não era aceito no país, haviam de trocar por moeda local. Correu então o mais novo atrás de algum lugar que pudesse lhes ajudar. Voltando de lá, com sua imaginação a mil por hora, contemplou imagens tenebrosas, sentiu um frio na barriga, o estômago revirou, parecia fome, mas era medo e temor, pois as histórias que ouvira antes, falava sobre sequestros e mortes, as passadas de volta, eram largas, mas mesmo assim o sentimento de temor permaneceu por dias, só se sentia seguro, quando no hotel, fechava os olhos e dormia o tempo necessário. De volta à estação de trem, com o dinheiro trocado, conseguiram comer alguns salgados croatas, e lhes digo, ouvi dizer que eram ótimos. Descansaram enquanto vinha o trem destino, qualquer lugar.

Todos a bordo!!! Gritou um senhor de dentro do trem. Portas fechadas e vamos seguir em frente rumo ao desconhecido. O leste europeu como todos sabem, era o lado oriente da Europa durante a Guerra Fria, com o fim do Regime de Hitler, a URSS dominou a Alemanha e construiu um muro intransponível, chamada de Cortina de Ferro. E engraçado, durante a viagem desses peregrinos, o sentimento de guerra, opressão e medo, não existia mais, era se como nunca tivesse acontecido. Mas voltando ao trem, as suspeitas de que algo parecia estar errado, pairava sobre os ombros desses dois curiosos. Conversavam entre si, sobre coisas estranhas sobre o que viram até então. Pessoas entravam e saíam desse trem enigmático, paravam em novas estações, e pessoas fardadas entravam e as vezes revistavam os passageiros e pediam documentos para vistoria e carimbavam sempre. Lembra dos temores da Guerra Fria? Não podiam deixar de sentir que procuravam algum fugitivo, ou um espião entre os passageiros. Mas nos fim, não era nada demais, só olhavam os passaportes. O dia ia chagando e com ele mais incertezas, que preenchiam as lacunas dos medos e temores.

Novas terras, novos mundos e novas línguas, como se virar em terras estrangeiras? Fácil, fale inglês com todo mundo, com todo mundo mesmo. Até com quem não entende porra nenhuma. Foram para o hotel ou hostel. Conseguiram um quarto e descansaram um pouco, foram almoçar perto e começaram a conhecer esses novos lugares. Os espaços vazios, que com o tempo foram se ocupando com tremores no ossos, frio na espinha e um calafrio que nunca sentiram antes. Mas sabiam que mesmo que se maravilhassem com esses sentimentos, era só dar dois passos para trás e tudo ficavam bem. Alguns pontos turísticos depois, e o incerto era que não havia nada de novo para se conhecer, afinal, cidades são cidades desde a antiguidade, há o centro, há algumas lojas, igrejas e comércios. Parecia que tudo era rápido, logo à noite vinha chegando e de volta ao hotel/hostel, o cansaço ia batendo e o com ele o sono. Perto de lá, acharam um lugar pra jantar e voltaram dormir. Com a ansiedade a mil, o peregrino sonhava com coisas novas, novas experiências e curiosidades. Talvez eu tenha ouvido histórias assustadoras durante o sonho desse jovem forasteiro. A ansiedade de alguém bater na porta e acordando no susto, tirando eles da cama, esfriava os pés e sentiam agulhadas na espinha. Mas no fim, não era nada, somente ilusão.

Seguindo nesse trem azul, mãe e filho ainda tinham muito o que passar nessa vida. O trem sentido o fim do mundo, ainda estava por vir. Arrumando as malas, e partindo para mais uma viagem com destino ao desconhecido, esse jovem sonhador, encostava a cabeça no vidro e passava o tempo todo em silêncio meditando e criando os mais diversos acontecimentos. Não houve assassinatos, pois o expresso não era Oriente, e não é aquela gata que tá contando a história. Mas bem que um suspense animaria esse diário tão controverso. O trem seguia e seguia, não paravam, não dava chance de desistirem, sentiam que o quanto mais o tempo passava mais a ansiedade os acolhiam. Pois bem, muitas horas depois, chegavam em uma cidade que não se apresentava como uma cidade qualquer, pois já haviam estado lá anteriormente, mas de dia, e de noite parecia que as lacunas que observaram antes, eram tomadas por espaços escuros e línguas estranhas, o jovem lembrou de Silent Hill por um breve momento, que após o toque da sirene, tudo se transformava, os mortos saiam de seus túmulos, seres bizarros caminhavam pelos becos, as línguas que antes eram fáceis de entender, agora se misturavam com dialetos inteligíveis.

A cidade era na Hungria, ouvi uma vez que o húngaro era a língua do demônio, se era ou não, acredito que não faria diferença se fosse. A noite já havia caído, aqueles que antes era a esperança, se tornaram como que monstros querendo aprisionar esses dois jovens. Um conversa daqui outro cuida das coisas de lá, e nada ainda de resolverem o problema, onde passariam a noite, num trem ou num hotel? Pesquisaram onde podiam, preços absurdos e lugares longínquos. Nunca imaginaram que a língua materna, salvaria a vida deles. Em meio a tantas criaturas sombrias e sombras que pairavam os caminhos, uma pessoa veio ao encontro deles. Se apresentando como uma pessoa do bem, creram eles, convidou para uma noite nos seus simples aposentos secretos. Bom, falava a língua deles, não havia porque não irem. A noite havia entrado mais a fundo nessa que seria a maior experiência de todas. Em inglês chamavam de "Couch Surf", mas não dormiam em sofás, mas sim em colchões. Os aposentos, era escuros, o teto era alto, os espaços e mobílias, lembravam o tão sonhado século XIX. Mas ainda precisam de algo a mais, matar os dragões do medo e do desconhecido e matar a fome, que era muita. Enfim, saíram e se dirigiam a um restaurante turco, creio eu. Jantaram e foram dormir.

EPÍLOGO

O que houve durante a noite e a madrugada, que se seguiram, não há relatos, deixo para a imaginação de vocês, interpretarem essa história. Contei aqui o que me disseram, qualquer semelhança e mera coincidência. Falei algumas partes em terceira e outras em primeira pessoa, me perdi, assumo, mas o que importa é que o Expresso Budapeste, me levou, desde a primeira viagem de trem de Viena a Zagreb, a construir uma história curiosa e um pouco assustadora, os fatos foram modificados, afinal, não lembro de muita coisa, mas o fato é, contamos histórias, os fatos como foram, não são relevantes, não há nomes nem descrições de personagens, o diário está aí, houve mais viagens além dessa pra Hungria, fomos até a Polônia, talvez uma outra hora me debruce em cima do primeiro pierogi em terras polonesas, ou da casa de estudante de luxo, dos amigos que lá encontramos e da casa de família que ficamos hospedados, há tanto pra falar que minhas costas dói de tanto ficar sentados na mesma posição. Me despeço de vocês leitores e deixo a imaginação de vocês viajarem por esse lado da Europa que tanto me encantou. À todos, um bom dia, uma boa tarde e uma boa noite.

P.S: Não voltamos mais pra lá...Obrigado.

Alfredo José Durante
Enviado por Alfredo José Durante em 08/08/2017
Código do texto: T6077181
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