DONA GÊ DO JUDAS

Ela era feroz!

Vestidos sempre cinza, azul, marrom ou preto de cola e botão em toda extensão da frente até às canelas, cinturado com sinto do mesmo tecido.

Cabelos lisos, compridos e grisalhos enrolados formando um coque, ou na linguagem popular de minas gerais, “pituca”.

Sem maquiagem, com manchinhas pretas no rosto, sobrancelha sem fazer e bigodinho que nunca foi aparado.

Quadril largo, barriga saliente, coxas grossas e peito bem aflorado, assim era a silhueta de dona Getulina Ambrósio da Silva Lima, mais conhecida por Gê do Judas. Esse apelido foi dado devido toda a sexta feira Santa à noite ela fazer Judas, espécie de boneco de arrozal e colocar às beiras das estradas e propriedades de outras pessoas com objetivos maldosos. Mas ninguém acreditava nas ações dessa exótica senhora.

Nos dedos da mão direita anéis de prata dos anos de 1880 e no braço esquerdo um relógio de fundo branco, marca seiko adquirido num bingo da paróquia em 1970.

Um cabo de vassoura na mão, um cordão grosso de sujeira com uma medalha de Nossa Senhora das Graças no pescoço, conga preta daquelas que escorrega, em tempo chuvoso, kichute preto nos pés.

Assim dona Gê do Judas vivia com seu esposo, seu Agenor, homem rude, baixinho, sem instrução e acreditava que o mundo era o centro de tudo e esse tudo era na região em que ele conhecia.

Dona Gê do Judas ficava andando pelos pastos vastos da fazenda em que ela era proprietária.

Por trás das moitas de gaçatonga ela vigiava as pessoas que passavam pela estrada principal que cortava por dentro de sua propriedade.

Essas mesmas moitas serviam para fazer um aconchego com alguns compadres que achavam que ela era boa de moita.

Gê do Judas, mulher feroz, tinha pouca amizade, não visitava nenhuma comadre, nem ia à missa uma vez por mês na comunidade. Apenas amizade com alguns compadres.

Onze filhos, cada um com uma fisionomia, todos já de meia idade, todos vivendo fora, com exceção do caçula que era mimado por ela e pelo pai que não morava perto. Os outros já casados, não frequentavam a casa da mãe, pois ela sempre não estava lá e quando estava não era flor que se cheirava.

Seu Agenor, pau mandado de dona Gê do Judas, cuidava do gado, ordenhava as vacas leiteiras e seguia as tarefas encomendadas pela amada esposa que tinha muito que fazer pelas invernadas.

Gê do Judas veio a óbito muito anos atrás.

Viveu como poucos vivem e fez o que a maioria das mulheres não faz.

Gê do Judas!

É isso aí!

Acácio Nunes

Acácio Nunes
Enviado por Acácio Nunes em 13/06/2017
Reeditado em 13/06/2017
Código do texto: T6026161
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