Sofia

Era garota esperta essa uma, chama de Sofia. Era dessas, meninas que são meninos. Não ligante para roupas ou maquiagens, e gostava daqueles desenhos de ação e heróis. Mas Sofia era gente, nascida e crescida, vivente.

-Lá vem ela, o cabelo curto é para ser igual aos garotos?

-Fico até longe, vai que me agarra essa uma, eu hein.

-Cara, ela podia ao menos tentar ser bonita. Eu não pegaria uma garota assim.

Pobre mente dessas crianças, mal sabem elas, Sofia estava à frente de qualquer um daquela sala. Ora, ela não queria beijar menina, nem menino, nem queria ser bonita ou jeitosa, pelo menos, não para o mundo. Essa sua blusa largada e sua unha sem tinta, sua boca sem batom e seu olho sem lápis, ali era ela mesma, e não ela para os outros.

-Sofia?

-Sim, e você?

-Alguém… Quer conversar?

E Sofia queria, e conversaram. Hoje, amanhã e depois, e depois também, tanto tempo na verdade. E mesmo nessas roupas largas, e na boca sem batom e na unha sem tinta, ela nem deixou o cabelo crescer, Sofia, mesmo sem procurar, encontrou uma boca que beija. Os falantes, continuam falando pelos cotovelos, Sofia garota esperta que é, fecha boca, fecha ouvido, abre apenas seu coração. Por vezes solta sua lábia, exclamando:

-Eu te amo.

Existe forma mais linda de passar a vida?