A Camponesa de Andaluzia

Amália Hidalgo. Era uma menina alegre, que cresceu nos campos da Andalucia. Sua família, de origens junto à nobreza espanhola de Sevilha. Tinha apenas um irmão mais velho e foi criada um tanto protegida. Educada conforme os rígidos padrões da época, para ser uma moça refinada, submissa e com virtudes tipicamente femininas, sem maiores ambições. Mas Amália, desde a mais tenra idade, apresentava um comportamento diferente de várias meninas da sua idade. A tudo questionava, muito curiosa e determinada a descobrir os vários "por quês" que lhe povoavam a mente pueril. Embora essa fosse a vontade de seus pais, ela não aceitava ser tratada como uma "pequeña" princesa, como lhe chamavam carinhosamente. Embora tivesse uma aparência muito delicada, Amália era uma garota corajosa e destemida, com ganas de embrenhar-se nos campos, andar à cavalo, subir nas diversas árvores frutíferas da propriedade em que viviam. Eram meados de 1863. A menina já contava doze anos de idade, mas não perdera ainda a ânsia das brincadeiras e não se preocupava tanto com a aparência, embora nem precisasse. Era naturalmente bonita. Amália tinha olhos castanhos, rajados, grandes e expressivos, que tudo revelavam com intensidade. Eram realmente como o espelho de sua alma. Os longos cabelos, castanhos e ondulados, lhe emolduravam o rosto de traços quase perfeitamente simétricos. Ela sabia ser dócil e ao mesmo tempo teimosa, às vezes bem ácida e turrona. Mas tinha um bom coração. Talvez seu maior defeito fosse não se encaixar na família. Cresceu sedenta de conhecer mais de perto a cultura cigana, que sempre admirou. Amália não se imaginava tendo a vida que seus pais planejavam para ela. Queria, ela própria, planejar seu destino. Sonhava em viajar pelo mundo, estudar em outro país, conhecer novas culturas, dançar. Ah! Como ela apreciava a música e a dança, chegava a chorar de emoção ao ver as dançarinas ciganas rodopiando, ao som das castanholas e das guitarras. Sua alma guitana vibrava feliz e sua mente viajava, sonhando. Ainda era muito jovem e inexperiente para saber quão amargo seria lutar pelos seus doces sonhos...

(Continua)