O tio Gonzales

CONTO - Fictício

O tio Gonzales

Cheguei do trem agora, na Polônia

Chovia muito, torrencialmente

Uma multidão se alojava

Num mesmo local,

Onde os guichês nos aguardavam

- Eu vim procurar um velho tio-avô

Disse à atendente, mal humorada, quando chegam trens com turistas ou estrangeiros eles ficam assim...

- Passe os dados dele senhora

- Claro ( eu sabia falar bem o Inglês), estão aqui...

- Preencha esse formulário e aguarde ali, naquela fila um instante, logo chamarei-a

- Ok, só quero achar esse velho tio, disseram estar muito doente, quero levá-lo de volta a nossa Pátria, a Espanha.

- Está bem, disse ela, já melhorando o humor, vou tentar lhe ajudar, senhora Espanhola.

- Muito obrigada, disse e fiquei a preencher tal formulário

Acabando, dirigi-me à tal fila cansativa, logo imaginei - isso vai demorar umas duas horas, mas eu aguento! - disse isso em pensamento.

Esse tio havia se apaixonado por uma Polonesa que estava à passeio em Madri; num Congresso então da Faculdade de Direito; daquela época....

Meu tio era um homem muito bonito e galanteador e respeitador, religioso, mas sedutor...

A moça chamada Lodoiska, alta, magra, bem branca e elegante - futura Advogada - também tinha lá seus encantos e muito articulada e falante.

Esbarraram-se numa praça de Madri, praça de Cibeles (Plaza de Cibeles).

No centro do recinto, se situa a famosa Fonte de Cibeles, esculpida no ano de 1782, a partir de um desenho de Ventura Rodríguez.

Em cada uma das quatro esquinas pra praça estão edifícios emblemáticos, construídos entre o final do século XVIII e o início do século XX.

Ela estava a admirar a tal fonte e sedenta e faminta, virou-se rapidamente esbarrando no meu tio Gonzales, o qual, quase caiu no chão.

Ela desculpou-se, limpou seu traje, explicou suscintamente sua trajetória até ali na praça, meu tio sempre muito solícito, igual ao meu pai, levou-a num restaurante simples mas familiar e bem limpo.

Ambos então tinham seus vinte e poucos anos de idade.

A vida ainda era uma aventura apenas começando...

Naquela época usava-se fugir... quando os pais não autorizavam o namoro etc.....

Lodoiska, muito estudiosa, sabia um pouco de Espanhol e meu tio ia ensinando a ela....

Isso levou uns 5 dias... encontravam-se às escondidas no hotel que ela se hospedara, pois os pais do tio Gonzales eram caretas e bravos e sistemáticos...

Quando enfim decidiram sentar e contar que haviam se apaixonado e apenas queriam manter um contato, o pai do tio logo esbravejou e expulsou a moça e a chamou de leviana e dissimulada...

Na madrugada então, umas 4h marcaram de encontrar-se na Rodoviária para pegar táxi até o Aeroporto.... e assim ninguém nunca mais viu ou soube do tio Gonzales.....

Magoado e assombrado com a reação exagerada do pai, decidiu não mandar cartas, embora sofresse pela pobre mãe, porém ela era brava também..... e havia apoiado o pai do tio....

Assim viveram muitos anos felizes na Polônia, o tio era bem disposto, físico forte, não tinha preguiça e logo arrumara um bom emprego e logo também começava uma Faculdade de Direito.

Ambos,uns anos depois, Advogados, abriram um lindo escritório para advogar.

Ladoiska era adotada por um casal, não sabia nada dos verdadeiros pais, e esse rico casal adotou-a ainda bebê e deram tudo a ela; de conforto e estudos; fizeram um lindo casamento para tio Gonzales e ela.

Só que, logo veio a descoberta que não iam poder ter filhos, haviam ido nos melhores médicos em Kołobrzeg, a cidade de Ladoiska.

Então viveram assim e não falaram mais no assunto.

Um belo dia foram falecendo os pais adotivos dela de doenças comuns que se agravaram.

Quando estavam beirando os setenta anos, infelizmente Ladoiska contraiu um câncer de pulmão - dizem que esse costuma matar logo - e dali quatro meses ela viera a falecer.

Tio Gonzales, já aposentado, vendido o escritório, ficara sozinho naquele casarão, outrora tão repleto de dias felizes ao lado de sua amada....

Eis que após tanto desgosto, contraíra uma infecção pulmonar, coisas da idade, e ia muito numa praia lá passar o tempo e pegava muita ventania gelada....

Passara uns vinte dias no hospital... então o Serviço Social, agora com a Internet, localizaram sua família natal de Madrid....

E telefonaram um a um que achavam nomes da família do tio....

Até que chegaram no número de minha mãe, a única localizada...

Mamãe - que já havia me contado essa história do tio Gonzales desde que eu era uma menina - logo passou-me a ligação, pois mamãe também estava adoecida... e papai também adoecido...

Eu atendi, pedi que achassem alguém que falasse um pouco de Inglês, então veio um rapaz jovem e conseguimos comunicação.

Enfim, aqui estou eu, para levar tio Gonzales de volta na fila do órgão público de Kolobrzeg.....

Liberaram-me finalmente e com um táxi, depois um trem, depois um avião e estávamos bem quentinhos na sala de meus pais.

Eu era casada com um homem de bom coração, pegamos o quarto de hóspedes, pagávamos um cuidador Enfermeiro de Segunda à sexta-feira.

Não tive filhos também e tio Gonzales então tornara-se nosso filho... mas dali dois anos veio a falecer.... fizemos um velório maravilhoso em nossa Madri.

E até hoje agradeço a Deus o marido incrível que me deste.

Cumpri minha missão e retomei meu cotidiano e cuidando dos pais e do meu marido abençoado.

Não percam a Fé.

Deus faz tudo do jeito que deve ser

Adriana Fernandez

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2017

Adriana C Valderramas
Enviado por Adriana C Valderramas em 21/10/2017
Reeditado em 21/10/2017
Código do texto: T6148689
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