REUNIÃO DE ÁGUIAS

Antes dos MUNDOS PARALELOS ® entrarem em colisão...

Damasco, Síria. Ano 1973.

Aquela noite, o mercenário e sua ruiva dormiram juntos no quarto dela enquanto Yussuf dormia no quarto ao lado. Ao dia seguinte, ela foi até o aeroporto para despedir-se deles, que partiram perto do meio-dia.

Yussuf não pode deixar de notar o estado anímico do camarada e disse:

–Essa é para valer, não é?

–Sim.

–Na nossa profissão não podemos nos apegar às pessoas, meu amigo.

–Sei disso bem demais – disse Sarrazin pensando em Nashuko.

–Hoje estamos vivos e inteiros, mas amanhã...

–Não enche, Yussuf!

–Está bem, calma!

Não trocaram palavra até aterrissar em Beirute. Após os trâmites na alfândega, e no táxi para o hotel, Sarrazin disse:

–Mas ela estará em Moscou, no Metropol. Não é uma maravilha?

–Ai... ai...! – suspirou Yussuf.

*******.

Moscou, URSS.

A partida para Moscou foi quase festiva.

Como não deviam ir diretamente, primeiro embarcaram para Atenas, daí a Paris, depois para Londres, e depois para Estocolmo, na Scandinavian Air System. Em Estocolmo embarcaram num Tupolev da Aeroflot, e foram direto a Leningrado.

Após uma escala de duas horas, seguiram no mesmo avião para Moscou; maravilhosa e fascinante para os recém chegados, na manhã de 12 de maio; primavera, em que o frio ainda se fazia sentir para Sarrazin e os árabes, completamente desaclimatados. No aeroporto internacional, uma alegria:

–Viktor! – gritou Sarrazin.

Viktor Ilitch Grigorenko recebeu os quatro amigos com apertados abraços e sonoros beijos no rosto, à maneira russa.

As suspeitas de Sarrazin de que Viktor não estivesse muito limpo na Grande Pátria Mãe de Todas as Rússias, caíram por terra.

–Bem-vindos à Mãe Rússia, camaradas!

–E os outros? – Inquiriu Argot.

–Está todo mundo no Metropol. Fui designado para ser vosso comitê de recepção, camarada Auguste Romuald.

–No Metropol? – disse Sarrazin abrindo muito a boca.

–Claro, camarada Martin Juan! Não acha que é um bom hotel?

–Sim, claro que é – disse Yussuf Bakri tremendo de frio – o Spelunker e eu achamos que é o melhor hotel de Moscou!

Depois acrescentou baixinho no ouvido do russo:

–Depois explico, Viktor Ilitch.

O russo fez passar os recém chegados pelos guichês da alfândega do aeroporto e seus passaportes foram carimbados rapidamente e sem problemas, após carteiradas do anfitrião. Depois, na rua, abordaram um Zhiguli cor de vinho que esperava no estacionamento.

Sarrazin, em estado de graça, nada notou, ao menos conscientemente. Só voltou a si no meio da corrida pelas avenidas de Moscou, com Viktor ao volante.

*******.

O Metropol era, talvez, na época em que Sarrazin esteve em Moscou, o mais luxuoso hotel da cidade. Uma vez chegados, ele e seus camaradas foram para quartos no primeiro andar.

O coronel Schneider já estava ali. Foi um alívio para o latino-americano, que apesar de estar feliz por saber que em algum desses quartos estava sua ruiva francesa; ainda necessitava de mais confiança para mover-se.

E o Oberst Schneider dava essa confiança.

–E agora, Herr Oberst?

–Agora confraternizaremos com o pessoal novo que se integrará ao grupo em treinamento que partirá para o interior; onde seremos preparados para nova missão. Nos reuniremos todos para jantar no salão e farei as apresentações, Herr Spelunker.

Até as cinco da tarde, fizeram compras nas lojas para estrangeiros, já que estavam morrendo de frio e precisavam urgentemente de boas roupas russas de abrigo.

As sete da tarde estavam no hotel, e se reuniram com o grupo original, menos os três pilotos do Hércules, que tinham ficado em Madagascar a espera de ordens.

As oito da noite reuniram-se para jantar no salão do térreo, e entre os novos rostos estava a ruiva Bernardette, vestida com uma túnica russa de seda azul brilhante, uma saia de lã preta até cinco centímetros acima dos joelhos e umas longas botas russas de couro preto. Estava encantadora. Após o choque inicial, Sarrazin tentou entender a nova situação; Bernardette era uma mercenária!

*******.

Viktor Grigorenko agora parecia ter assumido uma estatura fora do comum, pois foi ele que tomou a palavra, na frente dos trinta e sete homens e quatro mulheres:

–Camaradas; em primeiro lugar, quero dar a todos as boas vindas; em segundo quero fazer as apresentações, porque não todos se conhecem, em terceiro, quero informá-los que no dia 15 vamos pegar o trem para fazer uma viagem bem longa, na qual iremos planificando e ponderando os pontos da nossa próxima empreitada.

Gamal, que tinha vindo muito antes; disse:

–A viagem que vamos fazer forma parte do treinamento, que será bem mais duro do que tiveram em Mechelen. Isto, porque o inimigo que vamos enfrentar é bem ardiloso e infinitamente mais cruel de todos os que vocês já enfrentaram.

Viktor retomou a palavra:

–E agora as apresentações. Ninguém usa aqui o nome verdadeiro, porém

diversos nomes segundo o país em que operamos, mas precisamos conhecer nossos principais nomes de guerra. Por favor, levantem-se, assim que forem citados. Todos me conhecem; tenente Viktor Ilitch Grigorenko da URSS; portanto vamos pela ordem; Primeiro, nosso comandante; o coronel Kurt Schneider da Alemanha; depois o capitão...

(***)

Após as apresentações, enquanto Sarrazin pensava: “especialista atiradora Bernardette De La Rue da França”; isso significava que ela era uma matadora de alto gabarito; Gamal disse:

–Agora vamos aproveitar o jantar, porque hoje é dia de festa!

Foi servida vodka para os que bebiam bebidas fortes e sucos para os muçulmanos e o brinde foi feito:

–A nós, camaradas! – disse Viktor Grigorenko.

–A nós! – foi a resposta em coro.

–Aos camaradas que já não estão! – disse Schneider.

–A eles, que ficaram no caminho!

Sarrazin só tinha olhos para Bernardette, e ela, para ele. No meio do brinde, eles fizeram os seus brindes particulares em silêncio.

Mil lembranças passavam pela mente do mercenário, lembranças do seu país do outro lado do mundo, da sua mãe, das batalhas passadas, das dores sofridas, e também estranhos presságios, de batalhas futuras, de dores que ainda viriam...

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Próximo: EM ALGUM LUGAR DA SIBÉRIA

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O conto REUNIÃO DE ÁGUIAS - forma parte integrante do romance inédito HISTÓRIA DE MARTIN ® – Volume II, Capítulo 16; Páginas 41 a 43.

Gabriel Solís
Enviado por Gabriel Solís em 02/01/2017
Código do texto: T5869656
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