Ravenala demitiu Amarildo sem pagar os direitos sobre os beijos atrasados. Faria o mesmo com Robert, se ele se desequilibrasse na falsa baiana, durante a travessia de obstáculos.
 — Joguei um capítulo na lixeira, disse ela.
— Não deveria — livro não chega pronto e acabado  como o ovo que a galinha solta na esteira de produção. Recebe-se uma luz com  registros codificados que emergem do   inconsciente, às vezes chegam como sonhos em vigília. ‘Quem é capaz de romper o selo’ e decifrar os sonhos? Alguns sonhos são resultam de uma verdade  escondida que  se revela e faz coro com a razão. São memórias  passadas de nossos ancestrais, unidas por um fio à realidade do agora.  Parágrafos e capítulos inteiros surgem desordenados, e  com isso, contraímos nova missão: por a casa em ordem ou ordem na casa. Tudo se faz com inspiração. Nada sem transpiração. Seria bom se  pudéssemos escrever sem pontuação alguma e depois disséssemos: “Ordinário, marche!” e todos os pontos, e todas as vírgulas e interrogações tomassem seus postos. É preciso que depois do lampejo, venhamos  com mãos de aleijadinho e transformemos a pedra-sabão  em arte, e no final, sobra pouco do que se tinha antes. 
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Adalberto Lima - treco de Estada sem fim...
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