SALIVARES Parte 1

Sentia-se em serenidade frente a sua mais nova e aterradora paixão. Apesar de já ter provado varias, dos mais diversos gostos, cheiros, cores, maciez, suavidade, idade, aquela era diferente. Acreditava que o motivo não era apenas sua aparência singular, era até de tipo comum: branquinha, lisinha, macia e maleável. Tinha um cheiro neutro, isso não lhe marcou tanto, nem o sabor despertara tanto seus sentidos. Acreditava e era verdade que a conjuntura é que lhe fazia especial, seu meio, onde se encontrava e como ali se destacava.

Piso com cerâmicas portuguesas de cor marrom. As paredes eram todas de azulejos clássicos brancos, mas atrás dela e somente atrás dela, havia um conjunto de azulejos que formavam uma grande mandala azul. Aquilo dava ao ambiente onde a encontrou, um tom clássico, uma arquitetura de bom gosto e compromisso com o belo. Mas ela, sua amada, era simplória, não deveria estar ali. Divergia completamente daquele meio. Todavia, era isso que lhe intrigava. Se ela fosse mais sofisticada com certeza não lhe chamaria atenção. A paixão despertou com a discrepância dela e do seu meio. Apaixonou-se ao primeiro olhar, no momento brevíssimo depois de ter girado a maçaneta e aberto a porta do banheiro. Aquela tampa de privada deveria ser sua mais nova amante.

Não lembra bem onde e quando começou a manifestar sua curiosa atração por tampas de privada. Sabia que tinha pouca idade, ainda na pré-adolescência. Nunca contara para seus pais, nem nos dias atuais. Quando criança isso lhe fazia sofrer bastante, o medo, o não entendimento de si, o bullying na escola. E foi na escola onde tudo começou. suas primeiras paixonites e verdadeiras atrações. No período colegial, pouco frequentou os banheiros dos alunos, sentia-se desconfortável estar ali. Achava que violava a intimidade das privadas, todas elas tão expostas, qualquer um as usaria, não havia privacidade e aqueles cubículos onde eram instaladas eram pequenos demais, as faziam sofrer.

Sua primeira paixão, apesar das controvérsias, foi na escola. Estava prestes a concluir o ensino fundamental e partir para outra escola, em outro bairro. Mas antes disso acontecer precisava sim beija-la, senti-la em sua boca, isso era normal para adolescentes de sua idade. O tão sonhado e esperado primeiro beijo. Já havia treinado em casa, no banheiro da dispensa, não era o mais limpo, mas era o mais afastado e quieto, podia praticar sem incomodo dos pais e irmãos. Foi lá que aprendeu como tratar uma tampa de privada, como segurar, acariciar, ir beijando aos poucos, depois lamber por cima, por baixo e deixa-la, ao final, toda molhada. Mas sabia que aquilo não contava, estava em casa, era o mesmo de outra pessoa beijar um primo, e beijo entre primos não conta.

Decidiu tomar coragem.

Como não frequentava o banheiro comum dos alunos, pedia para usar o banheiro dos professores, a desculpa era que não conseguia fazer nada se soubesse que outros estariam lá. Isso foi tratado como coisa normal de estudante e então permitiam que usasse o banheiro dos professores. Aquele banheiro era espaçoso e rústico. Cerâmicas pretas e parede pintada de branco gelo. O vaso em si era aparentemente velho, a tampa, parte que mais lhe excitava, era preta, verdadeiramente macia, chegava a ser fofa. Como já conhecia aquele banheiro desde muito tempo, não perdeu tempo em aprecia-lo mais.

Em um rápido,

Porem tímido ato de coragem,

Adentrou rapidamente

Para a parte que ficava a privada,

Ajoelhou-se em sua frente,

Segurou firme a tampa com as duas mãos

E começou a mordê-la ferozmente com paixão.

Entre mordidas e apertos fungava de prazer, sua puberdade até então inativa, tomava forma e se manifestava. Segurava a base do vaso, enquanto lambia a parte inferior da tampa, descia e subia com a língua às vezes rápido, às vezes devagar toda a circularidade da tampa. Abriu o zíper e desceu um pouco o jeans, mas, o que faria? No ápice de sua excitação a privada parecia lhe devolver o afeto, imaginava que ela seria sua primeira e melhor amante, sua experiência contava, estava naquela escola há vários anos. Todos que a usava eram mais velhos, sentiu-se especial neste sentido “o único aluno que usava o banheiro dos professores”. Com isso em mente seus atos ferozes e apaixonados tornaram-se doces e calmos. Sentou-se de conchinha com o vaso, reclinou a cabeça suavemente sobre a tampa, começou a acariciar de levinho com as pontas dos dedos e beijar suavemente sua superfície.

A MAÇANETA ENTÃO GIROU

UM COLEGUINHA PELA PORTA ENTROU

FOI ALI BUSCAR PAPEL

E ENCONTROU A COLEGUINHA

COM UMA PRIVADA EM LUA DE MEL

O menino que ali chegara era da mesma turma que a sua, costumava sentar atrás de si e então e passava as aulas atirando papel em sua cabeça, puxando seu cabelo. Era um valentão. Assim que o menino vira aquela cena; uma criança sentada ao lado do vaso sanitário e beijando sua tampa, esqueceu instantaneamente que precisava fazer necessidades e voltou correndo para o pátio da escola berrado que B estava beijado a privada. Logo começou juntar os outros meninos para contar tudo e começar uma algazarra.

B saiu do banheiro devagar, em direção ao pátio, seu coração estava acelerado, seu estômago embrulhado e sua mente triste. Logo foi feito uma rodinha ao seu redor e começaram os xingamentos e rimas de versinhos.

- Ô Ô Ô BEIJO DE CÔCÔ!

- B B B A PRIVADA AMA VOCÊ

- ÃO ÃO ÃO BOCA DE ESFREGÃO

Entre tantas musiquinhas e xingamentos, B sentiu-se mau e desmaiou no pátio.

Ao acordar, percebeu que estava na sala do diretor, em uma poltrona. Suava frio.

Ao perguntarem o que fazia no banheiro e sobre o que os outros alunos diziam a respeito, respondia que foi um mal entendido, disse que apenas usava o banheiro dos professores e eles já sabiam, disse que passou mal e sentou ao lado do vaso para vomitar, disse que aquele menino inventou aquilo por que já havia implicação de sua parte há muito tempo. O diretor fez algumas anotações e permitiu sua saída. Os professores não acharam resquícios de vômito no vaso.

Nunca mais tocaram no assunto.

Já o bullyng continuou até o fim das aulas.

Sebastião Monte Moreno
Enviado por Sebastião Monte Moreno em 27/04/2017
Código do texto: T5982673
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