A Lenda.

(Olá caros leitores, demorou mas saiu mais um conto. E para quem quiser se inspirar mais ao ler este pequeno conto, pode escutar a música "Lendas" da banda Malta. Boa leitura a todos!!)

Ydar era uma guerreira nórdica muito valente, forte e linda. Desde pequena mostrara uma inclinação enorme para a guerra. Vinda de uma família de guerreiros nórdicos, seu pai, Baudier, mesmo não tendo um filho homem, sempre se mostrara satisfeito e orgulhoso da filha que tinha. Ydar desde muito pequena admirava o seu pai que além de ser um homem bom, era um grande guerreiro. Quando criança, Ydar via o seu pai partindo junto aos outros homens da guerra para mais uma viagem marítima e implorava com os seus olhinhos lacrimejantes, fazendo gestos e atirando algumas palavras ao seu pai para que ele então cedesse um lugar a ela junto a eles, mas isso não dependia apenas dele, dependia da regra o qual todos os guerreiros seguiam: que mulheres não poderiam partir com eles para guerrear. Então, com uma dor no coração, Baudier partia e deixava para trás a sua esposa e filha que mantinha os seus olhinhos cheios d'água e brilhantes, sonhando que um dia ela teria essa chance de estar com eles.

Desse modo, Ydar foi crescendo com aquela imagem de seu pai e a sua vontade de ser igual a ele, também cresceu. Lutar e defender o povo da sua cidade, Guiminesguide, era o seu maior desejo. E assim foi, Ydar se revelou uma bela e forte jovem. O seu pai, com os seus anos de experiências na guerra, iniciou-se os treinamentos com a sua filha, passando para ela tudo o que ele sabia sobre uma batalha, de como ser um grande guerreiro, e de como defender a sua terra e o seu povo. Com isso, rendendo uma primeira batalha contra os inimigos da terra vizinha que tentaram saquear a cidade de Guiminesguide e violentar várias mulheres dessa terra. Batalha essa que Ydar entrou sorrateiramente no meio dos homens e quase perdeu a sua vida, mas ela foi forte e conseguiu escapar e acabar com a vida de seu inimigo antes que ele acabasse com a sua. Porém, os amigos guerreiros de Baudier, mesmo gratos, admirados com tamanha força e habilidade da moça, não permitiram que Ydar fizesse parte das guerras futuras.

Ydar mesmo decepcionada não se entregou a momentânea infelicidade. A moça cresceu, se tornou uma linda mulher, carregando até a sua maioridade tudo o que aprendeu com o seu pai e não desistiu daquilo que sempre sonhou até que o sonho se tornou real para a sua própria felicidade, para a satisfação de seu pai e tormento de sua mãe, Hanna, que mesmo com muitos receios, não deixava de apoiar a sua filha na sua missão.

Acontece que as regras eram bem claras com os homens guerreiros e dizia o seguinte: "As mulheres não poderiam participar de nenhuma forma das viagens marítimas e das batalhas contra as outras civilizações, por mais que fossem bem treinadas e até mesmo pelos seus próprios pais. E se alguém quebrar as regras, a penalidade seria a expulsão de toda a sua família da cidade de Guiminesguide ou dependendo da intensidade, poderia determinar a morte do pai e da filha".

Mas Ydar não se intimidou e passou por cima das regras e pediu perdão ao seu pai, prometendo protegê-lo, proteger a sua família, a sua terra e o seu povo. Ydar teve de se passar por um homem, equipando-se com a pesada armadura utilizada por eles, mantendo os seus longos e louros cabelos trançados sempre por de baixo da sua proteção de ferro para a cabeça. Desse modo, a bela mulher conseguiu se infiltrar no meio daqueles homens fortes e severos usando um novo nome: Aaren. Ydar passou a guerrear como eles, tendo grandes participações nas viagens marítimas e salvando muitas vezes muitos de seus companheiros de guerra. Logo a bela mulher ganhou a confiança e o respeito de todos, porém, sem ninguém saber quem ela era realmente, sem saber que Baudier era o seu pai e que também estava por trás do disfarce de sua filha.

O pai, que orgulhosamente presenciava de perto todos os bem feitos da filha, sentia um certo medo de que alguém descobrisse que Aaren era Ydar, a sua filha e que acontecesse o pior para ela e sua mãe. Mas Baudier não se deixava abater com os maus pensamentos, os elogios que escutava dos companheiros de batalha sobre o novo membro o enchia de orgulho e dava um pouco de conforto ao seu coração apertado.

Em uma das viagens marítimas, passando pelos mares que davam acesso as terras da Itália, eles encontraram uma pequena cidade e invadiram ela, travando assim uma grande guerra com os seus então inimigos que não gostaram nem um pouco de vê-los por ali.

Após a guerra, Ydar nota que abrira uma grande e dolorosa ferida em sua barriga recebida por um golpe de espada de um adversário. O pai de Ydar logo nota o ferimento e como ele conhecia aquela terra como ninguém, ele aconselha a sua filha que procurasse um pequeno bosque dos Elfos que ficava localizada a alguns metros daquela cidade, pois nesse bosque dos Elfos, ela encontraria umas folhas plantadas no chão da entrada e serviria para colocar na ferida que logo se cicatrizaria com o poder da folha.

Enquanto todos os seus colegas resolvem descansar juntamente com o seu pai, Ydar com dor e sentindo um cansaço por carregar por tanto tempo aquela armadura em seu corpo, decide então fazer o que o seu pai disse. A moça caminha em direção ao bosque para pegar a folha para a sua ferida e tentar descansar um pouco por ali e sem a pesada armadura.

Após uma longa caminhada Ydar encontra o bosque dos Elfos e se dirige para dentro dele, ela logo vê as folhas plantadas no chão como o seu pai havia lhe dito anteriormente. As folhas eram da cor verde bem escuro e exalava um forte odor capaz de espantar qualquer um daquele lugar ou quem chegasse perto. Se não fosse pela sua ferida, Ydar desistiria de passar algo tão fedido em seu corpo, pois aquele odor com certeza ficaria pelo menos uma semana impregnado na sua pele.

- Talvez esta folha seja deste jeito de propósito só para impedir de que algum estranho invada a terra dos Elfos - Pensou Ydar logo abaixando com dificuldade o seu corpo e esticando o seu braço e mão direita para arrancar algumas daquelas folhas. Até que fora surpreendida por uma voz masculina, suave e forte vinda atrás de ti.

-Senhor! Senhor!

Ydar não deu ouvidos ja que a voz estava um pouco longe e chamava alguém que não era ela. Até que Ydar ouviu os passos se aproximarem de ti e novamente a voz suave e forte surgiu por detrás de suas costas.

-Senhor, por favor, não toque nestas folhas! -Diz o Elfo com a sua mão esquerda tocando o ombro direito da grande guerreira.

Ydar logo se levanta e fica de frente a um Elfo muito bonito, de aparência jovem, pele clara, um pouco magro e cabelos negros que chegavam aos seus ombros. O belo elfo olhava para ela com um olhar amigável. Ela pode notar que seus olhos eram de uma cor bem clara, um azul quase branco, o que a encantou de primeira além da aparência do Elfo e de sua voz suave quando falava.

O Elfo então, continua: -Senhor, desculpe o meu mau jeito, mas devo avisar-te que estas folhas não servem para o que você necessita.

Ydar se sentindo um pouco incomodada com a situação e pelo seu estado de dor e cansaço, resolve então tirar a sua proteção da cabeça, revelando assim os seus longos cabelos louros que se soltaram por cima de sua armadura, dizendo: -Apesar de estar vestida como um homem, eu sou uma mulher. Prazer, o meu nome é Ydar.

O Elfo logo se espanta e se vê admirado com aquela mulher que além de ser uma guerreira, era muito bonita. O Elfo se viu um pouco perdido naquele olhar até que, voltando a si, se recompôs e falou: -Desculpe me novamente, eu não sabia que era uma mulher e também não queria ser... -Mal o Elfo termina de falar, Ydar deixa escapar uma tímida risada divertida, o que deixou o Elfo mais confuso ainda. A bela guerreira notando a sua indelicadeza, logo muda a situação pedindo desculpas e falando ao Elfo sobre a folha que ela precisava para a ferida que obtera na batalha. O Elfo que notara a ferida na barriga de Ydar, fala: -Por favor, me acompanhe. Eu tenho o que você precisa. E ah, o meu nome é Argus.

Argus e Ydar caminham até a casa do Elfo onde ele pega umas folhas de cor verde bem clara de um pote de vidro e começa a amassar várias dessas folhas até virarem uma pasta e misturar em um xarope. O aroma que saia do remédio era embriagante e prazeroso que tomava a casa toda. Ydar se sentia bem apenas com aquele aroma vindo do remédio que o Elfo preparava com tanto cuidado. Ydar resolve se livrar de sua armadura, ficando com uma camisa larga branca que usava por baixo e uma calça de pele de um animal grande. Assim que se livra da armadura e relaxa seu corpo sentando em uma cadeira próxima, Ydar quebra o silêncio perguntando sobre aquele Elfo que tão gentilmente te ajudara. Argus responde com um sorriso amistoso, começa a contar a grande guerreira que aquelas folhas que ela encontrara na entrada do bosque eram veneno e o odor que exalavam deles era de propósito para espantar qualquer ser ruim que adentrasse aquele lugar. Depois contando a sua história, contando também que é filho de um casal de Elfos que eram tão poderosos, honrosos e bondosos que os demais Elfos os elegeram como rei e rainha daquele bosque,

-Então, consequentemente... -Continua Argus -Eu sou o herdeiro do trono e agora estou no lugar de meus pais que cansados, mas muito felizes por terem sido eleitos protetores desse bosque e terem protegido a todos com muita garra, resolveram agora passar para mim essa linda responsabilidade e todos os outros Elfos prontamente aceitaram. -Argus termina de contar a sua história ao mesmo tempo que passa o remédio da folha no ferimento de Ydar que logo surtiu o efeito desejado. A ferida estava se cicatrizando graças ao milagroso remédio de Argus.

-Logo você estará novinha para mais uma batalha, senhorita Ydar. -Diz com um tom de voz animada o Elfo Argus.

A guerreira logo agradece pela ajuda dizendo que já se sentia bem graças a ele. E para agradecer a hospitalidade do belo Elfo, Ydar resolve fazer para ele uma sopa escandinava que ela adorava e tomava desde muito pequena, e que a sua mãe, Hanna, preparava com muito amor e a ensinara assim como ensinara muitos trabalhos de casa. E até então, para se lembrar de casa, Ydar sempre fazia essa sopa para ela, seu pai e seus colegas, usando a desculpa de que como gostava muito dessa refeição, procurou aprender ela com a sua mãe, para que os seus companheiros não desconfiassem de nada. Argus pede para que Ydar contasse um pouco mais sobre ela e como fora parar ali. Então, enquanto preparava a sopa escandinava, Ydar contava a sua história, suas aventuras em alto mar, sobre as guerras, como conseguiu se infiltrar no meio daqueles homens e conseguir ser quem ela era hoje.

Argus ficou admirado ao saber que Ydar era filha do grande guerreiro Baudier, pois os bons feitos de seu pai era reconhecido por todos até pelos Elfos. Argus sentia se honrado por ter ajudado aquela valente mulher que estava ali em sua casa e tendo com ela uma conversa muito agradável.

-Então você é a filha do grande Baudier! -Diz Argus. -Que honra!

Ydar sorri gentilmente para o Elfo que a olhava com aqueles seus olhos claros e brilhantes, acompanhado de um belo sorriso em seu rosto, trazendo então uma feição agradável àquele belo Elfo. Ydar continua falando enquanto senta-se em uma cadeira em frente da que o Argus estava sentado, entregando a ele o prato da sopa. -Eu que me sinto grata e com sorte por ter lhe encontrado antes que eu pegasse e usasse uma folha errada em minha ferida. Você foi muito gentil comigo.

O Elfo então responde: -Não foi nada, é o meu dever ajudar aqueles que precisam. Aliás... -O Elfo faz uma pausa, colocando a sua mão esquerda sobre a mão direita de Ydar e continua: -Eu irei ajudá-la no que precisar. A partir de agora eu estou aqui para você. -Argus então sorri e segura com as suas duas mãos o prato da sopa que tinha um aroma saboroso, levando até os seus lábios e bebendo um pouco dela enquanto Ydar sorri e agradece com um gesto de cabeça. Tudo estava indo em paz até os dois escutarem uns ruídos lá fora, pesadas e rápidas passadas e as vozes furiosas dos homens. Ydar e Argus então resolvem se aproximar da porta da casa do Elfo e de lá eles conseguem enxergar um batalhão de homens portando espadas, escudos e outras armas de ferro pesadas. No mesmo instante, Ydar e Argus resolvem avisar os demais. Ydar veste a sua armadura e corre atrás de seus companheiros de batalha enquanto Argus reúne toda a sua tropa de Elfos para o que seria uma grande e árdua guerra.

Os homens da terra vizinha invadem o bosque dos Elfos que se encontravam reunidos com os guerreiros nórdicos. Ydar e o seu pai estavam prontos para o ataque juntamente com Argus e os demais Elfos. Os homens da terra vizinha com toda a sua fúria partem para cima dos nórdicos e dos Elfos afim de exterminar cada um deles. Os nórdicos e os Elfos reagiram contra atacando. Foram várias espadas e flechadas percorrendo todo aquele bosque. Uma batalha longa que durou a tarde inteira. Houve vários feridos e algumas mortes, é claro, dos inimigos, pois Ydar não deixava passar nenhum. Muito menos o seu pai que com toda a sua idade, continuava com uma força sem igual. Argus, não era diferente e fazia jus ao posto de guardião do bosque dos Elfos. Acontece que por uma pequena falha, Argus é desarmado por um dos guerreiros inimigos, fazendo com que o seu arco e flecha fosse arremessado para longe de onde estava.

-Chegou a sua hora, pequena Elfa do bosque. -Diz o guerreiro inimigo com um tom sarcástico -Eu sempre quis matar um Elfo, principalmente você. E olha só, cá estou eu prestes a enfiar a minha espada no seu coração e acabar de vez com a sua raça. Será muito prazeroso. -Assim que o guerreiro inimigo termina de despejar suas venenosas palavras para Argus e levantar a sua espada para introduzi-la no coração do Elfo. Eis que surge Ydar que valentemente tira a sua proteção de ferro da sua cabeça e corre com toda a sua força em direção ao seu inimigo, conseguindo desarmar aquele homem e decapitar a cabeça dele.

Argus se vê paralisado e olhando fixamente para aquela cena. Ydar acabara de revelar a sua verdadeira identidade para todos e salvar a vida do Elfo Argus. Na mesma hora, todos os guerreiros nórdicos, juntamente com o seu pai, olham para ela surpresos, não só pela sua reconhecida valentia, mas por ela ser a Ydar, filha de Baudier. O capitão guerreiro dos nórdicos, que estava parado ao lado de Baudier, olhava para ele com uma feição séria e logo em seguida para a Ydar. O pobre Baudier já estava prevendo o pior com a sua família. Até que Argus se aproxima de Ydar a chamando pelo nome. Ydar prontamente corresponde, olhando para aquele belo Elfo.

-Ydar, você acaba de salvar a minha vida. -Argus fala enquanto retira de sua cabeça um pequeno arco e colocando na cabeça de Ydar. -Eu serei eternamente grato pela sua atitude de bravura. Você salvou não só a mim, mas como todos os outros, assim como fizera sempre durante todo este tempo de viagens marítimas. Assim como o seu pai, você é uma grande guerreira.

Ydar então sorri docemente para o Elfo enquanto tem a sua mão beijada pelo mesmo. O capitão guerreiro dos nórdicos, ouvindo aquilo, se aproxima dos dois em silêncio, que depois de uma pequena pausa, se colocando em frente a Ydar, olhando em seus olhos, fala: -A partir de hoje... -Ele para um pouco enquanto Ydar e o seu pai já esperavam pelo fim de suas vidas. Mas acaba sendo surpreendidos pelas palavras finais do capitão: -Você entrará para a história, para a nossa história. Ydar... -Continua -Todos estes anos você nos mostrou o quanto fora merecedora de estar entre nós. Claro que o que você e o seu pai fizeram não foi nada certo e talvez, aceitável. Mas como você nos mostraria que era capaz e igual ao seu pai?! -Nesse momento, o capitão olha para Baudier com um sorriso amigável e se volta para Ydar, sério, mas com um olhar carinhoso e segue: -Você quebrou as regras, foi além do que muitos aqui imaginavam. Nos salvou tantas vezes assim como Argus já nos falou. As regras agora, graças a você que nos mostrou que pode ser diferente, elas não existem mais. Meus parabéns, guerreira Ydar, filha de Baudier. -O capitão fala com orgulho essas últimas palavras enquanto abraça Ydar.

Todos os guerreiros e Elfos ao redor aplaudiram as palavras do capitão e a bravura da filha do grande Baudier e o fim da batalha daquele dia. A noite caiu, houve então uma grande festa no bosque dos Elfos. Todos estavam felizes e reunidos naquela noite com muita comida, bebida e música. Argus se levanta e caminha em direção a Ydar, estendendo a mão para ela e a convidando para dançar.

-Permita-me? -Diz Argus com um sorriso em seu rosto.

-Sempre! -Ydar segura a mão estendida a ela e se ergue para dançar com aquele Elfo que a encantou desde a primeira vez que o viu.

Baudier encara seriamente a sua filha com aquele Elfo que acabara de conhecer, até que ele sorri e cutuca com o cotovelo o capitão que estava sentado e rindo ao seu lado, fazendo com que o mesmo olhasse para os dois dançando a sua frente, em seguida o capitão levanta o copo para cima em um sinal de brinde, logo caindo na risada junto com o Baudier e todos os outros que notaram a conexão que Ydar e Argus tinham. Era algo mágico e que ninguém conseguiria explicar.

-Casaria comigo? -Diz o Elfo olhando nos olhos de Ydar durante a dança.

-E ser a esposa do generoso e encantador guardião dos Elfos que facilmente me ganhou? Eu aceito. -Diz Ydar mesmo sabendo da relação impossível entre uma guerreira nórdica e um Elfo, mas assim como não se intimidou com as regras impostas para ser uma grande guerreira, ela também não se intimidou com a relação futura com o Elfo que ganhou o seu coração valente.