A Primeira Vez

A vi pela primeira vez na esquina da General Labatut com a Lima e Silva no bairro da Liberdade em Salvador. Costumava reunir-me com os amigos para conversar e azarar as meninas que por ali passavam. Percebi quando ela se aproximava, vestia uma camiseta verde de mangas curtas combinando com uma saia de veludo cotelê marrom, completava uma sandália baixa de dedo, estava acompanhada de uma menina de uns oito anos e uma moça talvez mais nova que ela, mais tarde soube, que eram irmãs.

Cabelos castanhos lisos, soltos displicentemente sobre os ombros, escorriam até as costas; ciente de que estava sendo observada entrou na general Labatut, retornou alguns minutos depois, moça alegre, risonha, me chamou atenção seu jeito de criança, muito tímido não me manifestei, até para não chamar atenção da galera postada ali comigo, não quero concorrência, pensei sorrindo intimamente.

Alguns dias depois uma sexta feira, entrei em um bar na galeria que fica no térreo de um predio residencial na Lima e Silva e lá estava ela, havia chegado da escola, era noite, percebi que seus familiares eram os proprietários. Bebi umas brahmas e algum tempo depois fui embora, querendo muito conhece-la, mas sem nenhuma idéia de como me aproximar.

Um dia de sábado, último dia do ano, convidei meu amigo Paulo para ir ao bar e contei para ele do meu interesse por aquela morena linda, faceira, que havia visto por duas vezes dias antes; falei da coincidência de ter ido no bar justamente da sua família sem que o soubesse.

Chegamos ao bar a tarde, de pronto, meio entre ansioso e decepcionado, notei que a moça não estava e na verdade eu não tinha certeza se estaria, lembrei que o fato de há ter encontrado no local no dia anterior, não caracterizava uma presença constante.

Bebemos eu e meu amigo Luis Paulo,conversamos vários assuntos, mas sempre voltávamos ao ponto, será que ela vem? Algum tempo depois ela chegou, sorrindo, fez um cumprimento festivo aos presentes e se encaminhou para trás do balcão, falou algo para a pessoa sentada no caixa, pegou dinheiro e saiu novamente passando mais uma vez bem próximo da mesa que estávamos com um alegre sorriso no rosto.

Ao voltar com o objeto que saiu para comprar, substituiu a moça no caixa, observou os presentes, aquela altura já sabíamos que a moça que foi embora era uma de suas irmãs. Não levou muito tempo para estarmos os três a conversar animadamente. Trocavamos olhares a todo momento, não demoramos a perceber que havia uma sintonia muito forte entre nós, que depois daquele dia muita coisa iria acontecer, a impressão que eu tinha é que já nos conhecíamos há muito tempo.

Por aquele encontro eu nem sei o quanto esperei, eu não sabia nada dela, onde morava, o que fazia, seu nome, e de repente por uma dessas coincidências que a vida nos proporciona, ali estava ela, da forma que eu havia sonhado, linda, olhos brilhantes, sorrindo, feliz.

Marcamos e nos encontramos; era a noite do ano novo, 1978 chegou acompanhado de uma chuva fina que molhava a calçada levemente, um vento soprava suavemente tornando fria a madrugada, eu a segurei na cintura instintivamente para protegê-la de uma poça d'água que se interpunha ao nosso caminho, a puxei para junto a mim e naquele momento nos beijamos pela primeira vez.

Durante todo o verão nos encontramos, Salvador nos meses que antecedem ao carnaval é repleto de festas, eventos de todo tipo, estávamos cada dia mais felizes, em cada beijo o desejo explodia, as carícias cada vez mais íntimas fazia todo o corpo queimar , era cada vez mais difícil controlar tudo aquilo a sós.

Os dias eram cada vez mas lindos, o amor transbordava em nossas vidas, infelizmente não o bastante para que fosse evitado o fim. Terminamos sem que disséssemos a palavra adeus.