CICATRIZ

Evidente que ele se distanciava. Razões, não dava nenhuma. A opção que ela tomou foi a de se enganar. A frieza devia se dar por algum problema no trabalho. Chovia bastante naquela noite em que ele entrou em casa, agindo como se ela não existisse. Perguntou-lhe por quê? O silêncio pareceu gritar. Encheu a mala e partiu.

Aguardou-o por uns meses antes de se enfiar no luto. A indiferença, mais que o abandono, era o que lhe feria a alma. Naquela época achara que iria morrer. De uns tempos para cá se pegou, aqui e ali, rindo de novo.

Na madrugada a ligação do hospital a acordou. Seu número estava na carteira e necessitavam comunicar sobre o acidente: ele estava muito mal e as chances eram quase nulas. Esforçou-se para dizer que não o conhecia, mas foi inútil. A cicatriz se abria de novo.